OPINIÃO DE ESPECIALISTA: Uma reflexão sobre nosso comportamento, consumo e meio ambiente no dia do consumidor

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Por Abraão Rodrigues Lira, Consultor de Sustentabilidade Corporativa e Coach de Gestores e Carreira. Com exclusividade, escreveu como colaborador do canal de Notícias Ambiental Mercantil Foto: Pixibay

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STADLER

Nesta semana estava deitado em meu sofá, à noite, descansando de um dia puxado e assistindo ao meu programa preferido, quando fui alfinetado visualmente por aqueles chatos da TV: os comerciais publicitários. Chatos para alguns, mas para outros, é bem divertido ver o que as mentes criativas dos profissionais do marketing trabalharam para levar até os consumidores, de forma direta ou subliminar, a necessidade de comprar mais ou comprar aquele algo a mais. Mas o que me impressionou foi a informação (que por incrível que pareça eu ainda não sabia), da existência de mais um dia comemorativo em nosso país: 15 de março, o Dia do Consumidor.

Mal renovamos os votos, de novo, do Ano Novo, logo após o Carnaval em fevereiro, e nos aparece mais um dia para gastarmos nosso suado dinheirinho. Chegamos em março minerando nossas gavetas e colchões atrás de alguma coisa que tenha sobrado das festividades natalinas, momescas e dos compromissos pessoais e taxativos dos dois primeiros meses do ano de nosso maior sócio, o governo, e seus “is” (IPTU, IPVA), licenças daqui, material escolar de acolá…e assim vai. 

Novamente estamos adotando os comandos do falecido estadunidense Larry Tesler (17/02/2020), que criou o Ctrl+C e o Ctrl+V (copiar e colar) e praticamos deles próprios mais um dia comemorativo aos consumidores. Além do Black Friday no mês de novembro, agora temos mais um dia de expansão ao consumo.  É claro e notório que este novo dia, que já entrou no calendário nacional como uma campanha no terceiro mês do ano, vem para convencer os velhos e novos clientes, aumentar o faturamento e assim aquecer a economia brasileira desde o agronegócio, passando pela indústria, o comércio e os serviços. Algo que é muito bom e positivo para a nação.

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apontou na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor de 2019 (Peic), que em abril o endividamento das famílias do país alcançou 62,7%, correspondendo a um aumento de 0,3 ponto percentual em relação a março de 2019. Já no mesmo período do ano anterior, o indicador foi de 60,2%, e o aumento foi ainda mais expressivo, de 2,5 pontos percentuais. Patamares que acendem os sinais “amarelos” dos economistas, mas apagam os “vermelhos” dos olhares dos consumidores.

Você sabia que gera em média
380kg de resíduos por ano?

Segundo o Panorama do Resíduos Sólidos no Brasil, estudo periódico realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), a evolução na Geração de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) nos municípios brasileiros, apresentou um aumento de quase 1% (0,82%) em toneladas diárias, comparado com os anos de 2017 e 2018, quando respectivamente foram geradas 214.868 ton/dia e 216.629 ton/dia de RSU.

Quando queremos saber a geração per capita, cada habitante do país gerou em média por dia 1,035kg (2017) e 1,039kg (2018), apresentando um aumento de 0,39%. Se você estiver lendo agora, lembre-se que ontem você gerou cerca de mais de 1,00 kg de resíduo.

Mas não temos muito o que comemorar nessas frações que cada consumidor gerou. As informações em 2018 dão conta de que geramos 79 milhões de toneladas de RSU, cerca de 1% a mais em relação à 2017. Apenas 92% deste montante foi coletado.

Fica a dúvida:
a diferença foi parar aonde?

A destinação dos resíduos são as mais diversas: para os aterros sanitários, que é a mais adequada, foram 59,5% dos RSU coletados. A diferença (40,5%) foi destinada de forma inadequada para 54% dos municípios brasileiros (3.001). Essa forma inadequada de destinação se refere aos lixões ou aterros controlados. Em média os municípios investiram mensalmente R$ 10,15 por pessoa para nosso conforto aos serviços de limpeza e coleta dos resíduos.

Quanto nós iremos gastar ou investir
nesta nova campanha do
Dia do Consumidor?

O que tem a ver o consumo de produtos com a geração de resíduos?

