A EMBALAGEM NOSSA DE TODO DIA

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Por Elaine Graziela, colaboradora da Ambiental Mercantil
Engenharia de Segurança do Trabalho e Sustentabilidade | Especialista | Consultoria | Auditoria | Perita Judicial TRT5 – Imagem: Pixibay

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A embalagem exerce um papel fundamental no armazenamento, na preservação da qualidade dos produtos e na sua vida útil de modo a reduzir o desperdício de alimentos. Todavia, os resíduos de embalagens de alimentos geram uma enorme preocupação em relação às questões ambientais e de saúde. Isso porque o ritmo de produção e descarte irregular cresce de forma descontrolada junto ao crescimento demográfico, principalmente nos países em desenvolvimento.

A embalagem está voltada para a conveniência e necessidade do consumidor. Segundo Luciana Pellegrino da Associação Brasileira de Embalagem (ABRE), no ano de 2018, a embalagem é um meio para as pessoas terem acesso a produtos que são demandados pela sociedade para a saúde, o bem-estar, para conveniência ou mesmo para a sua sobrevivência. Pois bem, existem os quatro tipos de materiais: alumínio, papelão, vidro e plástico.

Dados da Associação Brasileira de Embalagem (ABRE) mostram que no ano de 2018 a fabricação de embalagens plásticas correspondeu a 41% do total, seguido por papel/cartão/papelão com 33%, metálicas com 17%, vidro com 4%, têxteis com 3% e madeira com 2%.

A maior parte das embalagens são de plástico flexível, seguidas por embalagens de plástico rígido e cartonada asséptica, conforme se pode visualizar na Figura 01. Em sequência, lata de metal e de vidro.

Não resta dúvida, que dentre as aplicações do material plástico o setor de alimentos é o que mais consome com 20,2%, conforme a Abiplast (2016). Dentre as vantagens do plástico convencional, pode-se destacar sua maleabilidade, durabilidade e leveza, de modo que confere economia na logística, na redução de energia e de carbono emitido para a atmosfera. Mas, que por outro lado apresentam desvantagens quanto o seu descarte pós-consumo ou retornáveis.

Os fatores técnicos e a viabilidade econômica definem a escolha do tipo de embalagem. De um modo geral, as embalagens de alimentos são compostas por materiais de poliolefinas, polietileno e politereftalato de etileno (PET). Entretanto, o descarte de forma irregular, um sistema de reciclagem pontual, o tempo de decomposição e o tipo de materiais presentes na composição contribuem para o acúmulo nos oceanos, nas cidades, nos aterros sanitários e nas mudanças climáticas.

Segundo pesquisa, que foi realizada pela Tetra Pak Index (2019), o consumidor mostra que os aspectos mais valorizados são: a presença de ingredientes naturais no alimento ou bebida (importante para 54%); possibilidade de direcionar a embalagem para reciclagem (importante para 40%) ou reutilizá-la (importante para 37%); presença de ingredientes de origem orgânica no produto (importante para 36%); ausência de aditivos (importante para 36%).

Diante deste cenário, quais são as alternativas para reduzir tais impactos pelas indústrias de alimentos? 

1. Embalagem e Reciclagem

As embalagens de alimentos possuem diversas formas, tamanhos e tipos de materiais que seguem diversas resoluções da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) pelos seus fabricantes. Além disso, deve contemplar informações as quais indicam se a embalagem é reciclável ou não, composição e forma de descarte.

No Brasil as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR 14.021 e NBR 13.230 padronizam a identificação de materiais como alumínio, aço, vidro, papel reciclado, papel reciclável, tipos de plásticos e sua aplicação correta no processo de reciclagem.

A rotulagem ambiental estabelece um processo de comunicação junto ao mercado consumidor, que tem por objetivo auxiliar a prática da reciclagem e educação ambiental. Os tipos são classificados de acordo com as Figura 02 e Figura 03, abaixo:

De fato a padronização de simbologia visa facilitar o entendimento entre a relação da embalagem e sustentabilidade. Muito embora alguns pontos sejam considerados relevantes pelo consumidor para o exercício:

  1. Ausência de instruções quanto à limpeza que em certos plásticos ocorre à contaminação, que torna a reciclagem complexa.
  2. Informações dispersas e de tamanhos reduzidos.
  3. Apenas uma parte da embalagem ser reciclável.
  4. Ausência de locais ou pontos de coleta nas cidades.
  5. Ausência de incentivos pelas empresas e governo ao processo de reciclagem.

