Drones ajudam a monitorar áreas remotas da Amazônia

softelec

Por Jorge Eduardo Dantas / Foto: © Marizilda Cruppe / WWF Brasil

Publicidade
Publicidade
Equipamentos - STADLER GmbH

WWF-Brasil doa 14 drones para organizações que trabalham no bioma e treina 40 pessoas para operarem essa ferramenta. É com tecnologia que o WWF-Brasil apoia comunidades vulneráveis ao fogo e desmatamento

O uso de novas tecnologias para a conservação da natureza é uma tendência irreversível, presente no mundo inteiro. A utilização de armadilhas fotográficas, big data, sensores de ruído, fotos de satélites e tagueamento de animais ameaçados tem facilitado o trabalho de diversos defensores da natureza, que se valem desses recursos para proteger e gerar informações sobre animais, plantas, populações e territórios.  
 
O WWF-Brasil aposta nesta tendência: desde o ano passado, com o registro de altas taxas de desmatamento e queimadas na Amazônia brasileira, a organização deu início a um projeto de utilização de veículos aéreos não tripulados – popularmente conhecidos como drones –  para monitorar territórios e tentar antecipar problemas.
 
Desde então, foram doados 19 drones para 18 organizações diferentes, espalhadas em 6 estados do Norte do Brasil – num investimento que, apenas em equipamentos, soma cerca de R$ 300 mil. Essas organizações recebem ainda capacitações e outras ferramentas que otimizam o uso dos dados gerados pelos drones, como GPS, telefones celulares e notebooks.  

Aumento nas queimadas

Entre as organizações que estão recebendo este apoio estão o Batalhão de Policiamento Ambiental do Acre; a Associação do Povo Indígena Tenharim Morõgwitá (Apitem), no Sul do Amazonas; a Associação dos Moradores e Produtores da Reserva Extrativista Chico Mendes em Xapuri (Amoprex), no Acre; o Instituto Kabu, no Pará; e as prefeituras das cidades amazonenses de Boca do Acre, Apuí e Humaitá.

O WWF-Brasil trabalha com drones desde 2016; primeiro na contagem de populações de botos na Bacia Amazônica, depois como reforço para monitoramento territorial na Amazônia e no Cerrado. Desde o ano passado, o objetivo é que eles ajudem na proteção contra o desmatamento e as queimadas.

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), julho de 2020 registrou um aumento de 28% nos índices de queimadas na Amazônia em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 6.803 focos em 2020 contra 5.318 em 2019.

Monitoramento

Uma das experiências mais bem-sucedidas deste projeto acontece hoje em Rondônia, na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, que possui 1.867.117 hectares. Por ali, os indígenas têm utilizado um drone para vigiar seu território, dar mais consistência às denúncias de crimes ambientais e monitorar a biodiversidade naquela região. 

A manutenção de Terras Indígenas são um dos instrumentos mais poderosos de conservação do Meio Ambiente 

Nos últimos 40 anos, apenas 2% das Terras Indígenas perderam suas florestas originais. Esses territórios mantêm estoques de recursos naturais, promovem serviços ecossistêmicos e ajudam na regulação climática do planeta. Mesmo assim, são regiões bastante ameaçadas, que vários problemas, como ocorrência de garimpo, roubo de madeira e invasão de terras.

“Com a chegada dos drones, o trabalho de monitorar nossa região ficou muito mais fácil”, disse o coordenador da Associação do Povo Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, Bitaté Uru-Eu-Wau-Wau, de 20 anos.

De acordo com ele, o drone ajuda a monitorar áreas remotas que, de outra maneira, seriam inacessíveis durante as patrulhas feitas pelos indígenas.

“A primeira vez que usamos o drone por conta própria nós encontramos uma área desmatada enorme, muito próxima das rotas que utilizamos dentro da Terra Indígena, mas que jamais imaginávamos que fosse atingida pelas invasões e pelo desmatamento. Por terra a gente não acha o que acha com o drone”, afirmou Bitaté.

A área encontrada naquela ocasião possuía 10 hectares.

Gavião Real

O jovem disse ainda que, com o drone, foi possível encontrar às margens do Rio Jamari, dentro da Terra Indígena, um ninho de Gavião-Real (Harpia harpyja).

“Acabou que começamos a monitorar a situação daquele ninho também. Toda vez que passávamos por aquela região, levantávamos o drone para saber se o ninho ainda estava lá”, disse Bitaté.

O ninho fica numa trilha acessível a 2 horas de caminhada da aldeia Jamari, onde Bitaté vive – porém, com o drone, é possível acessar o ninho de um ponto específico do meio do rio, acessível a 30 minutos da aldeia.

