Reciclagem e logística reversa de automóveis: mitigação de emissões, impacto ambiental e preservação de recursos

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Logística reversa de automóveis no Brasil: do incipiente ao eficiente

A logística reversa automotiva no Brasil é essencial para a sustentabilidade, focando na recuperação, reuso e reciclagem de veículos em fim de vida útil. Isso ajuda a preservar o meio ambiente ao remover veículos deteriorados de locais inadequados e reduz a necessidade de novas matérias-primas, promovendo a economia circular. No entanto, o Brasil enfrenta desafios significativos devido à falta de regulamentação específica na Política Nacional de Resíduos Sólidos e a dimensão do país, que dificulta a implementação de um sistema nacional eficaz.

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Um sistema eficiente de logística reversa pode trazer benefícios significativos tanto para o meio ambiente quanto para a indústria, promovendo um uso mais consciente das matérias-primas e reduzindo os impactos ambientais.

A transição para veículos elétricos e novas tecnologias também demanda uma adaptação rápida dos processos de descarte e reaproveitamento (principalmentede de baterias e carregadores). Além disso, garantir a rastreabilidade adequada das peças desmontadas e recicladas é um desafio essencial para evitar o comércio ilegal e assegurar a eficiência do sistema de reciclagem.

Como deve ser o fluxo da logística reversa de automóveis?

A logística deveria funcionar basicamente assim: os consumidores levam os veículos antigos a postos de coleta estabelecidos pela indústria automotiva fabricante. Esses pontos, conhecidos como PEVs (Pontos de Entrega Voluntária), são localizados estrategicamente para facilitar o acesso dos clientes. O veículo é então recebido e enviado para a centros de reciclagem da indústria automotiva ou centros autorizados. O fabricante recebe o veículo antigo e direciona seus componentes para reutilização, tratamento, reciclagem e destinação adequada.

Por que é tão importante reciclar os automóveis?

Segundo dados de 2019 do Sindicato das Empresas de Sucata de Ferro e Aço (Sindinesfa), apenas 1,5% das carcaças e peças abandonadas em pátios e ferros-velhos em todo o país são recicladas e a baixa taxa de reciclagem nesse setor, gera impactos ambientais e desperdício de recursos. A reciclagem de automóveis é essencial para resolver diversos problemas ambientais associados ao descarte de veículos. Veículos fora de uso contêm fluidos, gases e materiais perigosos que, se não forem devidamente descontaminados, podem poluir o solo e a água, causando sérios danos ambientais. Além disso, muitos componentes de um carro, como metais e plásticos, são extraídos de recursos naturais. A falta de reciclagem desses materiais eleva a demanda por novas matérias-primas, o que pode levar ao esgotamento de recursos e à degradação ambiental.

O descarte inadequado de veículos também pode acarretar altos custos de gerenciamento de resíduos e perda econômica, devido ao valor dos materiais recicláveis.

A reciclagem de automóveis oferece uma solução eficaz para esses problemas através de um processo estruturado que minimiza os impactos negativos e maximiza o reaproveitamento de materiais. O processo inclui as seguintes etapas:

  1. Descontaminação: A primeira etapa envolve a remoção de fluidos, gases e outros materiais potencialmente perigosos. Isso é crucial para evitar a poluição do solo e da água, garantindo que os resíduos perigosos sejam tratados de maneira segura.
  2. Desmontagem: Em seguida, o veículo é desmontado, e suas peças e componentes são separados. Esta etapa permite a recuperação de peças que podem ser reutilizadas ou recicladas, reduzindo a necessidade de novas matérias-primas.
  3. Categorização: As peças separadas são avaliadas e classificadas com base em sua condição e potencial de reaproveitamento. Isso ajuda a determinar quais componentes podem ser restaurados e quais devem seguir para a reciclagem.
  4. Separação de Materiais: Os diferentes tipos de materiais, como metais e plásticos, são agrupados para processamento específico. Isso assegura que cada material receba o tratamento adequado durante o processo de reciclagem.
  5. Trituração: Os componentes metálicos restantes são triturados, facilitando o processamento e a reciclagem dos metais. A trituração prepara os materiais para serem reciclados de forma mais eficiente.
  6. Reciclagem Específica: Finalmente, cada tipo de material é encaminhado para processos de reciclagem apropriados. Isso garante que os materiais sejam processados e reutilizados, reduzindo a necessidade de novos recursos naturais e contribuindo para a sustentabilidade.

