MEIO AMBIENTE VERSUS AMBIENTE

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Por força do relativo distanciamento entre a academia e o mercado, há no Brasil profissionais que dizem ser “a teoria diferente na prática“. Sem entrar no mérito desse “descuido“, acredita-se que as ágeis práticas do mercado podem criar “teorias particulares”. Desta forma, não podem ser universalizadas.

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No entanto, nas áreas em que a ciência ainda é pouco consolidada, a mídia falada e escrita cria conceitos próprios e os divulga como verdadeiros, a todo vapor. A ciência ambiental, sem dúvida, é premiada com uma larga série de “equívocos conceituais”. Contudo, através de um exemplo simples é possível demonstrar a sucessão de conflitos que pode ser criada. Senão, vejamos:

─ O que é correto dizer: Meio Ambiente ou Ambiente?
Dicionários da língua portuguesa dão ao verbete “meio” inúmeros significados. Mas existem dois que são mais específicos para auxilias a resposta a esta questão, quais sejam:

“Meio”, a significar metade; “Meio”, com sentido de Ambiente. A ser assim, meio é, ao mesmo tempo, sinônimo de Metade e de Ambiente.

A partir desses fatos, “meio ambiente” significa “Metade do Ambiente” ou então, “Ambiente-Ambiente”. O primeiro é um significado estranho; o segundo, um pleonasmo absurdo. Nas culturas mais evoluídas do mundo, não existe expressão com “Meio” integrado a “Ambiente”. Observe em quatro idiomas, nos quais o verbete é equivalente ao tal do “meio ambiente”:

  • Em inglês: Environment.
  • Em francês: Environnement.
  • Em alemão: Umwelt.
  • Em italiano: Ambiente.

Esse fato já deveria ser mais do que suficiente para esclarecer a questão; no entanto, há o chamado “conceito oficial brasileiro”.

Segundo reza a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a PNMA, “Meio Ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

Pergunta-se:

  • Qual o significado de “condições, leis, influências e interações” no contexto ambiental?
  • Quais são as entidades ambientais que promovem as “influências e interações”?
  • Deseja-se saber como “condições, leis e influências” podem “permitir, abrigar e reger a vida em todas as suas formas”? Serão em folhas de papel impresso?
  • As “interações” consideradas serão somente as de ordem física, química e biológica?

Conclui-se que esse conceito é similar à famosa “Sopa de Pedra”. Nela cabe de tudo. Porém, afora colocar uma pedra no meio do prato, nada é capaz de esclarecer. Trata-se de um mero jogo confuso de palavras, sem qualquer significado teórico e prático.

UMA VISÃO CONCRETA DO AMBIENTE

Os bons conceitos devem demonstrar de forma clara e objetiva o que significam. Tal como um filme que mostra como funciona e se estrutura o objeto a ser conceituado. Assim, tem-se o conceito factual para Ambiente:

“É qualquer porção da biosfera que resulta das relações físicas, químicas, biológicas, sociais, econômicas e culturais, catalisadas pela energia solar, mantidas pelos fatores ambientais que a constituem”.

Essas porções possuem distintos ecossistemas, que são terrestres, aquáticos e aéreos, e podem ser observados através do comportamento de seus fatores ambientais físicos [ar, água e solo], bióticos [flora e fauna] e antropogênicos [homem e suas atividades].

EXPLICA-SE O CONCEITO

Biosfera é a camada da Terra integrada à litosfera – que lhe serve de substrato –, onde ocorrem todos os seres vivos do planeta. A atmosfera e a hidrosfera são partes essenciais à biosfera e dela não são desvinculáveis. Dessa forma, biosfera, litosfera, hidrosfera e atmosfera conformam o Ambiente integrado do planeta.

Fatores ambientais ou fatores ambientais básicos são os componentes dos ecossistemas da Terra. Estão presentes em qualquer porção que se delimite em sua biosfera. Estes fatores são associados aos espaços ambientais que lhes são afetos, pela ordem: espaço físico [o ar, a água e o solo]; espaço biótico [a flora e a fauna]; e espaço antropogênico [o homem e suas atividades].

As relações mantidas entre os fatores ambientais são realizadas através de trocas de matéria e energia; são dinâmicas, interativas e aleatórias. Isto garante a estabilidade e a evolução dos sistemas ecológicos que conformam. Denominam-se relações ambientais.

Importante destacar o que deveria ser evidente: as relações ambientais, que se realizam há milênios, são energizadas pela luz solar, e possuem natureza física, química, biológica, social, econômica e cultural.

Por existirem o ar, a água, o solo, a flora e a fauna no mesmo cadinho da evolução da vida, o homo sapiens constitui, se tanto, a 6ª parte do Ambiente do Planeta. Porém, nem todos os notórios profissionais brasileiros têm consciência sobre desse fato.

POR FIM, CONCLUI-SE…

Em qualquer área do conhecimento é necessário estabelecer seus conceitos essenciais. Eles conformarão a base sólida para a construção do conhecimento, a qual será a fundação de seus processos, metodologias e práticas, até ser beneficiada por acadêmicos visionários. A ser assim, a robustez de conceitos, sem ambiguidades, é fundamental ao aprendizado e à evolução das ciências.

A propósito, o Ambiente não funciona como determinam os diplomas legais e os legisladores responsáveis por sua redação. Aliás, legisladores que não possuem qualquer conhecimento das ciências que explicam o Ambiente. Afinal, a Lei da Gravidade, com absoluta certeza, nunca poderá ser abolida por meio de Decreto-Lei.

RK_autorRicardo Kohn escreveu com exclusividade para AMBIENTAL MERCANTIL.
Especialista em Gestão do Ambiente e autor do livro:
“Ambiente e Sustentabilidade – Metodologias para Gestão”, editora LTC.
E-mail: ricardo.kohn@gmail.com

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