Focos de incêndio na Mata Atlântica tem seu período mais crítico ao fim da temporada de seca

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Imagem: Divulgação | Degradação das condições do solo utilizado para agropecuária, liberação de Gases de Efeito Estufa e impactos em áreas estratégicas do sistema de abastecimento de água estão entre as principais consequências

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Setembro de 2023 – O fim da temporada de estiagem no Sudeste, nos meses de agosto e setembro, é um dos períodos de maior incidência de queimadas, quando grande parte das ocorrências costuma acontecer.  Durante os meses mais secos, a umidade relativa do ar diminui significativamente. Com solo e vegetação mais secos devido à falta de chuvas, o fogo tem maior facilidade de se alastrar e sair do controle, causando incêndios que trazem grandes prejuízos à agricultura, ao solo, ao abastecimento de água e ao clima.

Neste ano, a estiagem pode se prolongar ainda mais, agravada pela ocorrência do fenômeno meteorológico El Niño, que aumenta as temperaturas médias e reduz a frequência e intensidade do regime de chuvas.

Uma preocupação extra para as 7 milhões de pessoas abastecidas pelo Sistema Cantareira, localizado na Mata Atlântica.   A região de um dos maiores sistemas de água do mundo já conta com um déficit de 35 milhões de árvores a serem plantadas nas áreas ao redor de nascentes, rios e reservatórios,a fim de aumentar a segurança hídrica do Sistema, que enfrenta o problema recorrente de incêndios todos os anos na época da seca.

O levantamento do MapBiomas, que monitora o uso do solo no Brasil, mostrou que no primeiro semestre de 2023, mais de 3 milhões de hectares sofreram com as queimadas no país. Apesar da redução de 1% em comparação aos dados do ano anterior, 20.686 hectares de Mata Atlântica foram queimados apenas no mês de julho. O bioma é um dos mais ameaçados e fragmentados do país devido à intensa degradação causada pelo desmatamento que tem como finalidade a utilização dessas áreas para a agropecuária, exploração madeireira e urbanização. Também é onde se concentra grande parte da população, que necessita da água, tanto para o consumo quanto para a execução de atividades econômicas e produção de alimentos.

Solos desprotegidos por vegetação possuem um maior escoamento superficial, o que leva à erosão. Este processo erosivo carrega sedimentos e contaminantes para os corpos d’água, afetando sua qualidade e elevando os custos de tratamento. A perda de vegetação diminui a capacidade das bacias hidrográficas de regular e armazenar água, o que pode intensificar períodos de seca e reduzir a disponibilidade de água.

A maioria dos incêndios na região do Sistema Cantareira é resultante da ação humana. O fogo ainda é muito utilizado para “limpeza” de terras para agricultura ou pastagem, queima de lixo ou de restos de podas. Nas plantações de eucalipto, que representam 16% da área do Sistema Cantareira, o fogo é utilizado para a retirada da vegetação intermediária, com a justificativa de facilitar o trabalho de corte da madeira. Apesar de ilegal e passível de penalidades, a fiscalização ainda é muito baixa. Nas pastagens, que são o uso da terra mais comum na região, equivalente a 46% da área do Sistema, a queima é utilizada para estimular a rebrota do capim.

“Pode parecer que o fogo facilita o trabalho, mas no longo prazo as queimadas agravam muito a degradação do solo. Em uma área queimada, por exemplo, a vegetação não tem a capacidade de absorver tão rapidamente os nutrientes disponibilizados pela rápida decomposição da matéria orgânica pelo fogo, e eles são perdidos, levados pelo ar e pela água da chuva. Além disso, o fogo mata grande parte da vida do solo – uma infinidade de microrganismos que atuam na ciclagem de nutrientes dos quais a vegetação necessita. Esse solo vai demorar muito mais tempo para se recuperar, necessitando de mais insumos no longo prazo, o que aumenta os custos de produção e manutenção.” explica Paulo Ferro, engenheiro florestal e extensionista do Projeto Semeando Água, uma iniciativa do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

A ampla extensão de solos degradados em propriedades rurais dificulta a infiltração da água da chuva e reabastecimento dos lençóis freáticos. Promover práticas de produção sustentáveis na agricultura é uma das estratégias para que a fertilidade da terra se mantenha no longo prazo, e consequentemente, seja capaz de produzir os resultados esperados. Técnicas como Sistemas Agroflorestais e Manejo da Pastagem Ecológica também contribuem para aumentar a segurança hídrica.

As queimadas podem trazer prejuízos adicionais, ao atingir edificações e infraestruturas, e colocar vidas em risco. Representam uma ameaça devastadora para a fauna, o que perde seu habitat, abrigo e fontes de alimento e, em muitos casos, a vida. Além disso, a alteração do habitat pode resultar em desequilíbrios ecológicos, onde espécies invasoras ou oportunistas podem se beneficiar da perturbação.

“Enquanto os incêndios destroem a vegetação em poucas horas e ainda liberam Gases de Efeito Estufa que agravam às Mudanças Climáticas, a restauração das florestas é um processo que leva muitos anos. Florestas maduras tem o importante papel de armazenarem os maiores estoques de carbono, além de contribuírem para a conservação da biodiversidade e fornecimento de serviços ecossistêmicos, os serviços prestados pela natureza, como a água, por exemplo, de qualidade e em quantidade essencial para a região do Sistema Cantareira.”, reforça Alexandre Uezu, coordenado do Projeto Semeando Água.

Medidas de prevenção para que o fogo não se alastre, como a manutenção de aceiros (faixas onde a vegetação é removida ao longo de divisas, cercas e áreas de floresta nativa) são cruciais neste período. A colaboração da população também tem um papel central na redução dos focos de incêndio, com benefícios compartilhados com a sociedade.

Site oficial: https://ipe.org.br/

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