Saneamento, de bem com a vida #2: “O custo das Outorgas Onerosas”

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Álvaro Costa é engenheiro civil e consultor. Escreve como Colunista do editorial AMBIENTAL MERCANTIL ÁGUAS E SANEAMENTO
Álvaro Costa é engenheiro civil e consultor. Escreve como Colunista do editorial AMBIENTAL MERCANTIL ÁGUAS E SANEAMENTO

Imagem: Divulgação #2 |  Álvaro José Menezes da Costa é Engenheiro Civil, MSc em Recursos Hídricos e Saneamento, CP3P. Sua coluna “Saneamento, de bem com a vida” aborda temas atuais e de importância para o setor de Águas e Saneamento, contribuindo com visão crítica e experiência profissional para nosso editorial AMBIENTAL MERCANTIL ÁGUAS E SANEAMENTO

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Fevereiro de 2023 – Valor das outorgas onerosas ainda mantêm o equilíbrio financeiro dos contratos? Em recente artigo publicado no Estadão, o Professor André Lucirton Costa e o Consultor José Everaldo Vanzo, abordaram a questão das outorgas onerosas obviamente com os argumentos que suas experiências, competências e entendimentos fundamentam.

Discordâncias à parte sobre um ponto ou outro, algo merece ser destacado com ênfase: as outorgas onerosas, objeto de espetaculosas comemorações de alguns gestores públicos, carece de comprovação de sua viabilidade a curto prazo, até para que se atenda que “apetite voraz do mercado” foi este que resultou no pagamento de valores de mais de 400 vezes a outorga mínima, como no Bloco B de Alagoas.

Em nosso entendimento, respeitadas as opiniões contrárias, o problema não é ter outorga como fator quase único para escolha dos novos operadores privados, alguns sem nenhuma qualificação pretérita, mas o que aconteceu em Alagoas e no Amapá criou entre os Prefeitos do Brasil a sensação de que nas tubulações de água de suas cidades também “corre” petróleo.

Os seus ativos de água e os poucos de esgoto existentes, depois desses eventos passaram a despertar a sensação de posse de um tesouro desconhecido e , até então, desprezado.

Uma das curiosidades que os resultados dos leilões para concessões em serviços de saneamento têm gerado, é porque os estudos apresentados não trouxeram como resultado a viabilidade esperada com expectativa realista de TIR e outorga, para reduzir os riscos e incertezas de outorgas pagas, cujo resultado para o equilíbrio do contrato é desconhecido?

A interpretação de que o “apetite do mercado” gerou as outorgas milionárias e bilionárias pagas, pode ser uma arriscada projeção meramente economicista, sem comprovação financeira de que tal “apetite” mantém o contrato viável. Afinal, o critério de julgamento é simples: maior outorga a ser paga no primeiro ano do contrato sem nenhuma due diligence da proposta e, quiçá, do contrato.

Parece que a regra é definir investimentos, principalmente bilionários e relegar ao futuro a avaliação da qualidade de gestão e, principalmente da garantia da modicidade tarifária.

Certamente o modelo alagoano por ter entrado em operação primeiro, mereceria uma due diligence para que se entenda por que, no bloco B por exemplo, uma outorga mínima de R$ 3,227 milhões obteve como oferta vencedora o valor de R$1,215 bilhão, porém, a ALLONDA já saiu do contrato. No bloco A, uma outorga mínima de R$ 15,725 milhões levou a uma outorga paga de R$2,09 bilhões.

É claro que alguns podem afirmar que os contratados assumem os riscos de confiar ou não nos estudos referenciais, porém não seria conveniente pelo menos perguntar: se diagnósticos não mostraram a realidade?

Será que CAPEX e OPEX projetados pelos estudos basearam-se em parâmetros e diagnóstico tão diferente do que foi estimado nos estudos?

E as projeções de receita, adotaram premissas tão diversas e até conflitantes para gerar um impacto financeiro tão pesado como o decorrente das outorgas bilionárias?

É claro que há muita ineficiência nos serviços prestados por algumas companhias estaduais e serviços municipais e que operadoras privadas experientes e com capacidade financeira e gerencial comprovada, possuem meios de transformar a ineficiência em resultados positivos e sustentáveis.

