Imagem: Silvio Klotz
Outubro de 2022 – Práticas ESG estão ao alcance de negócios de todos os tamanhos, desde que existam compromissos claros e uma cultura interna de inovação.
Pequenas e médias empresas podem, sim, ser protagonistas do desenvolvimento social e da preservação da natureza. É o que indica o exemplo da Nugali Chocolates, premiada pela alta qualidade dos produtos e por soluções criativas que podem estimular outros empreendedores a promover impacto ambiental e social.
Pioneira no Brasil em chocolates bean to bar, em que o fabricante controla a produção desde a plantação de cacau até o consumidor, a marca de Pomerode (SC) desenvolveu uma cadeia produtiva permeada pela sustentabilidade.
O cacau vem de plantadores que respeitam o meio ambiente (e recebem mais por isso), a energia da fábrica é limpa, a geração de lixo está perto de zero e as atividades industriais estão integradas à natureza e às comunidades do entorno.
A sede da empresa, com tour de fábrica, fica numa zona tombada como patrimônio histórico nacional, onde o turismo gera renda e evita o êxodo dos filhos das famílias que por ali vivem há mais de um século.
Uma série de pequenas ações e melhorias fará a diferença para a construção de uma pequena ou média empresa ESG. Para começar, é preciso entender os impactos da atividade econômica, mapear os processos e então implementar soluções gradativamente. O exemplo da Nugali é baseado na inovação, na constância e principalmente no compromisso de todos os trabalhadores e parceiros — avalia a fundadora da marca, Maitê Lang.
Crédito: Silvio Klotz
Conheça algumas das sugestões da Nugali para inspirar empreendedores a investir em práticas ESG.
- Tratar a preservação como um ativo
Cacaueiros são plantas que precisam de sombra para desenvolver-se. No relevo acidentado do sul da Bahia, eles são cultivados no sistema “cabruca”, em pequenas aberturas entre as árvores nativas. A palavra é uma junção de “Caá” (mata, em tupi) com “brocar” — brocar a mata ou abrir caminhos para o plantio. O cacau é responsável por preservar quase toda a área remanescente de Mata Atlântica na região.
Além da Bahia, a Nugali compra matéria-prima no Pará, onde o terreno é mais uniforme e os cacaueiros são plantados em sistemas agroflorestais, de forma ordenada, sob a proteção da floresta Amazônica.
Essas técnicas de cultivo foram incorporadas como um ativo da empresa, a ser percebido na qualidade dos produtos. Ao mesmo tempo em que conservam a natureza, elas produzem amêndoas de cacau de características únicas, com terroir, o que resulta em chocolates de sabor inigualável.
- Reduzir o consumo de água e energia
Como signatária dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, a Nugali capta e reutiliza 30 mil litros por mês de água da chuva, que regam a estufa de cacau construída para visitação, os jardins da fábrica, além de servirem à limpeza das áreas externas.
A edificação também é coberta de placas fotovoltaicas capazes de fornecer grande parte da energia elétrica necessária à produção de chocolates.
No site da Nugali e em uma tela instalada na loja de fábrica, pode-se acompanhar os números de geração de energia renovável em tempo real.
- Diminuir a zero a geração de lixo
Com mais de 98% dos resíduos gerados compostados, reciclados ou reaproveitados, a Nugali é uma indústria com certificado Lixo Zero. Esse programa estimula empresas a reduzir ao máximo o envio de materiais para aterros sanitários ou industriais.
Uma das medidas mais impactantes é o desenvolvimento de embalagens 100% biodegradáveis, inéditas para o setor no país. Chocolates são produtos delicados e exigem uma solução própria. Embalagens internas em biofilme reduziram em mais de 80% o uso de plásticos descartáveis nos produtos da marca.
A Nugali também mantém um programa de logística reversa, que consiste na compra de créditos para compensar eventuais impactos de embalagens não recicladas após o consumo. A iniciativa gera renda para catadores e contribui para ampliar os índices de reciclagem no país.
