
Imagem: Divulgação | Documento da Sustainable Business COP (SB COP) foi entregue pelo presidente da CNI, Ricardo Alban, ao embaixador André Corrêa do Lago, em Paris, em evento do grupo empresarial.
Junho de 2025 – O setor privado apresentou, no dia 5 de Junho, as prioridades para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), que será realizada em novembro, em Belém (PA). O documento foi entregue pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, e pelo chair da Sustainable Business COP (SB COP), Ricardo Mussa, ao presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, durante encontro da Sustainable Business COP (SB COP), em Paris.
A reunião faz parte da Temporada Brasil-França 2025 e acontece na sede global da Schneider Electric. O evento reúne lideranças empresariais e representantes dos governos do Brasil e da França, em paralelo à visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Paris. Lançada em março deste ano pela CNI, a SB COP é uma iniciativa inédita que visa estruturar uma representação empresarial internacional nas negociações climáticas, nos moldes do que já ocorre no G20 e no BRICS. O objetivo é garantir que as contribuições do setor privado estejam presentes nas decisões da COP30 e de conferências futuras.
“Nosso papel é ser uma ponte entre o setor produtivo e os negociadores climáticos, levando recomendações concretas, que combinem ambição ambiental com desenvolvimento econômico e criação de empregos”, afirmou Ricardo Alban, presidente da CNI.
As prioridades empresariais para a COP30
O documento apresentado à presidência da COP30 estabelece cinco mensagens principais para orientar a atuação empresarial nas negociações climáticas:
- Acelerar a transição energética, visando a redução das emissões e o limite de 1,5°C até 2050.
- Fortalecer o financiamento climático, alinhando crescimento econômico e descarbonização.
- Assegurar uma transição justa, ampliando acesso à energia saneamento e capacitação profissional.
- Reforçar cadeias de valor sustentáveis, com foco em economia circular e bioeconomia.
- Intensificar a colaboração global, promovendo marcos comuns para mercados de carbono e bioeconomia.
Oito eixos de trabalho
As recomendações foram elaboradas por oito grupos de trabalho que trabalham em temas-chave para a agenda climática. Cada grupo é liderado por uma ou mais empresas, com participação de executivos brasileiros e internacionais.
Transição energética
Liderança: Daniela Manique (Solvay)
- Reforçar os esforços em eficiência energética. Promover a eficiência energética por meio de conscientização, melhor acesso a dados e incentivos para melhorias menos rentáveis. Isso inclui qualificação da força de trabalho, adoção de padrões obrigatórios de eficiência e estímulo para que as empresas avaliem e reduzam a intensidade de carbono dos produtos.
- Aumentar a adoção de renováveis para eletrificação. Acelerar o uso de fontes renováveis, com mecanismos de redução de riscos, apoio à infraestrutura de redes e adoção de armazenamento de energia (como baterias BESS), além de promover fontes de energia de baixo carbono e baseadas em biomassa, com critérios claros de sustentabilidade.
- Fomentar o desenvolvimento e a adoção de combustíveis sustentáveis. Avançar na regulamentação para garantir critérios de sustentabilidade (como uso do solo), apoiar pesquisa, desenvolvimento e comercialização, além de implementar mandatos e incentivos para ampliar seu uso.
Economia circular e materiais
Liderança: Tércio Borlenghi (Ambipar)
- Inserir a circularidade nas cadeias globais. Incorporar métricas circulares no comércio internacional e nas compras públicas e privadas, expandir polos regionais de economia circular e fortalecer parcerias com cooperativas e indústrias para reinserir materiais reciclados nos ciclos produtivos.
- Promover inovação em materiais e gestão de resíduos. Estimular materiais sustentáveis por meio de pesquisa e desenvolvimento, acesso a mercados e parcerias público-privadas, além de financiamento e implementação de diretrizes de ecodesign.
- Fortalecer regulação e incentivos. Priorizar materiais pós-consumo em relação a matérias-primas virgens, promover a adoção global do Protocolo de Circularidade como padrão empresarial e desenvolver uma taxonomia global da economia circular para orientar regulações, destravar financiamento verde e fortalecer instrumentos financeiros público-privados.
- Apoiar pesquisa, educação e mudança de comportamento. Lançar um pacto global de educação para circularidade, financiando pesquisa para soluções inovadoras e projetos-piloto com empresas. Isso inclui formar uma força de trabalho dedicada, com condições de trabalho justas e reconhecimento das contribuições de cooperativas e associações.
Bioeconomia
Liderança: João Paulo Ferreira (Natura)
- Convergir as três convenções UNFCCC, CBD e UNCCD e o Conselho de Direitos Humanos da ONU. Promover uma abordagem integrada que una clima, biodiversidade e uso do solo, alinhada às metas do Acordo de Paris e ao Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal. Padronizar dados, métricas e relatórios, incluindo os princípios do G20 sobre bioeconomia, para aumentar transparência e responsabilidade.
- Fazer da bioeconomia um pilar estratégico da agenda da COP. Mobilizar financiamento climático para escalar soluções de bioeconomia. Promover incentivos tecnológicos no Sul Global para acelerar a transição de produtos fósseis para bio-based e reconhecer as atividades da bioeconomia como fonte de créditos de carbono de alta qualidade.