Segundo, a pesquisa realizada pela INCPEN & WRAP (2019) no Reino Unido, os consumidores querem que todas as embalagens de alimentos sejam 100% recicláveis, além de serem biodegradáveis, compostáveis e com rotulagem clara e definitiva. E, ainda, que as informações nas embalagens sejam de tamanho grande e de cor preta, além da descrição “Recicle-me, por favor!”.

Encontrar uma solução viável é o desafio das empresas de alimentos e bebidas. Neste caso, buscar entender claramente o ciclo de vida do produto e da embalagem desde a sua concepção, fabricação, consumo, descarte e reciclagem tem se tornado primordial.

Desse modo, é possível reformular a organização no modelo de economia circular. Segundo Steenmans (2019), a abordagem de economia circular procura reutilizar, reciclar ou recuperar todos os materiais utilizados no processo de varejo de alimentos para obter prosperidade econômica, meio ambiente proteção e equidade social.

Assim sendo, o gerenciamento de resíduos através da reciclagem das embalagens pós-consumo é uma das premissas da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) publicada em 2010. Para tanto, é preciso alinhar os aspectos legais e políticos, estratégias na cadeia de valor das empresas e o consumidor final.

Segundo dados obtidos pela Cempre (Compromisso Empresarial pela Reciclagem), no ano de 2018 cerca de 78% dos municípios não tinham sistema de coleta seletiva. Por conseguinte, dificulta o retorno das embalagens e a logística reversa propriamente dita. 

Os pilares da sustentabilidade de embalagens definidos pela Asyousow (2015), são: redução da fonte, conteúdo reciclado, reciclabilidade e uso de materiais e reforço da reciclagem de materiais. Mas, que depende do investimento no desenvolvimento de novas técnicas e tecnologias.

2. Inovações em Embalagens

O contexto global e a pressão dos consumidores frente à poluição do plástico é o maior desafio. Para tanto, algumas iniciativas foram realizadas visando reduzir a produção e o consumo de plásticos, a exemplo da redução do peso/espessura da embalagem, plásticos biodegradáveis, embalagens retornáveis e recicláveis.

A inovação e sustentabilidade vêm ocupando o cerne dos negócios das empresas de alimentos e bebidas. A Nestlé anunciou que 100% de suas embalagens serão recicláveis até 2025; a Coca-Cola testará garrafas de plástico 100% recicladas na Suécia; a Starbucks se comprometeu a eliminar o canudo até 2020; a Heinz em tornar 100% de suas embalagens recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis até 2025.

Uma ideia de destaque nos EUA é a pré-reciclagem de embalagem. A proposta tem por objetivo que o comprador pense na reciclagem das embalagens, enquanto está realizando compras. Para tanto, basta acessar o Earth911.com para localizar as opções de locais de reciclagem disponíveis na sua localidade. Isso promove a participação ativa do consumidor. 

No Brasil, em 2010, o pré-consumo iniciou no supermercado em Joaçaba em SC. A ideia é sugerida por funcionários treinados no caixa, que através da concordância do consumidor são retirados às embalagens dos produtos e acondicionados na caixa de reciclagem. Estes são encaminhados para uma empresa terceirizada.

Imagine realizar compras com desperdício zero. É o que promete a plataforma de compras, denominada de Loop, desenvolvida pela TerraCycle e empresas parceiras como Procter & Gamble, Nestlé e Coca-Cola, que visa ofertar produtos de marcas confiáveis em embalagens exclusivas, duráveis, reutilizáveis ou recicláveis.

A ideia é simples. Ao utilizar os produtos em embalagens reutilizáveis quando no término basta colocá-los para que a empresa realize o serviço de coleta domiciliar, lavagem e esterilização para que possa ser reabastecidos para o próximo cliente.

2.1 Ecodesign

Imagem: Linkedin

Em relação às embalagens de massas, a Dayna Baumeister (Biomimicry) enfatiza que são embaladas em uma caixa de papelão reciclável com uma janela de plástico não reciclável. Daí, se questiona o porquê de não aceitar uma foto da massa, como fazemos com cereais secos e nos livrarmos da janela?

Recentemente, a marca Barilla removeu as janelas frontais de plástico e suas embalagens passaram a ser de materiais à base de papel e fibras certificadas. Além, das instruções apresentadas para o descarte correto.

A marca Good Natured desenvolveu embalagens a base de 99% de plantas, sem BPA, ftalatos e outras. 