- Enxergar valor no que iria para o aterro
Uma composteira instalada no jardim da fábrica em Pomerode recebe os resíduos orgânicos que não podem ser reciclados. Eles viram adubo para as plantas do jardim e da estufa. Mas a fabricação de chocolate impunha um desafio adicional: o que fazer com as cascas de cacau que sobram da produção?
Ao contrário da maioria das marcas do setor no Brasil, a Nugali faz os seus chocolates a partir das amêndoas de cacau (processo bean to bar), que são torradas na fábrica.
Ricas em micronutrientes para as plantas, elas funcionam como um excelente adubo. Evitam ervas daninhas, mantêm a umidade do solo e ainda deixam o ambiente com cheirinho de chocolate. Mas não haveria jardim suficiente na Nugali para receber mais de 10 toneladas por ano.
A solução foi transformá-las num produto à parte, destinado ao mercado de jardinagem. A prática inovadora garante faturamento extra com o que poderia virar lixo num aterro sanitário ou industrial.
- Ser uma empresa Carbono Neutro
A Nugali tornou-se uma empresa Carbono Neutro, reduzindo emissões de gases do efeito estufa e compensando o impacto das atividades da empresa no meio ambiente. O caminho para conquistar esse status demanda disciplina, mas é acessível a pequenos e médios negócios.
O primeiro passo é calcular o impacto da empresa em emissões de gases, por meio do programa GHG Protocol. Com base no Inventário de Emissão de Gases de Efeito Estufa, precisam ser adotadas estratégias para diminuir e neutralizar carbono nos processos internos.
Além do investimento em energia solar, a Nugali apoia o projeto TRM Renewable Energy 2, responsável pela implementação e operação de usinas de energia renovável no Brasil. Com isso, a fábrica evita a geração de eletricidade por meio de combustíveis fósseis.
Em paralelo, compra créditos de carbono como compensação ambiental, beneficiando a cadeia internacional pela redução nas emissões de gases nocivos ao planeta.
- Valorizar o que é nativo do entorno
A fábrica da Nugali em Pomerode é vizinha a uma área de 30 mil metros quadrados de Mata Atlântica secundária, em regeneração, que abriga animais e plantas catarinenses. No jardim que cerca a edificação, a empresa plantou centenas de árvores nativas, como ipês, manacás-da-serra, manacás-de-cheiro, ingás e muitas outras. São espécies nectaríferas e poliníferas, prato cheio para insetos e pássaros.
Na estufa de cacau construída em pleno Vale do Itajaí, há colmeias de abelhas sem ferrão, como mandaçaia, mirim e jataí — que de tão minúsculas são capazes de polinizar as flores pequenas do cacaueiro.
Quem visita o tour de fábrica da Nugali conhece mais sobre esses doces insetos que trabalham intensamente para a diversidade da flora. Mais da metade da polinização em florestas é de responsabilidade das abelhas.
- Integrar o negócio à sociedade local
A fábrica da Nugali Chocolates está localizada na Rota do Enxaimel, zona de interesse histórico em Pomerode, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em 2021, ela foi eleita pelas Nações Unidas como uma das melhores vilas turísticas do mundo, trabalho liderado pela Associação Rota do Enxaimel, da qual a empresa participa ativamente.
A Rota possui o maior conjunto de casas no estilo enxaimel fora da Alemanha, com cerca de 50 construções preservadas. Elas estão inseridas numa paisagem rural, cercada de morros cobertos de Mata Atlântica, e onde residem famílias que preservam costumes e o idioma dos imigrantes germânicos.
Uma zona tão delicada culturalmente exigiu da Nugali zelo especial na construção da fábrica, que está integrada à paisagem. A estufa de cacau segue a mesma técnica construtiva, por exemplo.
Outra contribuição social da empresa, no Pará e na Bahia, é a compra de cacau direto de pequenos produtores, com preço acima das cotações internacionais. O objetivo é estimular a agricultura familiar, o associativismo e promover a melhoria da renda e da qualidade de vida no campo.
Site oficial: https://www.nugali.com.br/
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Imprensa | Nugali Chocolates