Sistemas alimentares
Liderança: Gilberto Tomazoni (JBS)
- Escalar inovação de baixo carbono e assistência técnica local. Desenvolver estratégias nacionais integradas para sistemas alimentares de baixo carbono, com políticas que ampliem práticas agrícolas baseadas na ciência. Financiar assistência técnica regional, redes de compartilhamento de conhecimento e polos de inovação para apoiar a adoção no campo.
- Construir modelos inovadores de financiamento para uma transição justa. Facilitar a transição por meio de parcerias público-privadas, coinvestimento e mobilização de capital para reduzir riscos. Garantir a repartição justa de benefícios para pequenos produtores, com salvaguardas de participação e modelos baseados em resultados que ampliem o acesso ao mercado. Implementar sistemas padronizados de monitoramento adaptados às capacidades dos agricultores, começando por protocolos globais de medição de emissões de carbono em diferentes biomas e avançando para sistemas robustos de rastreamento de resultados ambientais.
Soluções baseadas na natureza (NbS)
Liderança: Marcelo Medeiros (Re.Green)
- Integrar NbS aos mercados de carbono regulados. Estabelecer critérios científicos claros para garantir que os créditos de NbS cumpram os objetivos climáticos. Alinhar regulações nacionais com sistemas internacionais, como o Artigo 6 do Acordo de Paris, para aumentar a confiança, a preparação dos mercados e os investimentos em NbS como complemento aos esforços de descarbonização.
- Evoluir padrões de avaliação integrada dos impactos de NbS. Desenvolver metodologias de mensuração baseadas na ciência, levando em conta contextos regionais e biomas locais. Alinhar esses padrões aos mercados de carbono regulados e voluntários, garantindo rigor na verificação dos benefícios ambientais e sociais.
- Divulgar o papel das NbS como ferramenta essencial para o net zero. Melhorar a percepção pública sobre NbS, destacando seus múltiplos benefícios — incluindo biodiversidade, segurança hídrica e apoio às comunidades. Financiar pesquisas sobre seus impactos climáticos, de biodiversidade e socioeconômicos, além de promover a conscientização para aumentar confiança e engajamento.
Cidades sustentáveis
Liderança: Rubens Menin (MRV)
- Ampliar o acesso à energia e saneamento. Garantir acesso universal à água, saneamento e energia nas áreas urbanas, incorporando práticas net zero e soluções de alta tecnologia para desenvolvimento sustentável das cidades.
- Aprimorar mobilidade urbana e infraestrutura logística. Expandir o transporte público acessível e as alternativas de mobilidade urbana de zero emissão, como micromobilidade, além de hubs logísticos urbanos sustentáveis. Implementar sistemas multimodais integrados, logística avançada e zonas de baixa emissão.
- Fortalecer o planejamento urbano e a infraestrutura. Enfrentar o déficit habitacional e melhorar as condições de vida urbana com estratégias de zoneamento misto, construção sustentável e adoção de soluções baseadas na natureza, orientadas por dados e tecnologia.
Finanças de transição e investimento
Liderança: Luciana Ribeiro (EB Capital)
- Reduzir barreiras estruturais para capital em mercados emergentes. Promover colaboração para reduzir essas barreiras por meio da ampliação de mecanismos de proteção contra riscos, alinhamento de fluxos de capital às necessidades de capital de giro e expansão do crédito verde, especialmente via securitização de empréstimos alinhados ao clima.
- Aumentar a interoperabilidade e alinhamento dos mercados de carbono. Promover a convergência entre mercados de carbono, conectando acordos do Artigo 6.2, mercados voluntários e regulados, garantindo transparência e evitando dupla contagem. Estabelecer taxonomias e métricas padronizadas de contabilidade de carbono, considerando também especificidades regionais.
- Acelerar a mobilização de capital para setores de difícil descarbonização. Fortalecer os frameworks de financiamento de transição, mitigando riscos em nível de projeto e destravando investimentos escaláveis. Estabelecer critérios robustos para atividades de transição, promovendo instrumentos financeiros específicos e mecanismos que separem atributos de sustentabilidade das operações físicas, reduzindo custos e acelerando o fluxo de capital (ex.: sistemas Book & Claim).
Empregos verdes e capacitação
Liderança: Rafael Segrera (Schneider Electric)
- Financiar a transição justa. Obter compromisso político para integrar o desenvolvimento de competências verdes nas NDCs, com sistemas de responsabilização. Construir capacidade institucional para incorporar os princípios de transição justa nos sistemas financeiros e implementar modelos de financiamento combinados, escaláveis e de longo prazo.
- Apoiar a adaptação da força de trabalho informal. Implementar sistemas de reconhecimento de saberes prévios e microcredenciais, validar competências, incentivar cadeias produtivas responsáveis baseadas em diálogo social e escalar programas de desenvolvimento profissional apoiados em tecnologia, especialmente em regiões vulneráveis ao clima, como a Amazônia.
- Qualificar a força de trabalho do futuro. Estabelecer mecanismos de governança tripartite para codesenvolver e escalar modelos de capacitação em competências verdes e digitais, por meio de investimento compartilhado e inovação curricular. Usar a inteligência artificial e dados do mercado de trabalho para mapear demandas emergentes e orientar atualizações de currículos, desenho de treinamentos e planejamento da força de trabalho.
Site Oficial: https://cni.portaldaindustria.com.br/pt
Imprensa