Pesquisadores descrevem nova espécie de bagre no bioma amazônico

Imagem radiográfica de Imparfinis arceae, espécie de bagre descoberta por pesquisadores da Unesp | Silva et al. 2025. Imagem: Divulgação
Imagem radiográfica de Imparfinis arceae, espécie de bagre descoberta por pesquisadores da Unesp | Silva et al. 2025. Imagem: Divulgação

📢 Este conteúdo foi criteriosamente selecionado e é republicado pela Ambiental Mercantil com autorização legal. Nossa responsabilidade é a curadoria especializada e a publicação de notícias, garantindo que informações relevantes e de alta qualidade cheguem até você.

Imagem: Divulgação | A partir da taxonomia integrativa, que combina análises físicas e genéticas de organismos, um grupo liderado por pesquisadores do câmpus da Unesp em Botucatu descreveu a espécie Imparfinis arceae, um pequeno representante dos bagres, endêmico da bacia do rio Xingu.

Julho de 2025 – Encontrados em todo o mundo, os bagres formam um grupo de peixes cuja diversidade impressiona. Não fosse pelos característicos “bigodes” — o que rendeu ao animal o nome de “peixe gato” em alguns países — seria difícil afirmar, apenas pela aparência externa, que as mais de 4.200 espécies conhecidas pertencem ao mesmo grupo de peixes. Além das diferenças de comportamento, habitat e dos variados padrões de coloração, os bagres também apresentam grande variação de tamanho, indo de minúsculos exemplares, medindo poucos milímetros, até espécies gigantes, como o Pangasianodon gigas, um dos maiores peixes de água doce já identificados.

A grande variedade de locais onde é possível encontrar esses peixes também faz com que muitas espécies ainda permaneçam desconhecidas. Algumas dessas pertencem ao gênero Imparfinis, que reúne representantes espalhados nos rios de água doce de toda a América do Sul, desde a Costa Rica até a Argentina passando, evidentemente, pelo Brasil. Foi nos rios da bacia do rio Xingu, no norte do Mato Grosso, que um grupo de pesquisadores do Instituto de Biociências da Unesp, no câmpus de Botucatu, descobriu uma nova espécie de Imparfinis, adicionando mais um elemento da rica biodiversidade latino americana. 

O achado foi divulgado no artigo “Integrative Taxonomy Reveals a New Species of Imparfinis (Siluriformes: Heptapteridae) from the Upper Xingu River Basin, e publicado na revista científica Ichthyology & Herpetology em abril deste ano. No trabalho, o grupo descreve as características morfológicas, relacionadas à aparência, e genéticas dos exemplares encontrados, evidenciando as diferenças existentes entre outras espécies de Imparfinis e, também, o grau de proximidade da nova espécie com as outras conhecidas. 

Nomeada Imparfinis arceae, a primeira característica que chamou a atenção dos pesquisadores para a possibilidade de se tratar de uma espécie ainda não descoberta é uma faixa preta presente em toda a lateral do peixe.

“Existem algumas espécies de bagres que apresentam essa faixa lateral escura, mas elas não são tão amplas como essa, o que despertou nossa desconfiança”, conta Gabriel de Souza da Costa e Silva, que liderou a investigação e atualmente realiza pós-doutorado no IB-Unesp.

O ictiólogo (nome dado aos especialistas em peixes) explica que a busca por novas espécies não é linear e nunca é possível prever o que será encontrado. Por isso, o primeiro sinal, para um olhar mais cuidadoso, são sempre as características físicas: um padrão diferente, uma coloração que varia, o formato da cauda que é levemente distinto dos demais. A partir disso é que os pesquisadores irão aprofundar, ou não, a investigação.

Análise morfológica detalha as diferenças físicas 

Na biologia, a área responsável por descrever, nomear e classificar os seres vivos é chamada de taxonomia. Graças aos estudos nessa disciplina — que envolvem desde a identificação de diferenças físicas entre os organismos até a determinação do grau de parentesco entre eles —, toda a biodiversidade conhecida atualmente está organizada em uma hierarquia de grupos: reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie. Essa classificação permite compreender a evolução dos animais e vegetais, bem como as conexões que mantêm entre si ao longo do tempo.

Com a suspeita de uma nova espécie, o grupo realizou uma análise morfológica na qual foram coletadas diversas informações físicas dos vinte indivíduos coletados: padrões de coloração, número de vértebras, comprimento, diâmetro dos olhos, tamanho da cabeça, etc.

Esse primeiro passo permitiu demarcar algumas diferenças em relação a espécies Imparfinis hasemani, que também conta com uma faixa escura lateral e que poderia levar a confundir um exemplar com outro. Além dos padrões das faixas apresentarem tamanhos distintos, outras diferenças emergiram: a I. arceae possui 39 vértebras, enquanto a I. hasemani conta com 40; os olhos da nova espécie também são menores e, além disso, o comprimento da cabeça é maior.

Comparação genética comprova nova espécie de bagre

Combinado com as análises morfológicas, o grupo realizou, também, análises genéticas para conseguir um detalhamento maior das características do animal.

“Nós fizemos um sequenciamento de um fragmento de DNA das diferentes espécies, o que permite que a gente compare os DNAs entre si”, explica Gabriel.

Isso faz parte de um ramo chamado de taxonomia integrativa, que combina dados morfológicos e moleculares para entender melhor a história evolutiva e a classificação de organismos que estão sendo estudados. Ao obter e comparar as sequências dos diferentes peixes, os pesquisadores puderam comprovar que além de compartilharem um código genético semelhante, os exemplares estudados apresentavam mais de 6% de divergência genética em relação a outras espécies do gênero Imparfinis.

“Isso evidenciou o fato de que esses animais correspondem a uma nova espécie”, afirma Gabriel.

Site Oficial: https://www2.unesp.br

Imprensa

Temas Relacionados

Sobre Ambiental Mercantil Notícias 6683 Artigos
AMBIENTAL MERCANTIL é sobre ESG, Sustentabilidade, Economia Circular, Resíduos, Reciclagem, Saneamento, Energias e muito mais!