O Gavião Real é uma das mais poderosas aves de rapina do mundo – e a maior do Brasil. Ela chega a 1 metro de altura, 12 quilos e 2,25 metros de envergadura com as asas abertas. É uma ave rara, imponente e que vive de maneira solitária em regiões florestais remotas. Para diversos povos indígenas, é considerado um animal sagrado, “dono” da floresta e cujas penas são utilizadas para fazer flechas, penas e cocares.

Descoberta

Bitaté contou também sobre a mais recente patrulha feita pelos Uru-Eu-Wau-Wau, no final de julho. Eles estavam caminhando quando ouviram barulhos de trator. “Levantaram” o drone e viram uma grande área desmatada, que possuía um acampamento em seu interior.

Os indígenas resolveram voar mais um pouco com o drone, 900 metros adiante, e encontraram outra área desmatada. Mais 400 metros, outro foco de desmatamento. Mais 500 metros, outra área derrubada.

“No final achamos 15 pontos de desmatamento que conseguimos fotografar e outras 3 que não mapeamos”, disse Bitaté.

Nesta operação, os indígenas passaram 4 dias excursionando dentro de seu território, identificaram um invasor e chamaram a polícia. O homem estava sozinho num acampamento – que fica a mais de 8 quilômetros dentro da TI –  e possuía armas, além de uma motocicleta e uma motosserra. Ele foi levado à delegacia e preso.

Informações preliminares foram repassadas à Polícia Civil – mas várias fotos e vídeos estão em Porto Velho, na capital de Rondônia, sendo processados para subsidiar posteriormente outras denúncias. 

Identificar e denunciar

Para o coordenador-geral da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Israel Valle, é possível falar em trabalhos “antes dos drones” e “depois dos drones”. A Kanindé está baseada em Porto Velho, é uma das maiores e mais importantes organizações indigenistas do Brasil e uma das parceiras do WWF-Brasil nesta iniciativa.

“Antes, nós usávamos informações via satélite, que sempre vinham com algum atraso. Quando chegávamos na área, ela já estava queimada. A gente trabalhava com o que aconteceu. Com os drones você consegue identificar o desmatamento e uma queimada, por exemplo, e fazer uma denúncia imediatamente”, explicou.

Em dezembro de 2019, o WWF-Brasil promoveu um treinamento para 40 pessoas na operação dos drones. Dois Uru-Eu-Wau-Wau e o representante da Kanindé participaram desta capacitação. No primeiro semestre, a Kanindé deu início à replicação desses conhecimentos, promovendo um treinamento para outros 15 indígenas, que aprenderam a usar algumas das funcionalidades deste equipamento.

Israel lembrou também que os indígenas têm feito registros de seu dia-a-dia: no plantio de café e na preparação da roça, por exemplo – compondo um registro etnográfico importantíssimo para os indigenistas brasileiros.

Segurança

Israel contou que os drones facilitam bastante a vigilância e o monitoramento.

“Ao invés de você gastar um dia inteiro andando pela mata, gasta metade desse tempo e cobre uma área muito maior. Você ganha uma perspectiva mais ampla e outro tipo de visão do território. O drone melhora a qualidade do dado e a coleta de informações”, disse.

O coordenador-geral da Kanindé afirmou também os drones aumentam a segurança dos patrulheiros que estão fazendo o monitoramento.

“Assim que você identifica uma área desmatada, você não precisa chegar lá e se colocar em risco, topando com um acampamento, por exemplo”. Israel contou que, no início do ano, num patrulhamento, um invasor soltou um rojão em direção ao drone: “Temos uma filmagem disso. É possível ver o rojão subindo e explodindo logo abaixo do equipamento”.

Para o Analista de Conservação Sênior do WWF-Brasil, Osvaldo Barassi Gajardo, o uso dos drones permite que as associações de base da Amazônia realizem seus trabalhos de monitoramento e proteção territorial de forma mais segura e qualificada.

“Este tipo de ferramenta permite obter elementos e evidências concretas, e ajudam a subsidiar denúncias que serão encaminhadas aos órgãos públicos competentes que lidam com fiscalização ambiental”, explicou.

Crédito:
WWF Brasil

ANUNCIE COM A AMBIENTAL MERCANTIL
AMBIENTAL MERCANTIL | ANUNCIE NO CANAL MAIS AMBIENTAL DO BRASIL
Sobre Ambiental Mercantil Notícias 5027 Artigos
AMBIENTAL MERCANTIL é sobre ESG, Sustentabilidade, Economia Circular, Resíduos, Reciclagem, Saneamento, Energias e muito mais!