Gestão de resíduos: como esta prática pode beneficiar as indústrias?

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Por Vagner Floresespecialista em Resíduos Sólidos e colaborador do canal Ambiental Mercantil / Opinião de Especialista

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Você já parou para pensar como é realizada a destinação das sobras de insumos descartados diariamente pelo setor industrial? Plástico, vidro, papel, metal, componentes eletrônicos, produtos tóxicos e muitos outros tipos de matéria-prima: para onde vai tudo isso?

Nem todos sabem, mas a geração de resíduos industriais é considerada um dos principais fatores de degradação ao meio ambiente e, infelizmente, não são todas as empresas que adotam práticas corretas na administração desses materiais. 

Principal desafio

O descarte de resíduos industriais é um dos grandes desafios enfrentados há anos pelos órgãos ambientais. Muitas organizações realizam esse processo de maneira irregular, eliminando os dejetos em locais inapropriados, como rios, lagos, aterros sanitários e até mesmo em terrenos baldios.

Essa atitude é extremamente prejudicial ao meio ambiente e contribui para a contaminação e poluição do ar, da água e do solo. Observando os impactos dessas ações, foi criada uma estratégia para a redução de desperdícios no setor: aliar a economia de recursos com a sustentabilidade por meio da gestão de resíduos. 

O que é a PNRS?

Para minimizar os problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo incorreto dos resíduos sólidos, foi criada no Brasil a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – Lei Federal n° 12.305/2010.

A norma exige transparência dos setores públicos e privados em relação ao descarte de materiais. Por meio de uma rígida fiscalização dos órgãos ambientais municipais, estaduais e federais, as empresas devem seguir uma ordem de prioridade na gestão dos resíduos:

1. Não geração
2. Redução
3. Reutilização 
4. Reciclagem
5. Tratamento dos resíduos sólidos
6. Disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos

Através desses seis passos, as empresas acompanham todo o processo de descarte dos insumos, a fim de avaliar o que ainda poderá ser direcionado à reciclagem e, por fim, a destinação correta dos demais rejeitos.

Afinal, o que fazer com os resíduos industriais? 

Cada empresa é responsável pelo lixo gerado diariamente em suas fábricas, porém, a destinação dada aos materiais em uma indústria de plástico é totalmente diferente de uma companhia produtora de cimento, por exemplo. Portanto, cada setor da manufatura deve adotar diferentes medidas para a correta gestão dos resíduos.

Apesar da PNRS estabelecer etapas para o gerenciamento dos materiais, muitas empresas ainda se sentem perdidas e não sabem realizar a destinação correta dos insumos. Para facilitar esse processo, confira passo a passo o processo:

::: Separação: os materiais devem ser segregados conforme as informações contidas no PGRS de cada organização; 

::: Armazenagem: nesta fase, os resíduos devem ser armazenados provisoriamente (em condições devidas), para então serem encaminhados para a destinação ou tratamento correto – sendo a NBR 12.235/92;

::: Movimentação: todas as movimentações de resíduos devem ser registradas (descrevendo a tipologia e quantidade produzida), além da destinação dada aos materiais;

::: Transporte: a coleta dos insumos na fábrica deve ser realizada por meio de transportes adequados para cada produto. Também deve haver treinamento específico para os coletores, que precisam estar aptos para o correto manejo dos materiais. Dependendo da legislação local ou tipologia do resíduo, as empresas também necessitam obter um Manifesto de Transporte de Resíduos (MTR) – formulário que descreve o conteúdo da carga transportada e os dados da produtora do resíduo.

::: Destinação e tratamento: grande parte dos resíduos gerados podem ser tratados antes de ir para o descarte. No entanto, cada companhia deve adotar o método correto, de acordo com cada matéria-prima fabricada. A destinação final só deve ocorrer quando não há mais alternativas para o reaproveitamento do insumo – e deve ser realizada conforme a PNRS.

Boas práticas na gestão de resíduos 

Há práticas que podem ser adotadas de uma maneira geral por todo e qualquer tipo de empresa e têm a função de aprimorar o gerenciamento de matéria-prima nas organizações.  

PGRS

A execução do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) é o primeiro passo para o desenvolvimento de uma boa gestão ambiental na organização. Esse documento técnico é obrigatório para os geradores de resíduos industriais (conforme a Lei nº 12.305/2010) e, para obter melhores resultados, deve ser elaborado por um profissional da área. 

