Resíduos da construção civil ganham o tratamento correto e ajudam o meio ambiente

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Foto: Photomat | Pixibay
Foto: Photomat | Pixibay

Imagem: Divulgação | Por Ângela Schreiber para o canal de Notícias Ambiental Mercantil

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Junho de 2020 – O correto descarte de resíduos da construção civil (RCC) representa uma preocupação constante. Também conhecidos como entulhos, eles são considerados os grandes vilões do meio ambiente. Por sorte, existem iniciativas que podem melhorar esta imagem. A cidade de Santos, no litoral paulista, é um bom exemplo. Com a criação do Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos Sólidos da Construção Civil, em 2013, o município alcançou a marca de 220 mil toneladas de entulho descartadas de forma correta, até o ano de 2018.

Segundo Ana Lúcia Dias, chefe do setor responsável pelo gerenciamento de resíduos, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a população mudou o seu comportamento.

“Hoje existe uma preocupação maior sobre onde descartar o entulho”, disse ela.

As informações foram publicadas no ano passado, no site da prefeitura.

O descarte adequado também é a preocupação da Rafa Entulhos, empresa que há 20 anos oferece soluções para o transporte e gerenciamento completo de RCC. Em entrevista por videoconferência, Rafael Teixeira, diretor da Rafa Entulhos, falou sobre o grande objetivo da empresa.

“É uma meta que chamamos de gestão 90+. Significa reciclar mais de 90% dos RCC que coletamos”, disse ele, complementando que durante as duas décadas de existência da empresa, foram feitas várias ações.

Segundo Rafael, a reciclagem sempre foi o objetivo da empresa. Para isso, a Rafa Entulhos abriu Áreas de Transbordo e Triagem (ATT), onde os resíduos são descartados para fazer a triagem e depois a reciclagem, e usinas especializadas em reciclar cada tipo de RCC.

O descarte irregular ainda existe. No mês passado, resíduos de massa asfáltica foram depositados em uma área verde da cidade de Uberaba (MG). O material, que é classificado como RCC, pode causar câncer, segundo um ambientalista. As informações estão no site www.jmonline.com.br.

A falta de conscientização preocupa Rafael. Ele acredita, porém, que a chegada da pandemia de coronavírus leve as pessoas a pensarem mais no meio ambiente.

“Acho que é o momento de começarmos a refletir sobre a geração e o tratamento dos resíduos. Agora é o momento de analisar as emissões de carbono, das empresas reverem as práticas de logística reversa. Parece que é o momento destas ações avançarem. Tratando o RCC de forma adequada, você poupa recursos naturais. A construção civil é a indústria que mais explora recursos naturais”.

Quanto aos resíduos com suspeita de contaminação, Rafael disse que a empresa adotou algumas práticas, as quais são transmitidas para as obras. O cuidado, que começa no gerador do resíduo, foi redobrado, pois as caçambas podem conter materiais como máscaras e luvas. Quando chegam nas unidades, os resíduos são descarregados e preservados.

“De acordo com o grau de suspeita, os resíduos ficam em preservação de 24 a 72 horas antes dos funcionários realizarem a triagem”.  

Para orientar as empresas que recebem, transbordam, triam e reciclam os Resíduos da Construção e Demolição (RCD) diante da pandemia de Covid-19, a Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (ABRECON), criou a diretiva N° 005/2020. O material está disponível para download no site do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo.

Manutenção de empregos

Outra empresa que lida com os RCC de forma sustentável é a Renotran Ambiental. Segundo Ednaldo Florenço da Silva, colaborador dos setores comercial, administrativo e financeiro, e que presta suporte na gestão de resíduos, o objetivo inicial era somente transportar os RCC.

“Porém os resíduos eram descartados em ATT e a maioria não tinha um destino correto, por falta de opção. Sendo assim, percebemos que criando uma usina, daríamos o tratamento correto para os resíduos que transportamos”, disse ele.

Em entrevista à Rede TV, Michael Gama, proprietário da Renotran, contou que decidiu sanar o problema criando, em 2014, uma usina de reciclagem de RCC.

“A própria construtora que gera o entulho traz para cá”, declarou o empresário, complementando que o material que chega na usina é transformado em agregados e blocos, e reutilizado na construção civil.

Segundo Ednaldo, a Renotran foi mais uma das empresas prejudicadas, com a chegada do coronavírus.

“Nosso faturamento caiu em 18,6%, mas até o momento não demitimos nenhum funcionário”. A empresa possui 52 funcionários, de acordo com o colaborador.

Segundo um artigo publicado no site https://www.migalhas.com.br no mês passado, é preciso administrar bem a situação econômica durante a crise, caso contrário, haverá um grande número de desempregados no setor. A construção civil gera muitos empregos no Brasil.  

A estimativa da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) é de que 94% dos canteiros estão em obras. Segundo o presidente da associação, Luís França, não existe, no momento, um grande número de distratos no setor.

“Manteve empregos, os compradores dos imóveis receberam na data conforme previsto, não estamos vendo nenhuma grande onda de cancelamentos e problemas. Em função da pandemia, você tem alguns casos e os casos pontualmente são conversados”, disse ele, em entrevista à Jovem Pan.

Legislação ambiental

As questões que envolvem o setor da construção civil passam pela Resolução N° 307/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), a qual estabelece diretrizes para a gestão dos RCC, bem como disciplina ações necessárias para minimizar os impactos ambientais.

