Emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Setor de Transportes: Desafios, Impactos e Soluções para um futuro sustentável

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O setor de transporte no Brasil é, de fato, uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e poluentes atmosféricos.
O setor de transporte no Brasil é, de fato, uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e poluentes atmosféricos.

Imagem: Divulgação | O Impacto das emissões de GEE no setor de transportes e estratégias de mitigação

  • Por Simone Horvatin, jornalista (MTB 0092611/SP) especializada nos setores ambientais e de energias, e associada da BDFJ Bundesverband Deutscher Fachjournalisten e.V. (Federação de Jornalistas Técnicos da Alemanha).
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AMBIENTAL MERCANTIL

Agosto de 2024 – Cumprir as metas de mitigação climática exigirá mudanças transformadoras no setor de transportes no Brasil e no mundo. Até porque o setor de transportes é hoje uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e poluentes atmosféricos, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis como diesel e gasolina, gerando impactos significativos sobre o meio ambiente e a saúde pública. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)é a principal autoridade internacional em mudanças climáticas e seus relatórios são referências científicas amplamente aceitas. O IPCC destaca periodicamente o papel das emissões de GEE, incluindo o setor de transportes, que contribui para o aquecimento global e suas consequências, como o aumento da temperatura, a elevação do nível do mar e os eventos climáticos extremos.

De acordo com o relatório do IPCC, em 2019 as emissões diretas do setor de transporte foram de 8,7 GtCO2-eq, um aumento em relação aos 5,0 GtCO2-eq de 1990. Essas emissões representaram 23% das emissões globais de CO2 relacionadas à energia. Do total das emissões de transporte em 2019, 71% vieram de veículos rodoviários, enquanto 1%, 11% e 12% foram atribuídos a ferrovias, transporte marítimo e aviação, respectivamente. As emissões de transporte marítimo e aviação estão a crescer rapidamente. Nos países em desenvolvimento, as emissões de gases relacionadas ao transporte aumentaram mais rapidamente que na Europa ou na América do Norte, uma tendência que provavelmente continuará nas próximas décadas.

O transporte rodoviário, que é o principal meio de deslocamento de pessoas e mercadorias no Brasil, é o modo dominante e o maior emissor de gases de efeito estufa dentro do setor de transportes. De acordo com o Observatório do Clima, em 2019, 90% das emissões do setor de transportes vieram do modo rodoviário.

A pandemia de COVID-19 pode ter alterado as emissões do setor de transportes em 2020 e 2021. No entanto, a longo prazo, o setor de transporte rodoviário deve permanecer como principal emissor. De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), em 2022, o aumento na atividade de transporte de passageiros e carga, após a pandemia de coronavírus (Covid-19), resultou em um aumento de 3% nas emissões de CO2 no setor de transportes em comparação com o ano anterior. As emissões de transporte cresceram a uma taxa média anual de 1,7% de 1990 a 2022, mais rapidamente do que qualquer outro setor de uso final, exceto a indústria (que também cresceu cerca de 1,7%). Para atingir o cenário de Emissões Líquidas Zero (NZE) até 2050, as emissões de CO2 do setor de transportes devem cair mais de 3% ao ano até 2030.

Impacto ambiental e Saúde pública | Modais de Transporte

Fonte: WRI Brasil 2023 | O atual sistema de transporte global é responsável por 15% das emissões anuais de gases de efeito estufa (GEE)
  • Dados do gráfico sobre as emissões de GEE do setor de Transportes| Base 2019: 8,7 GtCO2; divididos por Rodoviário 6,1 GtCO2e; Marítimo internacional 0,8 GtCO2e; Marítimo interno: 0,2 GtCO2e; Aviação internacional 0,6 GtCO2e; Aviação doméstica 0,4 GtCO2e; Ferroviário: 0,1 GtCO2e; Outros transportes 0,5 GtCO2e

No setor de transportes, além do dióxido de carbono (CO2), são liberados poluentes como monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx) e material particulado (PM). Esses poluentes comprometem a qualidade do ar, especialmente em áreas urbanas, e causam danos ao meio ambiente e à biodiversidade, afetando o crescimento da vegetação e das culturas agrícolas. A deposição de poluentes ácidos, como os óxidos de nitrogênio, pode acidificar solos e corpos d’água, prejudicando plantas e organismos aquáticos. Além disso, NOx e material particulado podem formar ozônio troposférico e smog, reduzindo a visibilidade e prejudicando a vegetação.