Entretanto, quando se pagam outorgas cem, trezentas ou quatrocentas vezes maiores que as outorgas mínimas obtidas de estudos que duraram mais que um ano, pelo menos rever os números das partes envolvidas seria de bom alvitre.

Sem dúvida este tema é sensível e precisa ter alguma forma de checagem para atestação do equilíbrio financeiro do contrato com as outorgas milionárias e/ou bilionárias pagas.

É melhor antecipar o problema, não iniciando o contrato com riscos de descumprimento, que começar e ter que ajustar premissas, rever tarifas e metas por causa de outorgas cuja fundamentação técnica e econômica é insustentável.

Suspender ou rescindir contratos de concessão em serviços de saneamento é bem diferente de fazer tal procedimento em aeroportos ou rodovias com impactos relevantes sobre cidades inteiras.

A mensagem que as recentes concessões trazem não deve ser sobre a existência de uma apetite sem fim e voraz dos operadores privados pelos serviços de saneamento. Muito antes, a informação é objetiva para gestores públicos Federais, Estaduais e Municipais: sua responsabilidade aumentou muitos mais vezes que a multiplicação das outorgas mínimas e seus resultados “maravilhosos”.

Fiscalização e regulação competentes precisam ser a nova realidade.

As outorgas necessitam ser avaliadas e utilizadas de modo realista para que o mercado possa dar seu preço sem riscos para a sociedade, principalmente nos Estados onde a regulação ainda é fraca.

Sobre o Colunista

Álvaro José Menezes da Costa é Engenheiro Civil, MSc em Recursos Hídricos e Saneamento, CP3P. Especialista em Aproveitamento de Recursos Hídricos e Avaliação e Perícias de Engenharia; é autor de livro e capítulos de livros publicados sobre Gestão de Serviços e Reúso de Águas:

  • Em 1985, iniciou sua carreira no setor de saneamento como Engenheiro Civil na CASAL
    (Cia. de Saneamento de Alagoas);
  • Entre 1985/1998-2007/2014 trabalhando na CASAL, ocupou diferentes cargos: foi Superintendente, Diretor de Operações, Diretor Comercial, Vice-presidente de Gestão Operacional e Diretor Presidente. Neste período desenvolveu e coordenou estudos e implantação de PPPs, locação de ativos e contrato de performance para redução de perdas.
  • Entre 1999/2006 atuou na COMPESA (Cia. Pernambucana de Saneamento) como Diretor Técnico, coordenando processo de privatização e gerenciando os sistemas de macro-operação de água, planejamento, controle de perdas e das barragens, qualidade da água, projetos e obras.
Foto: Álvaro José Menezes da Costa é Engenheiro Civil, MSc em Recursos Hídricos e Saneamento, CP3P

Em 2015 fundou a AMEC – Álvaro Menezes Engenharia e Consultoria, desenvolvendo estudos de modelagem para contratos de PPP, concessão, performance para redução de perdas, engenheiro independente, coordenador e instrutor em cursos de capacitação em regulação e PPP.

Desde 1985 é membro da ABES- Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, e desde 2008 atua como diretor nacional. O Eng. Álvaro Costa está no LinkedIN.

Site oficial: https://www.amecengenhariaeconsultoria.com.br

Álvaro Costa é colunista e colaborador do editorial AMBIENTAL MERCANTIL ÁGUAS E SANEAMENTO. Através da sua observação pessoal, escreve periodicamente sobre o que acontece nos setores de gestão de águas e efluentes, recursos hídricos e saneamento básico. Todas as publicações de sua coluna podem ser acessadas neste link exclusivo:

Informamos que os conteúdos publicados pelos nossos colunistas são observações e opiniões independentes que expressam suas reflexões e experiências, sendo de responsabilidade dos mesmos; não refletindo, necessariamente, a opinião da redação do nosso editorial.

Crédito:
AMBIENTAL MERCANTIL ÁGUAS E SANEAMENTO | Por Álvaro Costa, colunista e colaborador

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