Ameaçada de extinção, sementes e mudas de palmeira-juçara são usadas para enriquecer trecho de Mata Atlântica na Reserva Natural Salto Morato

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Foto: Fernando Carvalho | Aves alimentam-se dos frutos da palmeira-juçara e são consideradas uma das principais dispersoras de sementes da espécie.
Foto: Fernando Carvalho | Aves alimentam-se dos frutos da palmeira-juçara e são consideradas uma das principais dispersoras de sementes da espécie.

Imagem: Divulgação

  • Desde 2009, foram dispersadas cerca de 94 mil sementes em 13 hectares da Reserva Natural Salto Morato
  • Neste ano, mais oito hectares da Unidade de Conservação, criada e mantida pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, devem ser enriquecidos com a palmeira-juçara
  • Palmeira cumpre importante papel na ecologia de várias espécies, como alimento para aves, que também ajudam a dispersar sementes
  • Fruto da juçara tem polpa parecida com a do açaí e pode ser fonte de renda para produtores
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Outubro de 2024 –palmeira-juçara (Euterpe edulis), espécie nativa da Mata Atlântica ameaçada de extinção e protegida por leis, tem ganhado espaço na Reserva Natural Salto Morato, em Guaraqueçaba (PR). Desde 2009, milhares de mudas e sementes foram plantadas em diferentes áreas da Unidade de Conservação para enriquecer trechos degradados da floresta e contribuir com a conservação da espécie. Ao todo, 13 hectares já foram beneficiados com mais de 10 mil mudas plantadas e cerca de 94 mil sementes. Neste ano, a meta é atingir mais 8 hectares enriquecidos, totalizando 210 mil metros quadrados.  

A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) é uma unidade de conservação criada e mantida pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza desde 1994. Localizada em uma área reconhecida pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade e em meio à Grande Reserva Mata Atlântica, a reserva é aberta para a visitação do público e também é espaço de estudo para pesquisadores dedicados à conservação da natureza

“Desde 2009, estamos dedicados ao enriquecimento com palmeira-juçara de trechos de floresta que, antes da criação da Reserva, foram degradados pela criação de búfalos dos antigos proprietários. Nos trechos mais críticos de desmatamento, os esforços foram direcionados para o plantio de espécies nativas frutíferas e para a condução da regeneração natural, importante técnica de restauração que leva em conta a resiliência local”, explica o biólogo e gerente da Reserva Natural Salto Morato, André Zecchin. “Ameaçada de extinção em decorrência do corte excessivo e predatório que houve no passado em toda a Mata Atlântica, a juçara é um foco de conservação para nós.” 

Essa palmeira cumpre papel-chave na natureza, uma vez que produz frutos que servem de alimento para diversas espécies de animais.

“Um exemplo é a jacutinga (Aburria jacutinga), ave também ameaçada de extinção que se alimenta desses frutos e ajuda a dispersar as sementes da planta. Consequentemente, a juçara proporciona o crescimento de outros tipos vegetais no seu entorno, já que as aves dispersam sementes de outras espécies enquanto se alimentam”, explica Zecchin. 

Além disso, a conservação de espécies vegetais pode ser considerada uma Solução Baseada na Natureza (SBN), considerando o potencial das florestas em contribuir com a regulação do fluxo de mananciais hídricos e regulação climática. 

Extração predatória 

O corte predatório de juçara para exploração e extração de palmito fez com que ela entrasse para a Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção do Ibama. Diferentemente da palmeira-pupunha (Bactris gasipaes), que fornece o palmito e volta a crescer com certa rapidez após ser cortada, a palmeira-juçara não aceita a extração do palmito e, quando cortada, morre. Medidas legais protetivas da espécie, iniciativas de educação ambiental e ações de fiscalização buscam inibir a prática criminosa de extração do palmito-juçara. 

“A palmeira-pupunha é uma espécie que chegou como alternativa para propriedades rurais do entorno da reserva depois que o corte do palmito da juçara passou a ser proibido”, comenta Zecchin. “Ao retirar o palmito da pupunha, outro caule volta a crescer em menos de dois anos e pode ser retirado novamente. Já a juçara leva mais de dez anos para chegar no ponto de corte, além de morrer quando o palmito é extraído. Ou seja, o corte ilegal e predatório desencadeia um desequilíbrio ecológico e dificulta a manutenção da espécie.”  

Em outra frente, o fruto da palmeira-juçara agrega valor e é uma alternativa sustentável e regenerativa à extração do palmito, o que ajuda a manter a espécie e a floresta em pé.

“Com cor e sabor parecidos aos do açaí produzido no Norte do país e considerado um alimento muito saudável, o fruto da juçara contribui para a formação e consolidação da cadeia de valor de produtos agroflorestais e gera renda para produtores rurais, já que com a sua polpa é produzido o chamado ‘juçaí’ ou ‘açaí da Mata Atlântica’, atualmente comercializado por diferentes empresas”, conta Zecchin. 

Sobre a Reserva Natural Salto Morato 

Criada em 1994 e mantida desde então pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, a Reserva Natural Salto Morato está localizada em Guaraqueçaba, litoral norte do Paraná, e inserida na região da Grande Reserva Mata Atlântica – região que abriga o maior remanescente contínuo do bioma no país. Com área protegida de 2.253 hectares, a Unidade de Conservação (UC) contribui para a proteção da Mata Atlântica e sua biodiversidade, além de ser uma Solução Baseada na Natureza (SBN) para a adaptação às mudanças climáticas, contribuindo com a infiltração da água no solo, o abastecimento de mananciais, a regulação do microclima, a manutenção da fertilidade do solo, a fixação de carbono e a proteção das encostas. Localizada em uma região reconhecida pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade, é referência no turismo de natureza e na promoção de pesquisas científicas voltadas à conservação da natureza. No local, já foram identificadas 324 espécies de aves, 36 de répteis, 102 de mamíferos, 54 de anfíbios, 69 de peixes e 693 de plantas.  

Sobre a Fundação Grupo Boticário 

Com mais de 30 anos de história, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma das principais fundações empresariais do Brasil que atuam para conservar o patrimônio natural brasileiro. Com foco na adaptação da sociedade às mudanças climáticas, especialmente em relação à segurança hídrica e à proteção costeira, a instituição trabalha para que a conservação da biodiversidade seja priorizada em todos os setores. Alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, considera que a natureza é a base para o desenvolvimento social e econômico do país. Sem fins lucrativos e mantida pelo Grupo Boticário, a Fundação Grupo Boticário contribui para que diferentes atores estejam mobilizados em busca de soluções para os principais desafios ambientais, sociais e econômicos. Já apoiou mais de 1.700 iniciativas em todos os biomas no país. Criou e mantém duas reservas naturais de Mata Atlântica e Cerrado – os biomas mais ameaçados do Brasil pelo desmatamento –, somando 11 mil hectares, o equivalente a 70 Parques do Ibirapuera. Com 1,4 milhão de seguidores nas redes sociais, busca também aproximar a natureza do cotidiano das pessoas. A instituição é fruto da inspiração de Miguel Krigsner, fundador e presidente do Conselho do Grupo Boticário, criada em 1990, dois anos antes da Rio-92 ou Cúpula da Terra, evento que foi um marco para a conservação ambiental mundial.

Site oficial: https://www.fundacaogrupoboticario.org.br

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