De acordo com a indústria automotiva, a composição média de um veículo inclui 18% de plástico, 7% de borracha, 55% de metais e 20% de outros materiais. Seguem alguns detalhes sobre os materiais que envolvem o desmanche de um automóvel:

METAIS (cerca de 55% do veículo)
Aço: Utilizado na carroceria, chassi e diversas peças
Alumínio: Presente em rodas, blocos de motor e componentes leves
Cobre: Encontrado em fios e cabos elétricos
Outros metais: Chumbo (baterias), zinco, magnésio

PLÁSTICOS (cerca de 18% do veículo)
Polipropileno (PP): Usado em para-choques, painéis internos
Polietileno (PE): Presente em tanques de combustível, revestimentos
ABS: Utilizado em grades, painéis de instrumentos
Poliuretano (PU): Encontrado em assentos, isolamento acústico.

BORRACHA (cerca de 7% do veículo):
Pneus, Vedações e juntas, Mangueiras e correias

VIDROS
Para-brisas, Vidros laterais e traseiros

FLUIDOS
Óleo do motor, fluido de transmissão, líquido de arrefecimento, fluido de freio

TECIDOS E ESPUMAS
Estofamentos, carpetes, isolamento acústico

COMPONENTES ELÉTRICOS E ELETRÔNICOS Baterias, módulos de controle

Mercado de veículos elétricos (EVs) em crescimento: como fica a reciclagem de baterias?

À medida que o mercado de veículos elétricos (EVs) cresce rapidamente, a reciclagem de baterias deve ser tratada com a máxima importância. A reciclagem evita o acúmulo de baterias usadas em aterros sanitários e contaminações. A reciclagem de baterias contribui diretamente para uma economia mais circular, promove a reutilização de materiais e reduz a necessidade de extração de novos recursos, diminuindo assim o impacto ambiental da mineração e as emissões de gases de efeito estufa associadas à produção de novas baterias. Permite recuperar materiais valiosos como lítio, cobalto e níquel, que são essenciais para a produção de novas baterias. À medida que o volume de baterias a serem recicladas aumenta, o setor enfrenta desafios para escalar as operações e melhorar a eficiência dos processos de reciclagem.

  • Projeto em análise no Senado torna mais rigorosas as regras para o descarte de pilhas e baterias de produtos eletrônicos (PL 194/2024). Autor do texto, o senador Wilder Morais (PL-GO) afirma que o objetivo da proposta é regular a produção e a destinação final de baterias de aparelhos, como celulares e tablets, para diminuir o impacto ambiental desses itens. O projeto também busca promover sustentabilidade ao incentivar a reciclagem dos materiais componentes de baterias e pilhas, como lítio, cobalto, níquel e cobre, que são considerados perigosos para a saúde e para o meio ambiente. Fonte: Agência Senado

A experiência da União Europeia pode servir de inspiração e modelo valioso para o Brasil na melhoria das políticas e práticas de gestão e reciclagem de veículos em fim de vida. A União Europeia possui regulamentações avançadas, como a Diretiva de Veículos em Fim de Vida (ELV Directive 2000/53/EU de 1o. de julho de 2003), que estabelece metas rigorosas para reciclagem, restrições a materiais perigosos, esquemas de responsabilidade estendida do fabricante, e criação de centros de coleta e tratamento autorizados.

Com base nesse avanço, o Brasil poderia adotar práticas semelhantes para aprimorar sua própria legislação. Medidas recomendadas incluem a definição de “metas claras de reciclagem” com altos padrões ambientais. Além disso, deveria regularmente revisar e atualizar legislações e expandir as regulamentações, para incluir diferentes categorias de veículos, e assim poder melhorar a sustentabilidade e a eficiência da reciclagem no setor automotivo brasileiro.

A logística reversa e a reciclagem automotiva pode contribuir significativamente para a economia circular e a sustentabilidade ambiental no Brasil.

Sobre a autora

Foto: Simone Horvatin
Foto: Simone Horvatin

Simone Horvatin é jornalista (MTB 0092611/SP) especializada em setores ambientais e de energias, vivendo entre Brasil e Alemanha há 24 anos. Formada em Letras, com MBA em Negócios pela Universidade Mackenzie em São Paulo, também é economista pela IHK Akademie na Alemanha. Simone é fluente em português, inglês e alemão, e membro da BDFJ (Federação de Jornalistas Técnicos da Alemanha). Em 2016, criou a plataforma Ambiental Mercantil (2023: mais de 1.300.000 visitantes únicos) para fortalecer a sustentabilidade no Brasil. Ela possui uma vasta rede de contatos no Brasil e na Alemanha, totalizando mais de 85.000 contatos no LinkedIn.

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