O PGRS apresenta a tipologia dos materiais presentes em cada empresa e as quantidades produzidas, além de constar as formas de manejo em todas as etapas: geração, acondicionamento, transporte, transbordo, tratamento, reciclagem, destinação e disposição final.

3 R’s

O princípio dos 3 R’s (Reduzir, Reutilizar e Reciclar) é uma das soluções para minimizar os problemas acarretados pelo excesso de lixo no planeta. A ideia consiste na criação de hábitos para um consumo mais consciente, a fim de diminuir o desperdício e evitar o uso de recursos naturais.

::: Reduzir – medidas para diminuir a produção de resíduos por meio do aproveitamento de matéria-prima, redução de desperdícios, padronização dos produtos e uso de embalagens ecológicas. Essa estratégia pode ser uma boa alternativa para melhorar a saúde financeira da empresa.

::: Reutilizar – consiste em utilizar novamente materiais que, antes, iriam para o lixo. A reutilização de embalagens, rascunhos de papel e a restauração de materiais são alguns exemplos dessa prática.

::: Reciclar – os insumos são encaminhados para cooperativas de reciclagem que realizam todo o processo de transformação dos insumos em matéria-prima para a posterior fabricação de novos produtos. 

Avaliação de Ciclo de Vida (ACV)

Consiste em todas as fases de produção e uso de um determinado produto – que vai da retirada da matéria-prima, passa pela manufatura, até chegar a sua etapa final (podendo ou não ser reciclado). Tendo em vista esse extenso processo, foi criada a ACV com o propósito de mensurar os impactos ambientais ocasionados ao longo do ciclo de vida dos materiais. 

Essa análise é importante para identificar e gerenciar os aspectos mais críticos dentro da cadeia produtiva e, dessa maneira, traçar estratégias de melhorias. Atualmente, a Avaliação de Ciclo de Vida é regulamentada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, por meio da ISO 14040.

Cradle to Cradle

Hoje em dia, a sustentabilidade visa a diminuição de resíduos e a redução de energia para a fabricação dos produtos. No entanto, deve-se levar em conta que uma hora o ciclo de vida desses materiais termina e eles serão descartados de alguma maneira no meio ambiente. 

Por essa razão, foi criado o conceito de inovação Cradle to Cradle (traduzido como do “berço ao berço”) que utiliza o pensamento da economia circular para a manutenção dos materiais em ciclos de vida contínuos. Com esse novo paradigma, cada parte de um produto é projetada com o objetivo de retorná-lo ao ciclo técnico – fabricação, uso, recuperação, desmontagem e refabricação. Além disso, do “berço ao berço” estimula o uso de energias renováveis (como a eólica e solar). 

Biotecnologia como aliada

O uso da biotecnologia para a gestão e tratamento de resíduos vem crescendo expressivamente nos últimos anos. Essa tecnologia limpa é uma excelente estratégia de reversão para áreas contaminadas, pois permite acelerar processo de remoção de substâncias poluentes na água e no solo. 

Mais retorno financeiro para a sua indústria

Já deu para perceber como a gestão de resíduos sólidos é de extrema importância para a preservação do meio ambiente, não é mesmo? Você sabia que a sua empresa também pode ter retorno financeiro ao aplicar essas práticas?

Primeiramente, ao ser fiscalizada por órgãos ambientais reguladores, a chance de ser multada ou até mesmo interditada em casos de irregularidades será bem menor se as normas regidas pela PNRS forem seguidas à risca.

Outra grande vantagem é a capacidade de fazer mais com menos. Ou seja, ao descartar o mínimo de materiais para, posteriormente, reaproveitá-los para a fabricação de novos produtos, é possível prolongar o ciclo de vida da cadeia produtiva. Isso significa maior economia de tempo e recursos, aliada a promoção de ações mais sustentáveis dentro da organização. 

SOBRE O AUTOR

VAGNER FLORES
Formado em Gestão Ambiental e Especialista em Gerenciamento de Resíduos Sólidos
(11) 97278-2034
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Informamos que os artigos são de inteira responsabilidade dos autores colaboradores da seção Opinião de Especialistas. Respeitamos suas dissertações, perspectivas e opiniões; porém atuam de forma independente e não representam a Ambiental Mercantil.

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