Imagem: Divulgação | Animal chegou bem e passará a viver em recinto adaptado, com foco no bem-estar e na conservação da espécie.
Maio de 2025 – O Instituto Ampara Animal, referência nacional nos cuidados com a fauna silvestre, recebeu nesta semana uma onça-pintada (Panthera onca) vinda do Pantanal de Mato Grosso do Sul. A decisão da transferência foi tomada pelos órgãos ambientais responsáveis — o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP), vinculado ao ICMBio em conjunto com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (SEMADESC) do MS.
A captura e remoção do animal foi decidida em conjunto pelos órgãos governamentais competentes a partir de avaliação de riscos de novos acidentes na região, pelo comportamento de excessiva habituação ao ser humano. A destinação temporária foi o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) em Campo Grande (MS) gerenciado pelo Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (IMASUL).
“Estamos falando de um animal com comportamento habituado à presença humana — ou seja, ele perdeu parte de seus instintos naturais de fuga, o que torna sua reintegração à natureza mais complexa e perigosa, tanto para ele quanto para as pessoas”, afirma o médico-veterinário Jorge Salomão, responsável técnico pelo mantenedor de fauna do Instituto Ampara Animal. “Durante o transporte, a onça se manteve estável, chegou bem e já está recebendo todos os cuidados necessários para esse momento delicado de adaptação.”
Trata-se de um macho, com idade estimada em 9 anos, múltiplas cicatrizes. Durante sua estadia anterior no CRAS – IMASUL/MS, o animal ganhou 13 quilos e passou por exames clínicos e laboratoriais que mostraram uma recuperação desde sua captura. Esses dados são fundamentais para ampliar o conhecimento sobre a biologia e o comportamento da espécie e do próprio indivíduo. Os procedimentos foram realizados com a supervisão da equipe técnica do Estado do MS.
No Instituto Ampara Animal, a onça passará a viver em um recinto que será especialmente adaptado às suas necessidades. A estrutura contará com ampliação da área aquática, em respeito às origens pantaneiras do animal e seu hábito de nadar e circular por áreas alagadas. O espaço não é aberto à visitação e terá como foco absoluto a recuperação física e emocional do indivíduo, promovendo o máximo de bem-estar possível em um contexto de cativeiro.
Hoje, o Instituto Ampara Animal já cuida de oito onças, 5 onças-pintadas e três onças-pardas em seu mantenedor, vítimas da interferência humana e que, por diferentes razões, não puderam retornar à natureza. Cada uma delas recebe atenção individualizada, com cuidados especializados e um compromisso contínuo com seu bem-estar.
“Nós sabemos que o cativeiro nunca é o fim ideal para nenhum animal silvestre. Mas também entendemos que, diante desse contexto específico, essa é a melhor alternativa para esse animal. Nosso compromisso é oferecer a melhor qualidade de vida possível para ele, com todo respeito e dignidade que sua espécie merece”, afirma Juliana Camargo, fundadora e presidente do Instituto Ampara Animal. “Vamos construir um recinto adaptado, silencioso, com estímulos naturais, e nossa atenção estará voltada para o bem-estar e a adaptação desse indivíduo.”
O encaminhamento do animal atendeu as definições e critérios de destinação indicados pelo Programa de Conservação ex-situ do ICMBio, coordenado pelo CENAP. Esse programa está dentro do Plano de Manejo Populacional para a Onça-Pintada, uma ação do Plano de Ação Nacional para a Conservação de Grandes Felinos.
As instalações onde o animal viverá é o Criadouro Científico para fins de Conservação do Instituto Ampara Animal. O instituto é signatário do programa, promovendo a manutenção das onças-pintadas sob orientação do ICMBio. A instituição atua em alinhamento com os princípios da conservação da biodiversidade, do bem-estar animal e da ética. A confiança depositada pelo CENAP na instituição reforça a importância da colaboração entre sociedade civil organizada e os órgãos públicos na preservação da fauna brasileira.
Mais do que um caso isolado, essa situação expõe a urgência de um trabalho integrado e responsável para garantir a coexistência entre humanos e grandes felinos. Essa integração passa por todos os elos envolvidos: desde a responsabilidade da mídia na forma como narra os fatos, até a cooperação entre as instituições públicas e privadas nas investigações, coleta de dados, cuidados com os animais, implementação de medidas preventivas e ações educativas junto às comunidades locais. Cada etapa é fundamental para reduzir os conflitos, proteger vidas e garantir o futuro das onças-pintadas.
A onça-pintada é uma espécie classificada como vulnerável à extinção e enfrenta múltiplas pressões: perda de habitat, avanço das fronteiras agrícolas, redução de presas naturais, fragmentação das áreas de ocorrência e, cada vez mais, conflitos com seres humanos. Episódios como o recente — amplamente divulgados pela mídia sob uma ótica de medo e sensacionalismo — contribuem para reforçar estigmas que prejudicam os esforços de conservação.
“Não podemos tratar esse animal como culpado. É preciso mais empatia e responsabilidade coletiva. Coexistência é o único caminho possível.”, pontua Juliana Camargo.
A chegada da onça-pintada ao Instituto marca o início de uma nova fase para esse animal, que será conduzida com transparência, rigor técnico e sensibilidade. A expectativa é que ele permaneça sob cuidados permanentes e contribua para ações de conservação da espécie a longo prazo.
Site Oficial: https://institutoamparanimal.org.br
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