Pos trás das águas límpidas e transparentes de Veneza há a “abstinência da turistificação”, que nos leva à uma reflexão mais profunda

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Por Simone Horvatin, idealizadora dos canais Ambiental Mercantil. Foto: Pixibay

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Há muito mais por trás das águas límpidas e transparentes de Veneza, neste momento de pandemia. O período de “abstinência da turistificação”, imposto pelo COVID19, pode nos levar à uma reflexão mais profunda.

Por causa do COVID-19, a humanidade forçadamente deu espaço a quietude e ao silêncio. Vai ser um período duro para nós humanos, pois além das consequências na economia global onde estamos todos no mesmo pote, alguns de nós estão sendo obrigados a se confrontar com a própria “vaidade”. A quarentena para essas pessoas deve estar sendo muito mais difícil. Entretanto, a mãe-natureza é única e perfeita, agradecendo este momento de “paz na terra”. Podemos perceber nosso ar mais limpo, nossas águas mais transparentes, mais pássaros e animais livres se “aproveitando” deste momento único.

Nas redes sociais, a todo momento, há postagens sobre “as águas límpidas de Veneza durante este período de COVID019”. Mas há muito mais por trás das águas límpidas de Veneza, onde populações e meio-ambiente estavam sendo sufocados pela turistificação, termo adotado para definir o turismo de massa. No mundo, existem muitos outros destinos como Veneza, que sofrem.

De acordo com a matéria da DW “Os efeitos perversos do turismo de massa”, estima-se que em 1995 o número de turistas viajando pelo mundo era de 531 milhões, em 2017 esse número atingiu a marca de 1,3 bilhão, e havia uma prognose (digo isso, pois foi antes do COVID-19), que esse número poderia dobrar até 2030.

Nos tempos que estávamos vivendo, o avanço de ofertas do setor turístico onde tudo pode ser all inclusive, a facilidade de voos disponíveis e baratos, a existência de plataformas de estadias como airbnb, TRIVAGO e outras contribuiram muito para a turistificação.

VIAJAR É BOM E FAZ BEM… MAS QUAIS AS RAZÕES DO PORQUÊ VIAJAMOS HOJE?

Viajar é e sempre foi um modo de status na humanidade. Com as tecnologias, redes sociais, virou uma “promoção” de si mesmo como “conquistador dos sete mares”, mesmo que isso implique em prejuízos sócio-ambientais.

Se refletirmos, aqueles que foram os grandes viajantes desbravadores, os “primeiros turistas” a ancorar em outros mundos, entraram numa caravela ao mar à deriva, sem saber para onde estavam indo, onde iriam chegar e se iriam sobreviver durante este “cruzeiro” as duras penas! Pensando assim, se compararmos aqueles “desbravadores de novos mundos” com o “turismo descartável” moderno, podemos dizer que selfies são anedotas contemporâneas!

O TURISMO DE MASSA E SUSTENTABILIDADE

Há muito tempo se discute sobre o turismo de massa. Principalmente pelas prefeituras das cidades diretamente atingidas, onde estes turistas já incomodam seus moradores há muito tempo. As populações nativas destes “destinos tão desejados” sofrem com a falta de moradias acessíveis (pois os proprietários de imóveis lucram mais alugar para os turistas – a lei de mercado de oferta e procura que rege qualquer lugar do mundo). A maioria dos residentes mais pobres são forçados a se mudarem para bairros ou outros municípios afastados da cidade (gentrificação), tornando a cidade mais homogênea e perdendo sua autenticidade (os habitantes representam a cultura do local).

Há destinos onde os nativos já sofrem com a escassez de água, e só piora com a alta do turismo. De acordo com o pesquisador de turismo Jürgen Schmude da LMU (Universidade Ludwig Maximilian de Munique), o turismo de massa contribui com 5% das emissões globais, principalmente com o uso de aviões, contribuindo consequentemente com o aquecimento global. Para o pesquisador, o turismo de cruzeiros também está longe de ser sustentável.

OS DESAFIOS DE GOVERNOS E EMPRESAS DO SETOR DE TURISMO

Cada vez mais, está claro que alguns destinos turísticos não suportam de forma sustentável a invasão de um grande número de turistas. É justamente “a propaganda” dos turistas que já foram e suas postagens nas redes sociais que faz aumentar o desejo dos que ainda não foram, e planejam ir. Os habitantes nativos destes destinos turísticos são as vítimas desta ciranda-do-inferno da turistificação, que tem o número de turistas batendo recorde a cada novo ano.

A grande disparidade é que esse mesmo turismo que destroí o meio-ambiente, aumenta a emissão de gases, explora os recursos naturais locais de forma exponencial, prejudica os residentes nativos por criar dificuldades em encontrar moradias a preços acessíveis; esse mesmo turismo traz receita significativa à população e seus respectivos governos. Um dos maiores desafios a nossa frente: abrir mão de receitas e lucros predadores, em respeito as pessoas e ao meio-ambiente.

PARA REFLEXÃO

Talvez você quem lê este artigo, seja um habitante de uma cidade que sofra com a turistificação, e saiba com propriedade o que isso significa na pele. Mas e você, que não vive numa cidade assim, poderia imaginar?

Se fosse você uma pessoa que tivesse nascido, crescido e passasse toda a sua vida em Veneza? Como um cidadão veneziano, você gostaria de ter sua cidade invadida por mais de 25 milhões de turistas todos os anos?

Até que ponto vai valer a pena esse turismo de massa, esses navios assustadores de cruzeiros que carregam milhares de pessoas e ancoram “uma cidade dentro da outra” para fazer um turismo descartável? “Estes turistas” não estão fazendo intercâmbio cultural, são “predadores” de vidas e famílias por selfies, levando ao esgotamento recursos naturais vitais dos habitantes nativos, como água potável, por exemplo; e ainda interferindo no mercado imobiliário local.

COMO SEREMOS COMO TURISTAS PÓS COVID-19?

Talvez as águas limpidas e transparentes de Veneza possam nos transformar em seres mais conscientes e menos vaidosos por selfies. Veneza é um exemplo claro, do quanto devemos rever nossos valores como seres humanos.

Esta pandemia freou o mundo, e nos fez lembrar que dinheiro não compra e nunca comprou saúde. A essência humana precisa de muito pouco para sobreviver e viver com qualidade. Um tripé fundamental: ter saúde, um trabalho e uma moradia. Todo o resto é luxo e excesso, tudo aquilo que não nos faz falta. Podemos redirecionar nossas vidas pós pademia: baseando-nos naquele ditado de que “menos é mais”. Que possamos enxergar novos valores às mesmas coisas de antes, para nos transformar em seres humanos melhores. Buscar na simplicidade, um mundo melhor para todos.

Pelo turismo consciente, sustentável e responsável.

Simone Horvatin é a idealizadora dos canais integrados AMBIENTAL MERCANTIL. Reside há 20 anos na cidade de Munique, Alemanha e trabalha para promover tecnologias ambientais e soluções sustentáveis entre Alemanha e Brasil. 

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