A Resolução N° 307/2002 do CONAMA divide os RCC em quatro classes:
Classe A:
Compreende os resíduos reutilizáveis ou recicláveis, como agregados, tijolos, argamassa e concreto.
Classe B:
Estão os resíduos recicláveis para outras destinações, como plástico, papel, papelão, vidro e gesso.
Classe C:
São os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação (ex. produtos oriundos do gesso).
Classe D:
São os resíduos perigosos oriundos do processo de construção (tintas, solventes, óleos e outros), ou aqueles contaminados oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros.

Observação: a Resolução CONAMA Nº 307/2002 – “Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil”. – Data da legislação: 05/07/2002 – Publicação DOU nº 136, de 17/07/2002, págs. 95-96 foi Alterada pelas Resoluções nsº 348/2004, 431/2011, 448/2012 e 469/2015.

“O Brasil está muito bem servido em legislação ambiental, fato que o coloca em posição de destaque neste assunto no mundo”, explica aos alunos o professor Amândio Martins, professor da Escola de Gestão e Contas Públicas Conselheiro Eurípedes Sales, quando questionado sobre a destinação de resíduos sólidos, de uma forma geral.

Considerada uma das mais avançadas e completas do mundo, a legislação ambiental brasileira diz respeito ao cidadão e às organizações de qualquer natureza. São apontadas como marcos nas questões do meio ambiente a Lei dos Crimes Ambientais – Número 9.605/1998, responsável pela reordenação da legislação ambiental brasileira, no que se refere às infrações e punições, e a Lei da Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS) – Número 12.305/2010, responsável por programas que promovam a boa gestão e descarte de resíduos sólidos provenientes da ação humana, principalmente resultante de atividades econômicas.

Amândio alertou também para a desorganização em um canteiro de obras.

“É terreno fértil para acidentes de trabalho e desperdício de materiais”.

A limpeza constante do canteiro de obras, principalmente em tempos de pandemia, significa redução dos custos e otimização do andamento das obras. A afirmação é de Rodrigo Pacheco Silva, CEO da empresa de construção civil Nosso Lar.

“Nos deu um resultado sensacional. Uma dica simples e que funciona de forma eficaz e influencia diretamente na organização, minimizando trabalhos e esforços desnecessários”, disse ele.

Desta forma, segundo Rodrigo, desperdícios e acidentes são evitados.

“Todo o colaborador gosta de trabalhar em um lugar organizado, o tornando mais feliz. Com esse efeito executam suas funções de forma mais alegre e com rapidez”.

As informações estão no site www.terra.com.br.

Amândio disse ainda que é preciso pensar em um ambiente limpo em nível mundial.

“Veja o que está acontecendo neste momento, com o advento da pandemia de Covid-19. Rios e oceanos mais limpos e vida aquática se refazendo, certas espécies de animais aparecendo em áreas onde imaginavam não mais existirem, céu estrelado em áreas urbanas densamente povoadas (como no município de São Paulo), e muitos outros exemplos. O ser humano é capaz de refazer o meio ambiente, com consciência, sem a pressão de um vírus, e tem inteligência para tal”.

A reciclagem de RCC ganhou o mundo acadêmico. Há 20 anos, a professora Gladis Camarini pesquisa a reciclagem de resíduos de gesso da construção civil, na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp.

Tijolos produzidos a partir de gesso e resíduos de cerâmica e porcelana são o resultado mais recente da pesquisa. O assunto foi parar nas páginas da Construction and Building Materials, revista que divulga assuntos inovadores na área de reforma e construção. As informações são do Jornal da Unicamp e foram publicadas no site https://www.ecycle.com.br/ no dia 22 de maio.

Sobre os entrevistados

Rafa Entulhos

Foto: Rafael Teixeira, diretor da Rafa Entulhos

A Rafa Entulhos nasceu há 20 anos e é uma empresa genuinamente familiar. Criada pelo Sr. Idaécio, pai de Rafael Teixeira, o negócio foi passando de geração para geração. Localizada em Santo André, na Região do Grande ABC, a Rafa Entulhos atua em mais de 39 municípios do estado de São Paulo. A empresa conta hoje com 1.000 caçambas, dezenas de caminhões e 7 mineradoras urbanas com capacidade para processar 120.000 coletas e 480.000 toneladas de resíduos por ano.
Site oficial: https://rafaentulhos.com.br

Renotran Ambiental

Divulgação

A Renotran Ambiental está localizada em Carapicuíba, região metropolitana de São Paulo, e possui uma filial na capital paulista. Fundada no ano 2000, a empresa tinha como objetivo inicial locar caçambas para a remoção de RCC. Com a expansão dos negócios, hoje atua também nas áreas de gerenciamento de resíduos, demolição e reciclagem de gesso. Sua sede própria possui mais de 20.000 m² e abriga mais de 40 veículos entre tratores, caminhões e carros e quase 1.000 caçambas.
Site: www.renotran.com.br

Sobre Amândio Martins

Foto: Eng. Amândio Martins

Amândio Martins é Engenheiro Civil formado na Faculdade de Engenharia da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), com larga experiência na área pública. Trabalha atualmente no Tribunal de Contas do Município de São Paulo.

Ele trabalha atualmente no Tribunal de Contas do Município de São Paulo.

Premiações recebidas pelo Instituto de Engenharia:
– Melhor Trabalho do Ano analisando temas de interesse do setor público (2014) “Transformação de Resíduos da Construção Civil e Demolição: um negócio rentável na cidade de São Paulo?”

– Melhor Trabalho do Ano analisando temas de interesse do setor público (2016) “Sistemas de Gerência de Manutenção de Pavimentos Urbanos e Índices de Serventia do Pavimento”.

Por Ângela Schreiber, em contribuição a Ambiental Mercantil Notícias. Conecte-se com a gente!

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