Imagem: Linkedin

A empresa Valio destaca-se por ser uma das primeiras empresas de alimentos a utilizar o plástico reciclado (95%) nos seus queijos. E, ainda, as embalagens de caixas são de 100% à base de plantas através de resíduos de cana-de açúcar.

2.2 Embalagens comestíveis

Os novos projetos visam transformar as embalagens de alimentos também em comestíveis. Conforme sinaliza a FAPESP (2011), ela pode ser ingerida sem causar dano à saúde porque não é metabolizada pelo organismo humano e sua passagem pelo trato gastrointestinal é inócua.

A Startup Oka Bioembalagens desenvolveu embalagem  100biodegradável e comestível a partir da fécula de mandioca e água. Tais como talheres, canudos e pratos.

Já a startup Skipping Rocks Lab criou bolas de gelos (Ooho) a partir de extratos de plantas e algas marrons que visa eliminar o uso de copos. Basta o consumidor morder a bola de gelos, que será libera alguns goles de água fria e em seguida, poderá engolir a membrana. 

Já pensou em degustar um iogurte congelado? Pois é, a proposta da WikiFoods é eliminar o uso de colheres ou invólucros de plásticos ,através da casca comestível feita de isomalte (açúcar) ou membrana biodegradável (tapioca) que conteriam diferentes alimentos em pequenas quantidades. Para tanto, bastaria o consumidor lavar a casca como qualquer fruta antes de comer ou em se tratando do filme (WikiCells) retirar e descartá-lo.

2.3 Embalagens Ativas e Inteligentes

Usos de pequenos sensores incorporados nas embalagens servirão para determinar quando os alimentos começam a estragarem. Dessa forma, evitará o desperdício e eliminação precoce da embalagem. 

A empresa MonoSol, LLC criou sacos solúveis em água usados para acondiciona aveia ou arroz pré-cozidos. Quando sometido ao cozimento o saco se dissolve e resta apenas a comida para ser consumida.

Embalagens comprimidas que se expande em uma tigela grande quando é adicionada água quente. Isso facilita na redução do número de pacotes e peso o que contribuem no armazenamento.

E o que pensar sobre água na caixa? O Boxed Water is Better é a solução mais ecológica quando comparada as garrafas de plásticos. Segundo a empresa, a disposição em forma de caixas facilita o transporte para envase regionais, que reduz a pegada de carbono, ao invés de usar 26 caminhões no transporte de garrafas plásticas, utiliza-se apenas um.

2.4 Embalagens Compostáveis

Sabe aquele saquinho de chá que colocamos na xícara? Esqueça! Os saquinhos do chá Celestial são compostáveis de fibra natural, em forma de travesseiro, de modo a não precisar de barbante, etiqueta ou invólucro individual.

Já as embalagens de barra de chocolate da Loving Earth, são feitas com Econic (filme compostável) derivado de polpa de madeira certificada pelo FSC e milho não transgênico. Além da tinta de impressão não tóxica à base de vegetais.

Percebe-se que existem diversas frentes com o intuito de reduzir a poluição das embalagens de alimentos no meio ambiente. No entanto, por envolver certas peculiaridades quanto ao seu desempenho, às soluções, ainda, não são definitivas, nem de longe.

Neste cenário, uma coisa é certa: surgem iniciativas importantes que nos dão esperança de desencadear a mudança de comportamento para a sociedade.

Seguem links de algumas das matérias relacionadas:

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/12/pesquisa-aponta-crescimento-de-cidades-com-coleta-seletiva.shtml

https://www.fastcompany.com/

https://www.recyclenow.com/what-to-do-with/packaging-food-1

https://www.recycling-magazine.com/2019/07/25/growth-expected-for-packing-waste-recycling/

https://goodnatured.ca/product-category/food-packaging/

https://www.abre.org.br/dados-do-setor/ano2019/

https://www.nsctotal.com.br/noticias/supermercado-aposta-na-reciclagem-pre-consumo-de-embalagens-em-joacaba

https://www.stonyfield.com/

https://www.science20.com/cool-links/no_more_plastic_frozen_yogurt_edible_shell-131609

https://boxedwaterisbetter.com/pages/betterplanet

http://www.celestialseasonings.com/

Elaine Graziela é
Engenheira de Segurança do Trabalho e Sustentabilidade | Especialista | Consultoria | Auditoria | Perita Judicial TRT5
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