Saneamento, de bem com a vida #6: “Perdas de Água: Os impactos desconsiderados que persistem”

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Álvaro Costa é engenheiro civil e consultor. Escreve como Colunista do editorial AMBIENTAL MERCANTIL ÁGUAS E SANEAMENTO
Álvaro Costa é engenheiro civil e consultor. Escreve como Colunista do editorial AMBIENTAL MERCANTIL ÁGUAS E SANEAMENTO

Imagem: Divulgação #6 | Álvaro José Menezes da Costa é Engenheiro Civil, MSc em Recursos Hídricos e Saneamento, CP3P. Sua coluna “Saneamento, de bem com a vida” aborda temas atuais e de importância para o setor de Águas e Saneamento, contribuindo com visão crítica e experiência profissional para nosso editorial AMBIENTAL MERCANTIL ÁGUAS E SANEAMENTO

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Junho de 2023 – Há alguns anos que o Instituto Trata Brasil presta um relevante serviço de divulgação dos índices de Perdas de Água no Brasil, porém, infelizmente, apesar do tempo decorrido, tem sido difícil reduzir as perdas e mantê-las em níveis economicamente sustentáveis. Entre a década de 90 e seus PECOPs-Programas Estaduais de Controle de Perdas, e o primeiro quinto do século XXI, houve avanços tecnológicos, mas a adoção de uma ação gerencial permanente e contínua voltada para eficiência plena na gestão dos serviços de abastecimento de água, não é a realidade ainda.

A meta de 25% de perdas até 2033 como referência mais econômica que técnica, é válida como incentivo à busca de modelos gerenciais que trabalhem com indicadores, que de fato meçam o nível de perdas reais e aparentes a partir da redução de volumes perdidos e do equilíbrio operacional do volume disponibilizado.

Ou seja, trabalhar com os volumes para chegar ao percentual mais compreensível para a sociedade, é um processo que ainda não se consolidou no Brasil pelo resultados que pouco se alteram ano a ano, segundo o Trata Brasil e o SNIS.

Segundo relatórios do Banco Mundial, as causas dos fracassos em programas de redução de perdas de água são:

  • Pouco conhecimento da natureza das perdas (Reais? Aparentes? Quanto? Onde? Como?);
  • Dificuldade em dar valor ao impacto das perdas no prestador de serviços e para a sociedade;
  • Elaboração de projetos deficientes;
  • Custos extremamente subestimados;
  • Projetos inconsistentes, só para conseguir fundos;
  • Fracasso em perceber que a redução de perdas é: não só um problema técnico isolado; inerente ao gerenciamento e operação dos sistemas, como um todo; não apenas uma atividade eventual, mas que requer comprometimento contínuo e a longo prazo.

Caso fosse possível resumir as causas relacionadas anteriormente numa frase, poderia se voltar ao início do texto e dizer: os programas de redução de perdas fracassam por falta de gestão.

Não há novidade nisto. Desde os PECOPs que se fala na importância da redução de perdas de água ser um compromisso empresarial e política estratégica de sustentabilidade.

Quando se tratar de prevenção, redução e controle de perdas de água, é imperioso estabelecer um modelo de gestão operacional que rompa paradigmas e mude a cultura gerencial, de modo a se ter como política empresarial a identificação rápida e o mais precisa possível, de quanto se perde de água; onde estas perdas acontecem e por que acontecem. Este conhecimento pode então servir de base para o estabelecimento de planos de ação baseados em estratégias sustentáveis , que garantam a perenidade dos resultados que venham a ser alcançados.

O roteiro proposto por pesquisadores da International Water Association (IWA) é sumarizado no esquema seguinte:

Fonte: Malcolm Farley, traduzido e adaptado por Airton Gomes

O roteiro apresentado na figura anterior retrata uma sequência de atividades com atividades e reflexos em toda estrutura da empresa prestadora de serviço. Não é encargo apenas de uma unidade reduzir, controlar e manter as perdas nos limites economicamente compatíveis com a realidade local. Considerando que exista um programa e a devida gestão do mesmo para reduzir as perdas, os resultados que podem ser alcançados são:

  • Universalização do atendimento com água das populações urbanas, com a expansão de redes e ligações, fim de intermitências e regularidade na pressão e vazão necessárias;
  • Postergação ou eliminação de investimentos na ampliação de produção e reservação;
  • Realização de melhorias e reabilitações operacionais necessárias nas unidades de produção, adução, bombeamento e reservação;
  • Manutenção das medidas de controle de perdas ao longo do tempo, sem onerar a tarifa de água;
  • Subsidiar em parte o alcance das metas de esgotamento sanitário.

O momento atual ainda está muito dominado pela ideia de CAPEX como solução. O que se almeja é mais investimento sem muita relevância para a melhoria obrigatória da gestão – dever da concessionária – e efetiva regulação para garantir a qualidade dos serviços – dever do poder público – quando o mais importante é ter um operador capaz de manter a boa gestão no longo prazo.

A conexão entre o novo marco regulatório e a redução de perdas de água não está associada ao CAPEX gerado pelos concessionários privados, pois ele abriu a oportunidade de operadores públicos e privados acelerarem as suas estratégias por eficiência empresarial visando alcançar as metas de universalização.

Para tanto, reduzir, controlar e manter as perdas de água reais e aparentes nos seus limites de eficiência econômica, é o melhor caminho.

Sobre o colunista

Álvaro José Menezes da Costa é Engenheiro Civil, MSc em Recursos Hídricos e Saneamento, CP3P. Especialista em Aproveitamento de Recursos Hídricos e Avaliação e Perícias de Engenharia; é autor de livro e capítulos de livros publicados sobre Gestão de Serviços e Reúso de Águas.

Foto: Álvaro José Menezes da Costa é Engenheiro Civil, MSc em Recursos Hídricos e Saneamento, CP3P

Desde 1985 é membro da ABES- Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, e desde 2008 atua como diretor nacional.

Em 2015 fundou a AMEC – Álvaro Menezes Engenharia e Consultoria, desenvolvendo estudos de modelagem para contratos de PPP, concessão, performance para redução de perdas, engenheiro independente, coordenador e instrutor em cursos de capacitação em regulação e PPP. Contato via LinkedIn.

Site oficial: 
https://www.amecengenhariaeconsultoria.com.br

Álvaro Costa é colunista e colaborador do editorial AMBIENTAL MERCANTIL ÁGUAS E SANEAMENTO. Através da sua observação pessoal, escreve periodicamente sobre o que acontece nos setores de gestão de águas e efluentes, recursos hídricos e saneamento básico. Todas as publicações de sua coluna podem ser acessadas neste link exclusivo:

Informamos que os conteúdos publicados pelos nossos colunistas são observações e opiniões independentes que expressam suas reflexões e experiências, sendo de responsabilidade deles; não refletindo, necessariamente, a opinião da redação do nosso editorial.

Crédito:
AMBIENTAL MERCANTIL ÁGUAS E SANEAMENTO | Por Álvaro Costa, colunista e colaborador

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