
Imagem: Divulgação | Por Alexandre Nascimento, sócio-diretor e meteorologista da Nottus*
Março de 2025 – Por décadas, São Paulo foi conhecida como a “Terra da garoa”, uma cidade marcada por chuvas leves e persistentes. Hoje, essa imagem romântica, que inspirou tantas canções, deu lugar a uma realidade muito mais intensa: tempestades violentas e imprevisíveis, que transformam ruas em rios e desafiam a infraestrutura urbana. Mas por que essa mudança ocorreu? A resposta passa por três grandes fatores: urbanização acelerada, aquecimento global e alterações nos padrões atmosféricos.
Historicamente, a umidade trazida pela brisa marítima favorecia chuvas leves e constantes na cidade. No entanto, a rápida expansão urbana substituiu a vegetação da Mata Atlântica por concreto e asfalto, criando ilhas de calor que elevaram as temperaturas médias em até 5°C. Com esse aumento, os processos de formação de nuvens se alteraram, resultando em chuvas mais intensas e concentradas em menos dias.
Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) mostram que 2024 foi um dos anos mais quentes já registrados em São Paulo. O aquecimento global intensifica o ciclo hidrológico, tornando tempestades convectivas—fortes, localizadas e violentas—cada vez mais frequentes. Segundo estudos da FAPESP (2023), essa tendência deve se agravar nos próximos anos.
Os impactos desses temporais são alarmantes. Inundações e alagamentos têm se tornado frequentes, afetando a infraestrutura urbana e a qualidade de vida. A impermeabilidade do solo, por causa do excesso de asfalto, agrava essas questões. Um exemplo ocorreu em 24 de janeiro de 2025, quando a zona oeste da cidade enfrentou um temporal que resultou em inundações severas, com 125 milímetros de chuva em apenas duas horas. Além das inundações, os temporais aumentam o risco de deslizamentos de terra, colocando vidas em risco. Tragédias recentes, como a do litoral norte de São Paulo, evidenciam a vulnerabilidade da população a eventos climáticos extremos. Os danos econômicos decorrentes são significativos, com as cidades gastando milhões anualmente para reparar os estragos.
A transformação climática em São Paulo reflete o impacto da urbanização, que interfere nas mudanças climáticas globais. A perda da Mata Atlântica e a urbanização elevaram as temperaturas e alteraram os padrões de precipitação, tendo como consequência chuvas mais intensas. Esse fenômeno não é isolado. No interior do Brasil, observam-se períodos secos mais longos e chuvas intensas, criando um ciclo vicioso de secas que ajudam a propagar incêndios florestais que, por sua vez, agravam os períodos de seca.
Como destacou o climatologista Carlos Nobre, “a mudança climática é uma realidade que não podemos ignorar”. A necessidade de resiliência e adaptação às novas condições climáticas é urgente. Para enfrentar esses desafios, São Paulo deve implementar políticas públicas que promovam a sustentabilidade e a recuperação ambiental, como a criação de áreas verdes e a revitalização de rios.
A conscientização da população sobre a preservação ambiental e a adoção de práticas sustentáveis são essenciais. A educação ambiental deve ser priorizada, capacitando os cidadãos a entenderem o impacto de suas ações. A colaboração entre governo, sociedade civil e setor privado é crucial para construir uma cidade mais resiliente.
Projetos de infraestrutura verde, como jardins de chuva e telhados verdes, podem mitigar os efeitos de chuvas intensas, enquanto iniciativas de reflorestamento ajudam a recuperar a vegetação nativa. Em suma, a transformação climática que São Paulo enfrenta é um desafio complexo, mas não insuperável. Com ações coordenadas e um compromisso coletivo, é possível reverter parte da degradação ambiental e construir um futuro mais sustentável para a cidade.
A história de São Paulo, marcada por sua resiliência e capacidade de adaptação, deve servir de inspiração para enfrentar os desafios climáticos que se avizinham. A transformação da “Terra da garoa” em um cenário de temporais intensos não é apenas uma questão de meteorologia, mas um reflexo das escolhas que fizemos ao longo das décadas. A situação climática na cidade é um chamado urgente à ação. É um lembrete de que nossas escolhas têm consequências diretas sobre o meio ambiente e a vida urbana. A “Terra da garoa” poderia, assim, reencontrar sua essência, mas, para isso, é preciso agir agora.
Sobre a Nottus
A Nottus é uma empresa especializada em meteorologia para negócios, com base na experiência da Thymos Energia. Destacam-se por oferecer informações meteorológicas precisas e acessíveis para diversos setores, utilizando tecnologia avançada e a expertise de seus consultores. Seu propósito é impulsionar a evolução produtiva no Brasil e no mundo, guiados por valores como qualidade, confiança e parceria.
Sobre o autor

Alexandre Nascimento é sócio-diretor e meteorologista da Nottus. Bacharel e mestre em Meteorologia pelo IAG-USP e MBA em Agronegócios pela Esalq – USP. Atuação em todos os veículos de comunicação, palestrante e consultor. Experiência de mais de 25 anos em tornar a meteorologia inteligível e aplicável para os negócios de todos os setores. LinkedIn.
Site oficial: https://nottus.com.br
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