Tudo. A relação não é direta, mas sabemos que tudo o que consumimos um dia será um resíduo, devido ao tempo de ciclo de vida que damos aos produtos. O que irá determinar este tempo será nossos bons ou maus hábitos. E falando em hábito, alguém por favor me explica de onde veio a ideia de que nós temos que dar aquela “enxaguadinha” na escova de dentes, antes mesmo de levarmos à boca? Quando nossa própria boca já tem saliva que dilui o creme dental e aí vamos escovando os dentes naturalmente. Agora imagine quantos litros por dia, por escovada de dentes por pessoa, na sua casa, você economizaria se não enxaguasse antes.

O mau hábito de não nos questionarmos previamente, de forma crítica, faz com que descartemos mais produtos que poderiam ter uma destinação mais nobre e não irem diretamente para os lixões ou aterros.

Questões do tipo:
– Será que ainda dá para reutilizar este material?
– Será que posso mandar isso para reciclagem?
– Será que posso devolver este material na loja onde comprei, pois ouvi falar numa tal Logística Reversa (item da Lei 12.305/2010)? Onde cita, além de outras entidades empresariais, que os comerciantes recebam os produtos em desuso e retornem para os fabricantes.

Mas aí você explica (para você mesmo) que gostaria de poder contribuir com um pouco mais de cidadania e não sabe como, pois acha que não tem tempo de agir de forma mais ambientalmente sustentável. A pergunta certa é: eu não tenho tempo ou não tenho interesse? Você já se indagou que vive algumas dependências inconscientemente?

Por exemplo: Geldependência – estamos vivendo uma pandemia de infecção pelo novo vírus COVID-19, que forçadamente nos faz ampliar nossos hábitos de higiene e limpeza, e nos obriga a comprar mais produtos que evitem a contaminação pelo vírus – máscaras e álcool gel. Porém, ao chegar na farmácia, compramos todo o estoque existente e não pensamos que mais alguém precisará do produto.

É justo só pensarmos em nós ou devemos pensar na coletividade?

Nesta semana já tivemos uma grande crise do petróleo.
– Será que preciso sempre depender da gasolina (gasodependência) ao etanol?
– Será que preciso aquecer a água do chuveiro mesmo no verão?
– Por que será que deixo resto de comida no meu prato?
– Por que eu não coloco várias vezes a comida suficiente no meu prato até saciar minha fome?
– Será que necessito trocar de celular anualmente, mesmo sabendo que o meu ainda é útil por mais tempo?
– Será que eu preciso ir de carro em vez de bicicleta?
– E quando eu for de carro, posso dar carona para mais pessoas?

Já parou para pensar que quando for ao supermercado você pode se questionar:
– De quem irá comprar?
– Será que o produto é de uma empresa que pratica ações de responsabilidade social e ambiental?

Como por exemplo: comprar um sabão em barra de qualidade de uma empresa que recolhe em bares e restaurantes os óleos usados em frituras, evitando assim que esse óleo vá parar nas canaletas e corpos d´água, contaminando os recursos hídricos e entupindo os bueiros e canaletas. Ou até mesmo você trocar sua bateria automotiva por outra de uma empresa que investe cerca de 25% de seu orçamento em ações socioambientais, recolhendo todo o chumbo (metal pesado) das baterias descarregadas.

Essas empresas existem, e estão aqui mesmo no estado de Pernambuco e sendo merecedoras de diversos prêmios estaduais e nacionais por suas ações de responsabilidade social e ambiental com seus colaboradores, parceiros e clientes. E com um grande diferencial: os preços são praticados de forma justa.

A resposta a estas perguntas se dá pelo fato de podermos ponderar, de forma consciente, como andam nossos hábitos de consumo em nossa rotina e de qual empresa estamos comprando ou investindo nosso dinheiro. É uma empresa idônea, que tem como um dos pilares de sua política gerir bem seus resíduos sólidos, que tem compromisso social com a comunidade ao seu redor, que apresenta valores morais que coincidem com os seus, que não adota práticas análogas à escravidão, que honra seus compromissos fiscais e sociais com seus colaboradores, mantendo assim uma gestão de governança corporativa eficiente na prática de normas de compliance e boa conduta com parceiros privados e públicos.

Com base nos comportamentos diários das pessoas ou grupos de indivíduos, o Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, ONG criada no dia do consumidor (2001), criou em 2003 uma ferramenta simples e rápida para avaliar o Grau de Consciência em que estão os consumidores. Lá é possível saber se você é indiferente, iniciante, engajado ou consciente daquilo que adquire. A ONG aproveitou esta plataforma e utilizou os dados para complementar sua pesquisa de 2018, Panorama do Consumo Consciente no Brasil.

Onde buscou respostas para:
– Quais são as barreiras e motivações para as práticas mais sustentáveis?
– Qual é a percepção e a expectativa do brasileiro em relação à responsabilidade social e ambiental das empresas?