Poluição do ar e Saúde Pública

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para os efeitos da poluição do ar na saúde humana, incluindo doenças respiratórias, cardiovasculares, câncer e outras condições. A poluição do ar é a contaminação do ambiente interno ou externo por qualquer agente químico, físico ou biológico que modifica as características naturais da atmosfera. Dispositivos de combustão doméstica, veículos automotores, instalações industriais e incêndios florestais são fontes comuns de poluição do ar. Poluentes de grande preocupação para a saúde pública incluem material particulado, monóxido de carbono, ozônio, dióxido de nitrogênio e dióxido de enxofre. A poluição do ar externa e interna causa doenças respiratórias e outras enfermidades, sendo importantes fontes de morbidade e mortalidade. Os efeitos combinados da poluição do ar ambiente e da poluição do ar doméstica estão associados a 7 milhões de mortes prematuras anualmente.

Dados da OMS mostram que quase toda a população global (99%) respira ar que excede os limites das diretrizes da OMS e contém altos níveis de poluentes, com os países de baixa e média renda sofrendo as maiores exposições.

Políticas públicas, investimentos em pesquisas e tecnologias para gerar energia limpa e adotar transporte público de fontes renováveis, podem reduzir efetivamente as principais fontes de poluição do ar ambiente.

Transporte Rodoviário e as Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE)

Foto: Transporte rodoviário de Cargas e Civil, Maplink Blog
Foto: 24/02/2015 – REUTERS/Washington Alves – Congestionamento de veículos e caminhões na rodovia BR 381, Betim – MG

Emissões de GEE do transporte rodoviário global

Gráfico: Projeção da IEA – Agência Internacional de Energia | Transição energética no setor de transportes – combustíveis de fontes fósseis serão substituídos por fontes renováveis até 2050.
  • De acordo com o gráfico da IEA, a eletricidade e a adoção de biocombustíveis vai desempenhar um papel fundamental na descarbonização do transporte rodoviário até 2030. Após esse período, prevê-se que a mobilidade elétrica será três quartos do transporte rodoviário até 2050. Fonte: Road Transport Report IEA

Em escala global, o transporte rodoviário é responsável por 71% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) do setor de transportes, conforme relatado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Essa porcentagem expressiva reflete a popularidade e a conveniência desse modal em muitos países, mas também destaca a necessidade urgente de ações para reduzir sua pegada de carbono.

Transporte rodoviário no Brasil

No Brasil, essa predominância se deve a diversos fatores, como a vasta malha rodoviária, a dependência de combustíveis fósseis (diesel e gasolina) e a frota de veículos em constante crescimento.

Transporte rodoviário de passageiros

O uso de automóveis particulares é amplamente difundido nas cidades brasileiras, muitas vezes devido à falta de opções de transporte público eficientes e acessíveis. Essa cultura do carro individual contribui significativamente para o aumento do número de veículos nas ruas, intensificando o congestionamento e as emissões de gases de efeito estufa (GEE).

De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), em 2022, o setor de transportes como um todo (incluindo transporte de passageiros e de cargas) foi responsável por cerca de 217 milhões de toneladas de CO2 equivalente (MtCO2e), representando um aumento de 6% em relação a 2021.

Falta de investimento em transporte público, preferência pelo uso de automóvel e cultura do carro individual contribuem para maiores emissões.

Transporte rodoviário de cargas

A vasta extensão territorial do Brasil e a falta de alternativas eficientes de transportes, como ferrovias e hidrovias, tornam o transporte rodoviário a opção mais utilizada para o deslocamento de cargas. Essa dependência de caminhões movidos à diesel contribui significativamente para as emissões de gases de efeito estufa (GEE), aumentando a poluição do ar. O transporte rodoviário é o modal mais utilizado no Brasil, responsável por 61% do transporte de cargas no país.

Foto: Site EBPR – Paulo Pinto/Agência Brasil – Termômetro de rua registra 34°C em meio a onda de calor em São Paulo, em 23/9/23

No Brasil, historicamente, houve um subinvestimento no transporte público por parte de diversos governos, resultando em sistemas ineficientes, com baixa cobertura territorial, longos tempos de espera, falta de conforto e segurança. Essa falta de investimentos tornou o transporte público menos atrativo para a população, que acaba optando pelo carro individual, mesmo com seus custos e impactos ambientais negativos. A cultura do carro individual é muito forte no Brasil, impulsionada por fatores como status social, comodidade, marketing da indústria automobilística e políticas públicas que acabam a favorecer o uso de carros em detrimento de outras modalidades. Óbvio e necessário, é importante investir em transporte público de qualidade, promover políticas que desincentivem o uso do carro individual e incentivem alternativas mais sustentáveis, como a bicicleta e a caminhada. Mudar a cultura do carro individual para uma cultura de mobilidade pública e coletiva, é mais sustentável e inclusiva.

