Macho albino foi filmado com uma fêmea de coloração normal e comportamento pode indicar reprodução
No Dia Mundial da Anta (Tapirus terrestris), 27 de abril, o registro de casal de antas, formado por um macho albino e uma fêmea de coloração normal, no Legado das Águas, maior reserva privada de Mata Atlântica do país, é motivo para comemorar, pois é indício de que o animal albino está tendo qualidade de vida e conseguindo se reproduzir. O registro é fruto da parceria do Legado das Águas com o Onçafari – projeto dedicado ao estudo e conservação da vida selvagem – para monitoramento de fauna.
De acordo com Mariana Landis, bióloga pesquisadora do Instituto Manacá, responsável pelo estudo com as antas no Legado das Águas, o registro tem dois pontos importantes: o primeiro é que o Canjica não está sendo rejeitado pelas fêmeas, e outro é a sua aparência saudável.
“É importante ponderar que ciência ainda não tem todas as respostas quando se trata de antas albinas. Isso porque a descoberta é recente, sendo necessários muitos estudos. Mas, podemos sugerir algumas interpretações com base no conhecimento que já temos da espécie. É possível dizer que o registro sugere que o macho albino está desempenhando seu comportamento como qualquer outra anta, buscando formar um par reprodutivo. Além disso, o Canjica aparenta que está saudável, o que é importante a ser monitorado, já que animais albinos costumam ser mais sensíveis”, contou.
Filhotes albinos?
Mariana explica que o registro do Canjica com a fêmea pode significar a formação de um casal, já que antas são animais solitários, e só se juntam no período reprodutivo. No entanto, a pesquisadora pondera que o albinismo é hereditário e recessivo. Isso significa que o macho e a fêmea precisam ter o gene que causa a falta de pigmentação para gerar um filhote albino.
E tem mais. O Canjica não foi o único que ‘‘deu match”. O Gasparzinho, outro macho albino identificado no Legado das Águas, também já foi registrado com uma fêmea¹ diversas vezes. O registro foi feito pelo projeto Floresta Viva, criação do fotógrafo Luciano Candisani, que consiste em um estúdio fotográfico camuflado na floresta e equipado com flashs e câmeras profissionais, que fotografam automaticamente o animal quando passa pelos sensores de movimento e, também, pela equipe do Instituto Manacá durante o monitoramento de sua pesquisa na reserva.
Monitoramento
O projeto de monitoramento em parceria com o Onçafari, inclui 20 câmeras instaladas nas áreas do Legado das Águas, fornecidas pela Log Nature, e faz parte do Onçafari Science, braço científico da instituição que tem como objetivo a observação do comportamento de animais, avaliando seu estado de saúde e desenvolvendo pesquisas ecológicas.
De acordo com Victória Pinheiro, bióloga responsável pelo Onçafari no Legado das Águas, o projeto visa realizar o levantamento populacional de onças-pardas e pintadas na Reserva para ações de proteção desses felinos na Mata Atlântica, incluindo atividades de ecoturismo como ferramenta para a conservação. Em adicional, o projeto tem gerado registros significativos de outros animais.
“As câmeras, que estão instaladas em diferentes pontos da Reserva, geram um mapeamento mais abrangente que é importante para o nosso objetivo principal, pois onças dependem de uma floresta saudável, com disponibilidade de alimento. Por outro lado, o monitoramento contínuo também gera dados que podem contribuir com uma maior compreensão de outras espécies, como a anta“, diz a bióloga.
Para David Canassa, diretor da Reservas Votorantim, a parceria com o Onçafari está fortalecendo os dados de outros estudos realizados na Reserva.
“Desde 2014, realizamos pesquisas científicas com diferentes parceiros, que resultaram em descobertas muito relevantes para a conservação da Mata Atlântica. Os projetos com o Instituto Manacá e o fotógrafo Luciano Candisani são um ótimo exemplo, com a descoberta das antas albinas. Agora, com monitoramento contínuo pelo projeto com o Onçafari, ampliamos as possibilidades e oportunidades de novas descobertas, seja por dados que se sobrepõe ou os que complementam com novas informações”, finaliza.
¹ O registro em fotografia do Gasparzinho, assim como a descoberta das duas antas albinas, foi descrito em artigo científico, disponível em: https://bit.ly/3i46Mlq.
Sobre o Legado das Águas – Reserva Votorantim
O Legado das Águas, maior reserva privada de Mata Atlântica do país, com extensão aproximada à cidade de Curitiba (PR), é um dos ativos ambientais da Votorantim. Localizada na região do Vale do Ribeira, no sul do Estado de São Paulo, a área foi adquirida a partir da década de 1940 e conservada desde então pela Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), que manteve sua floresta e rica biodiversidade local com o objetivo de contribuir para a manutenção da bacia hídrica do Rio Juquiá, onde a companhia possui sete usinas hidrelétricas. Em 2012, o Legado das Águas foi transformado em um polo de pesquisas científicas, estudos acadêmicos e desenvolvimento de projetos de valorização da biodiversidade, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo. Hoje, o Legado das Águas é administrado pela empresa Reservas Votorantim, criada para estabelecer um novo modelo de área protegida privada, cujas atividades geram benefícios sociais, ambientais e econômicos de maneira sustentável.
Sobre o Onçafari
O Onçafari atua no Pantanal, Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica com o objetivo de promover a conservação do meio ambiente e contribuir com o desenvolvimento socioeconômico das regiões em que está inserido por meio do ecoturismo e de estudos científicos. O projeto é focado na preservação da biodiversidade em diversos biomas brasileiros, com ênfase em onças-pintadas e lobos-guarás.
Crédito:
Imprensa | Onçafari