
Imagem: Divulgação | Por Simone Horvatin, jornalista (MTB 0092611/SP) especializada nos setores ambientais e de energias, associada a BDFJ Bundesverband Deutscher Fachjournalisten e.V. (Federação de Jornalistas Técnicos da Alemanha).
- A relação entre fake news e greenwashing afetam diretamente democracia. A desinformação pode minar a confiança pública em instituições, enquanto o greenwashing desvia a atenção de ações genuínas para a crise climática.
Novembro de 2024 – Nos dias de hoje, reconhecer e combater fake news e greenwashing se tornou um grande desafio, pois a proliferação da informação se potencializa pelas redes sociais, com seu alcance ilimitado, tornam-se terreno fértil. Ambas caminham lado a lado, com igual importância no combate. Ambas são faces de uma mesma moeda: a desinformação. Ambas as táticas buscam manipular a opinião pública, influenciando comportamentos e escolhas. O greenwashing é uma tática ardilosa de pintar de “verde”, “sustentável”, “baixo carbono” o que não na verdade não é, ou é parcialmente. Em um mundo de urgência climática e sob pressão em reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o marketing greenwashing caminha com a mesma urgência em “resolver os problemas”, onde as organizações (públicas e privadas) tentam “surfar na onda”, para melhorar prioritariamente suas marcas e imagens públicas. Usando ferramentas de marketing criam e vendem um mundo “verde” de um “futuro próspero e sustentável”. Desmentir fake news e greenwashing é um desafio complexo. Somente através de uma abordagem multifacetada que envolva educação, tecnologias, colaboração de instituições e órgãos regulamentados, agindo na verificação constante de fatos é possível combater fake news e greenwashing.
A chave para combater fake news e greenwashing é desenvolver uma sociedade mais atenta, crítica e resiliente à desinformação.
As fakenews manipulam e podem por em risco a democracia, como também levar a apatia ou à negação crises como na saúde pública, como as crises ambientais, sendo que estas podem induzir cidadãos a apoiarem campanhas greenwashing de governos e indústrias, que apenas fingem se importar com as causas ambientais, mas por trás estão interesses puramente econômicos. Por isso é fundamental criar agências para monitorar o greenwashing e educar o público, tanto sobre o que constitui fake news como greenwashing e como identificar estas práticas de marketing, usadas por corporações e governos. Isso pode ajudar a criar uma pressão social para práticas verdadeiramente mais sustentáveis e transparentes. A ignorância é sempre o caminho mais fácil da oposição. Perante a urgência climática atual, não podemos brincar com o futuro, temos de ser fiéis e calcular a rota, pois não existe planeta B.
O greenwashing, originalmente associado a práticas empresariais, também se manifesta na esfera governamental e em políticas públicas. Este fenômeno ocorre quando governos promovem uma imagem de compromisso ambiental sem implementar mudanças substantivas ou adotar práticas verdadeiramente sustentáveis.
Reconhecendo e combatendo o greenwashing
Quem são os principais responsáveis pelo greenwashing?
A comunicação, ferramenta poderosa na construção de narrativas, é a porta de entrada para o greenwashing, tanto no universo corporativo quanto governamental.
A contratação de agências e profissionais de comunicação sem expertise em sustentabilidade agrava o problema. O resultado são campanhas publicitárias “verdes” que não passam de fachadas, relatórios de sustentabilidade repletos de jargões e pouca transparência, além de políticas públicas ineficazes e a proliferação de informações falsas nas redes sociais. As ferramentas de comunicação e marketing são usadas para manipular: com promessas vazias e imagens cuidadosamente elaboradas, indústrias e governos disfarçam seus impactos socioambientais e enganam a sociedade.
Um agravante adicional são os pseudo-profissionais de sustentabilidade, que, como camaleões, mudam de discurso conforme suas áreas de atuação. Esses indivíduos validam notícias e campanhas que não são verdadeiramente sustentáveis, muitas vezes em busca de interesses pessoais, como a venda de serviços de consultoria. Mas como identificar esses “pseudo-profissionais” que se apropriam do discurso da sustentabilidade para benefício próprio? Fique atento! Eles costumam discutir a temática de maneira altamente profissional, mas de forma superficial, utilizando a autopromoção como estratégia.
Como as instituições pela comunicação do país podem agir para aumentar o comprometimento com a ética, a democracia, a sustentabilidade e a preservação ambiental genuína?
Para combater o greenwashing na mídia, precisamos atuar na fonte. As instituições brasileiras de publicidade, comunicação e jornalismo desempenham um papel fundamental na criação de mecanismos para enfrentar fake news e greenwashing. Como entidades independentes, elas regulam normas e habilitam profissionais e suas agências, incluindo a Federação Nacional das Agências de Propaganda (Fenapro) e os Sindicatos das Agências de Propaganda (Sinapro), a Associação Brasileira de Agências de Publicidade (ABAP), a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e seus respectivos Sindicatos, entre outros.
O combate ao greenwashing é complexo, pois envolve não apenas a identificação de práticas enganosas, mas também a promoção de uma cultura de responsabilidades. A falta de regulamentação clara facilita a propagação de informações sem embasamento e substância. A implementação de mecanismos de monitoramento das práticas de greenwashing pode inibir a mentalidade de “tudo por dinheiro” de algumas agências de publicidade, assessorias de imprensa e profissionais de comunicação.
Para fortalecer essa cultura de responsabilidade e comprometimento com a ética, a democracia e a preservação ambiental, as instituições podem adotar as seguintes ações:
- Desenvolvimento de Diretrizes Éticas: Criar e promover códigos de ética que enfoquem a responsabilidade social e ambiental dos profissionais de comunicação.
- Capacitação e Formação: Oferecer treinamentos e workshops sobre fake news, greenwashing e comunicação sustentável para capacitar os profissionais a evitar práticas enganosas.
- Incentivo à Transparência: Estimular a divulgação de informações claras sobre as práticas ambientais de empresas e governos, promovendo a responsabilidade e a prestação de contas.
- Monitoramento e Regulação: Estabelecer mecanismos para identificar e sancionar práticas de greenwashing e desinformação.
- Promoção de Iniciativas Sustentáveis: Apoiar e divulgar projetos que realmente promovam a sustentabilidade e a preservação ambiental.
- Fomento ao Debate Público: Criar espaços para discussões sobre a ética na comunicação e o papel da mídia na formação da opinião pública.
- Parcerias e Colaborações: Colaborar com organizações da sociedade civil e acadêmicos para desenvolver iniciativas que fortaleçam o compromisso ético e ambiental.
- Reconhecimento de Boas Práticas: Criar prêmios ou certificações que reconheçam práticas éticas e sustentáveis na comunicação.
Além disso, cursos universitários de Publicidade, Propaganda, Relações Públicas e Jornalismo devem incluir na grade curricular a temática da responsabilidade ética e social, abordando questões como fake news, greenwashing, comunicação transparente, sustentabilidade, cidadania digital e o papel das mídias na formação da opinião pública. Essas disciplinas são essenciais para preparar profissionais conscientes e comprometidos com a verdade e a integridade.
Outra estratégia é criar campanhas para educar o público sobre a importância do pensamento crítico na análise e reconhecimento da desinformação. Essas campanhas aumentam a responsabilidade dos profissionais e contribuem para a conscientização da população, empoderando os cidadãos a exigir mais transparência das indústrias, empresas e governos. Essas ações, em conjunto, podem ajudar a construir uma cultura de responsabilidade e comprometimento, fortalecendo a credibilidade das instituições de comunicação.