Chegando a identificar um crescimento nos níveis de pessoas iniciantes de 32% em 2012 para 38% em 2018. O estudo, além de levantar esses dados dos perfis de consumo, traz contribuições importantes para as pessoas chegarem ao nível de maior conscientização ao consumo.

E você, como consumidor,
qual nível se encontra?

Vai lá na plataforma e faça o teste: http://tcc.akatu.org.br/ .

As pessoas físicas e jurídicas precisam o quanto antes estabelecer e aplicar objetivos e metas diárias, e uma delas também para o que vai consumir. Como por exemplo,  redução do metro cúbico de água mensal e quando possível o seu reuso; redução do KWh de energia elétrica e quando possível a sua substituição por uma nova fonte alternativa de energia; redução e/ou substituição do uso de combustíveis fósseis, entre outros. Os resultados dessa eficiência serão refletidos diretamente em seus comportamentos emocionais, bem como no seu mais sensível órgão, o bolso.

Há casos patológicos já identificados no ser humano pelo excessivo consumo. Algumas pessoas se sentem entorpecidas quando adquirem um produto, bem ou serviço sem nenhuma necessidade, critério ou razão própria.

A motivação deste texto faz parte de um dos encontros que realizo com o propósito de poder sensibilizar as pessoas a adotarem hábitos positivos em suas vidas, não mais conscientes e sim sensíveis às suas reais necessidades e seus princípios de valores éticos, que podem perpassar: a preservação de seus recursos financeiros, dos recursos naturais e do meio ambiente; o respeito à saúde de seu corpo e mente; a tolerância às diferenças de uma sociedade em constante mudança, bem como equalizar o orçamento familiar às novas realidades econômicas que o país vive.

Imaginar que quase 12 milhões de desempregados irão comprar além do necessário, é ver uma ação inconsciente ou até mesmo sem sabedoria alguma do uso do seu próprio dinheiro, em vez de agirem de forma ecoeficiente com seus escassos recursos.

A sensibilização, palavra que venho substituindo à conscientização, deve ser levada em conta antes da necessidade de consumir algo. Consumir também é um ato de pensar de forma eficiente, eficaz e com responsabilidade social e emocional consigo mesmo, pois reflete o quanto o indivíduo está disposto a colaborar de forma direta ou não com o seu estado de bem-estar e da sociedade ao seu redor.

Façamos o exercício de adquirir responsabilidade para conosco e para com a comunidade

Antes mesmo de comprar, responda a si mesmo numa escala de 0 a 10, as seguintes questões de um bom processo de Coaching do Consumidor Consciente (CCC):
1. Como você se sente hoje para aproveitar o dia do consumidor?
2. Por que devo comprar isso?
3. O que devo comprar?
4. Como irei comprar?
5. De quem devo comprar?
6. Como irei usar?  
7. Como irei descartar?

Abraão Rodrigues Lira
Consultor Empresarial Coach de Gestores e Carreiras Msc. Tecnologias Ambientais Engenheiro de Produção Técnico Químico Industrial
E-mail: abraaorodrigueslira@gmail.com
Instagram: @abraao.rodrigues.lira
Linkedin: abraaorodrigueslira
Facebook: abraao.rodrigues.lira
Tel.: (81) 999629829

EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

Com experiência de 20 anos no setor industrial na gestão de pessoas, processos, produtos, serviços, associações empresariais, colaborando com empresas como: Ambev, Grupo Votorantim, Grupo Areva / Koblitz, Grupo Master Foods. Por último como Gerente de Relações Industriais da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (FIEPE) de 2011 a 2018. Neste, colaborando na prestação de serviços administrativos e de defesa de interesse dos 34 sindicatos patronais filiados à federação. Atuando na manutenção do Relacionamento Institucional Governamental (RIG) e no Relacionamento Socioambiental com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), ministérios, federações de diversos setores empresariais, parlamentares e agências de fiscalização e regulação.

Hoje é sócio da Souza Lira Engenharia, Coach pelo Instituto Brasileiro de Coaching (IBC), Consultor Empresarial, Mestre em Tecnologias Ambientais pelo Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP), com ênfase na Logística Reversa de Resíduos Eletroeletrônicos de Ar Condicionados. Especialização em Gestão Pública pelo Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), com atuação em Políticas Públicas de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Industriais. Graduação em Engenharia de Produção pela Faculdade Boa Viagem (FBV), Técnico em Química Industrial pelo Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) e Oficial da Reserva da Engenharia do Exército Brasileiro pelo Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Recife (CPOR/Recife).

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