Alfredo Sirkis, um legítimo ‘descarbonário’ e um dos maiores ambientalistas do Brasil, morre em acidente de carro

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Foto: Alfredo Sirkis por Márcio Lázaro

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O mundo ambiental está de luto. Um acidente ocorrido no último dia (10) pôs fim à carreira do escritor e ambientalista Alfredo Sirkis, 69. Ele estava sozinho e dirigia até um sítio em Morro Azul, em Paulo de Frontin (RJ) para visitar a mãe, quando o carro saiu da pista, bateu em um poste e capotou. Sirkis fazia o trajeto com frequência. Ele morreu na hora.

†ALFREDO SIRKIS POR ELE MESMO

“…Digo que sou um descarbonário porque me dedico, hoje, a um tipo de ação política destinada a reduzir a emissão de dióxido de carbono (CO2) e outros gases causadores do efeito estufa na atmosfera terrestre – ou seja, descarbonizá-la para tentar conter a progressão das mudanças climáticas aquém de patamares apocalípticos.  Ser descarbonário não é, portanto, o oposto de ter sido carbonário há cinquenta anos. Simplesmente pertence a uma outra galáxia, outro universo, não sei muito bem se paralelo ou perpendicular. Trata-se de outro animal”, disse Sirkis em uma das suas últimas entrevistas.

Seu último livro, “Descarbonário”, foi lançado em São Paulo e no Sul do Brasil por meio de uma live no dia 2 de julho. A obra trata de sua militância pelo ambientalismo.

VÍDEO DA ÚLTIMA “LIVE” DE ALFREDO SIRKIS
SOBRE O LIVRO DESCARBONÁRIO

Nascido em 1950 no Rio de Janeiro, Sirkis ingressou cedo nos movimentos políticos. Em 1967, iniciou as atividades no grêmio do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CAp-UFRJ), tradicional instituição de ensino. No ano seguinte, participou das manifestações contra a ditadura militar.

Juntou-se ao grupo armado de extrema-esquerda Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) mas decidiu abandoná-lo em 1971. Seguiu para o exílio e morou na França, no Chile, na Argentina e em Portugal. Com a promulgação da Lei da Anistia, voltou ao Brasil em 1979. Foi um dos fundadores do Partido Verde (PV) e tornou-se figura importante nas questões ambientais. Em 1988 foi eleito vereador pelo Rio de Janeiro, obtendo o maior número de votos.

Criou a Lei de Sinalização Ecológica do Rio de Janeiro. Sancionada em 5 de setembro de 1989, a Lei 1428 determina a sinalização em unidades de conservação do município como áreas de Proteção Ambiental, reservas ecológicas, parques, florestas ou vegetações de preservação permanente e estações ecológicas.

Atendendo a uma reivindicação da Associação de Moradores e Amigos da Freguesia de Jacarepaguá (AMAF), Sirkis foi o autor da lei que tombou o Bosque da Freguesia, o qual foi declarado Área de Preservação Ambiental (APA).

“Além de seu trabalho na Câmara de Vereadores, Sirkis sempre esteve presente nas manifestações de mobilização da população e da imprensa, para convencimento das autoridades da causa do Bosque da Freguesia. Hoje, em meio ao caos ambiental, mais do que nunca sentimos a perda de bravos lutadores da causa como Alfredo Sirkis”, diz a nota publicada no site da AMAF.

Sirkis foi o primeiro secretário de Meio Ambiente do Rio de Janeiro (1996). Nesta época, ele reflorestou 660 hectares em 47 comunidades da capital fluminense. Em 1998 concorreu à Presidência da República pelo PV. Foi o coordenador Executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC) entre outubro de 2016 e maio de 2019.

Legado

As manifestações pela morte de Alfredo Sirkis foram imediatas.

“O Brasil perdeu hoje um dos seus maiores ambientalistas. E eu perdi um amigo. (…) Alfredo Sirkis vai fazer muita falta. Mas deixou um legado glorioso e inspirador. Eu, particularmente, sou muito grato a tudo que ele nos ensinou por atitude, de forma muito aguerrida, muito corajosa. Foi ambientalista quando ninguém estava preocupado com isso. Abriu caminho para todos nós que viemos depois. Nossa gratidão, Sirkis. Onde você estiver”, disse em um vídeo o jornalista André Trigueiro.

Foto Alfredo Sirkis – crédito Lu Rocha/Semas PE

“Perdi um amigo-irmão. Foram quase 40 anos de ativismo ecopolítico juntos, desde a fundação do Partido Verde nos anos 80 até os projetos que estávamos desenvolvendo em vários estados nos últimos dois anos, no Centro Brasil no Clima, que ele fundou. No seu último livro, ‘Descarbonário’, lançado há uma semana, Sirkis resume esse período e destaca suas relações com Pernambuco. Será sempre uma inspiração de coragem e compromisso com a democracia e o meio ambiente”, declarou em nota o ex-secretário de Meio Ambiente de Pernambuco, Sérgio Xavier.

Jornalista e gestor ambiental, Alfredo Sirkis participou recentemente do programa Amigos, Sons e Palavras, no qual o cantor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil lhe dedicou a música “Terra 90”.

A Terra também respira/Pode faltar-lhe um pulmão/De repente o tempo vira/Partindo-lhe o coração, diz um trecho da composição.

Numa entrevista publicada no portal www.vitruvius.com.br, Sirkis definiu a palavra sustentabilidade.

“Basicamente a ideia da sustentabilidade é não só a tentativa de conciliar a preservação ambiental com a atividade econômica e os assentamentos humanos, como, eventualmente, até tentar conjuminar essas duas coisas na forma de um círculo virtuoso. Uma das coisas claras na relação entre o espaço construído e o meio ambiente ou ambiente natural é que não são duas coisas completamente diferentes. Na verdade, o espaço construído se assenta sobre o berço do ambiente natural, subtraindo dele uma série de elementos, que são utilizados no processo de construção, e estabelecendo um tipo de relação entre os dois que pode se dar para o bem ou para o mal”.

Foto Alfredo Sirkis – crédito Michele Castilho

Como secretário de Urbanismo no Rio de Janeiro, Alfredo Sirkis lutou muito pela implementação das ciclovias nos projetos Rio Orla. O primeiro dos Mandamentos do Planejamento Cicloviário do ambientalista, que também usava a bicicleta como meio de transporte, é “Pedalarás sempre”. A primeira “bicicleata” que se tem notícia no Brasil foi organizada por Sirkis. As informações foram publicadas no site www.transporteativo.org.br.

A Ciclovia do Leblon teve seu nome alterado para Ciclovia Alfredo Sirkis por meio do decreto 47.599, assinado pelo prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, e publicado no Diário Oficial do Município no dia 13 de julho.

Segundo o portal www.extra.globo.com, Sirkis pedalou na Zona Portuária do Rio de Janeiro poucos dias antes de seu trágico desaparecimento.

“Devidamente preparado, fui passear de bicicleta na área portuária cuja revitalização iniciei”, escreveu o ambientalista. Ele usava um gorro e uma máscara improvisada, feita de uma camiseta branca.

A cerimônia de despedida de Alfredo Sirkis contou com a presença de amigos e familiares. O caixão do ambientalista foi coberto por uma bandeira do Brasil. Na segunda-feira (13), seu corpo foi cremado. As informações são do portal www.g1.globo.com.

No dia 8 de dezembro, Alfredo Sirkis completaria 70 anos. Ele era casado com a editora Ana Borelli e tinha três filhos.

Crédito:
Ângela Schreiber
Canal Ambiental Mercantil
angela.usa.brasa@hotmail.com

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