Opinião de Especialista: Adaptação às mudanças climáticas depende de ações locais e urgentes, alerta especialista

Fotografia: Renata Salles
Fotografia: Renata Salles

Imagem: Divulgação | Engenheiro florestal que já participou de 18 COPs afirma que Brasil tem a oportunidade histórica de posicionar a natureza no centro das soluções para as cidades, áreas rurais e regiões costeiras.

Junho de 2025 – A adaptação às mudanças climáticas exige ações locais, desenhadas de acordo com a realidade e as vulnerabilidades de cada território. É o que defende o engenheiro florestal André Ferretti, gerente de economia da biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN). Com 18 participações em edições da Conferência do Clima da ONU (COPs) desde 2000, ele alerta para a urgência de preparar cidades, áreas rurais e regiões costeiras para os efeitos já visíveis das mudanças climáticas.

“Enquanto a mitigação das emissões de gases de efeito estufa tem sempre um resultado global, a adaptação precisa ser feita no território, de forma personalizada e considerando as especificidades locais”, afirma Ferretti. Segundo ele, mesmo com esforços internacionais para reduzir emissões, os impactos climáticos continuarão e exigirão respostas rápidas, justas e eficazes. “Se apenas os países mais ricos se adaptarem, os demais seguirão vulneráveis, mesmo tendo contribuído menos para a crise climática”, completa.

A natureza como aliada

Ferretti ressalta que a adaptação às mudanças envolve não apenas aumentar recursos financeiros, mas também desenvolver bons projetos, novas tecnologias e formar profissionais capacitados a enxergar os territórios com uma lente climática. Nesse contexto, as Soluções Baseadas na Natureza (SBN) são apontadas como alternativas eficazes e sustentáveis.

Entre as iniciativas recomendadas estão a restauração de áreas naturais, o reforço e recuperação de vegetação em encostas, a implantação de telhados verdes, drenagem urbana sustentável e a proteção de ecossistemas como manguezais e recifes de corais. Essas ações, além de reduzir riscos de enchentes, deslizamentos e ilhas de calor, contribuem para a retenção de água no solo, a proteção da biodiversidade e a melhoria da qualidade de vida urbana.

“Restauração da vegetação em áreas degradadas, corredores ecológicos para a biodiversidade e a proteção de florestas, manguezais e recifes de corais trazem enormes benefícios para a vida no planeta”, pontua. “Devemos usar a própria natureza e os ecossistemas naturais para nos ajudar a reencontrar a sustentabilidade, reencontrar caminhos que nos levem a uma maior qualidade de vida, resiliência das cidades e segurança da sociedade”, completa.

Um exemplo concreto do potencial econômico e ambiental da conservação da natureza está no recente estudo lançado pela Fundação Grupo Boticário em parceria com o Projeto Cazul. A pesquisa revelou que os manguezais brasileiros armazenam 1,9 bilhão de toneladas de dióxido de carbono (CO₂), o que poderia gerar, pelo menos, R$ 48,9 bilhões em créditos de carbono.

“Essa é a demonstração de que conservar a natureza é não apenas vital para a adaptação climática, mas também uma oportunidade econômica relevante para o Brasil”, destaca Ferretti.

Oportunidade histórica 

Com a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro deste ano, em Belém (PA), o Brasil tem a oportunidade de reforçar seu protagonismo ambiental. Para Ferretti, o país reúne atributos únicos para liderar a agenda, conciliando conservação ambiental, mitigação de emissões e adaptação às mudanças climáticas.

“A combinação de biodiversidade, áreas protegidas, matriz energética limpa com potencial de expansão e a possibilidade de retirar carbono da atmosfera por meio da conservação e restauração de ecossistemas confere ao Brasil uma condição estratégica no cenário climático global”, analisa o especialista.

Ele ressalta ainda que, apesar das contradições no uso de recursos naturais e do desafio do desmatamento, o país já oferece soluções que podem inspirar o mundo — dos biocombustíveis às energias renováveis, passando pela agricultura de baixo carbono.

O especialista celebra ainda a crescente participação da sociedade civil e do setor privado nas Conferências do Clima, especialmente nos eventos paralelos às negociações oficiais. “A grande diferença está nessa maior presença dos diversos setores da sociedade no debate climático. Essa pauta, há muito tempo, deixou de ser exclusiva de ambientalistas — e isso é muito positivo para o futuro das políticas climáticas”, conclui o gerente da Fundação Grupo Boticário, instituição que há 35 anos atua a favor da conservação da biodiversidade brasileira, com forte atuação em adaptação climática.

Raio X – André Ferretti

O engenheiro florestal André Ferretti é um dos brasileiros com mais experiência nas Conferências do Clima da ONU: desde 2000, na COP 6, em Haia, participou de 18 edições da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP) como observador oficial. Ele é ex-coordenador geral do Observatório do Clima (2009 a 2019) e membro ativo da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza. Com experiência em conselhos de diferentes instituições, como SPVS, Fundo Clima e Plataforma Empresas pelo Clima (FGV/Ces), e participação em fóruns relacionados às mudanças climáticas, acompanha de perto articulações.

Sobre a Rede de Especialistas em Conservação da Natureza

A Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) reúne cerca de 80 profissionais de todas as regiões do Brasil e alguns do exterior que trazem ao trabalho que desenvolvem a importância da conservação da natureza e da proteção da biodiversidade. São juristas, urbanistas, biólogos, engenheiros, ambientalistas, cientistas, professores universitários – de referência nacional e internacional – que se voluntariaram para serem porta-vozes da natureza, dando entrevistas, trazendo novas perspectivas, gerando conteúdo e enriquecendo informações de reportagens das mais diversas editorias. Criada em 2014, a Rede é uma iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Os pronunciamentos e artigos dos membros da Rede refletem exclusivamente a opinião dos respectivos autores. Acesse o Guia de Fontes aqui.

Sobre a Fundação Grupo Boticário

Com 35 anos de história, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma das principais fundações empresariais do Brasil que atuam para conservar o patrimônio natural brasileiro. Com foco na adaptação da sociedade às mudanças climáticas, especialmente em relação à segurança hídrica e à proteção costeira, a instituição atua para que a conservação da biodiversidade seja priorizada em todos os setores. Alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, considera que a natureza é a base para o desenvolvimento social e econômico do país. Sem fins lucrativos e mantida pelo Grupo Boticário, a Fundação Grupo Boticário contribui para que diferentes atores estejam mobilizados em busca de soluções para os principais desafios ambientais, sociais e econômicos. Já apoiou mais de 1.800 iniciativas em todos os biomas no país. Protege duas reservas naturais de Mata Atlântica e Cerrado – os biomas mais ameaçados do Brasil pelo desmatamento –, somando 11 mil hectares, o equivalente a 70 Parques do Ibirapuera. Com 1,4 milhão de seguidores nas redes sociais, busca também aproximar a natureza do cotidiano das pessoas. A instituição é fruto da inspiração de Miguel Krigsner, fundador e presidente do Conselho do Grupo Boticário, criada em 1990, dois anos antes da Rio-92 ou Cúpula da Terra, evento que foi um marco para a conservação ambiental mundial.

Site Oficial: https://fundacaogrupoboticario.org.br

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