Transporte Rodoviário | Desafios e Soluções

Abordar a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no transporte rodoviário é um desafio complexo, mas é viável com soluções inovadoras. Melhorias na eficiência dos motores e na aerodinâmica dos veículos podem também contribuir para uma redução significativa do consumo de combustíveis fósseis e, consequentemente, suas emissões. A transição para combustíveis mais limpos, como biocombustíveis, hidrogênio e eletricidade também é fundamental para diminuir as emissões de GEE. Investimentos em transporte público baseados em fontes renováveis, que sejam mais eficientes e acessíveis, podem incentivar a população a deixar seus carros em casa, reduzindo o número de veículos nas ruas.

Projeção até 2050

Gráfico1: Projeção de investimentos em infraestrutura pública de carregamentos elétricos tendem a crescer. Inicialmente são focadas em carros elétricos e vans, mas estão se expandindo para caminhões elétricos pesados e ônibus. Gráfico2: As projeções indicam que as emissões de gases do transporte rodoviário tendem a cair drasticamente até 2030. Fonte: Fonte: Road Transport Report IEA

Transporte Ferroviário e as Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE)

Foto: Nidin Sanches, Corporativo VLI –
Unidade Santa Luzia, Minas Gerais
Foto: Faccio Arquitetura, Estação da Luz, São Paulo

O transporte ferroviário, que envolve o transporte de passageiros e cargas por trens, apresenta uma contribuição significativa, pois as emissões de gases de efeito estufa (GEE) representam 1%, em comparação com o transporte rodoviário. Essa vantagem se deve principalmente a eficiência energética: o uso de eletricidade como combustível.

Transporte ferroviário no Brasil

No Brasil, o transporte ferroviário de carga representa apenas 5,4% do transporte de cargas no Brasil. A infraestrutura ferroviária é limitada, com menos de 30 mil km de trilhos, e necessita de investimentos para expansão e modernização. Como meio de transporte de cargas, é ideal para cargas pesadas e volumosas em longas distâncias, oferece baixo custo operacional e menor impacto ambiental em comparação ao transporte rodoviário. Os trens podem transportar muito mais cargas e passageiros que caminhões ou carros. Além disso, a energia consumida (combustível) é distribuída por um número maior de unidades transportadas (cargas ou pessoas), resultando em menor consumo de energia por tonelada ou por passageiro.

Imagem: Arthur Jacob, ANTT – Rede ferroviária do Brasil, 2016 Wikipedia

Emissões Reduzidas

A eletrificação de ferrovias, especialmente quando a energia elétrica é proveniente de fontes renováveis, reduz significativamente as emissões de gases de efeito estufa (GEE) do transporte ferroviário em comparação com o uso de locomotivas à diesel. Em alguns países, como na Europa, onde a eletrificação das ferrovias é mais avançada e a matriz elétrica é limpa (grande parte), as emissões de GEE do transporte ferroviário têm diminuído consistentemente ao longo dos anos. Por isso, é fundamental que o Brasil considere em investir e aumentar as linhas ferroviárias, com eletrificação de energia limpa, de preferência.

Eficiência Energética

Além da eletrificação, o transporte ferroviário é inerentemente mais eficiente em termos energéticos do que o transporte rodoviário. Essa eficiência se deve a fatores como menor atrito com o solo, menor resistência ao ar e capacidade de aproveitar a energia cinética durante a frenagem.

Os sistemas de frenagem regenerativa dos trens modernos permitem converter parte da energia cinética gerada durante a frenagem em energia elétrica, que pode ser utilizada para alimentar outros sistemas do trem ou devolvida à rede elétrica.

Benefícios Ambientais

A combinação de redes de eletrificação do transporte ferroviário e eficiência energética, torna o transporte ferroviário uma das opções mais sustentáveis. Ao transportar cargas e passageiros em trens, em vez de caminhão ou carro, é possível reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa (GEE), contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas.

Transporte Ferroviário | Desafios e Soluções

Ao investir no transporte ferroviário e promover seu uso, é possível reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) no setor de transportes e contribuir para a construção de um futuro mais sustentável. Apesar dos benefícios ambientais, o transporte ferroviário enfrenta desafios, como a necessidade de investimentos em infraestrutura e a concorrência com o transporte rodoviário, que muitas vezes é mais flexível e acessível em algumas regiões.

A expansão da eletrificação das ferrovias, especialmente em países com uma alta participação de fontes renováveis na matriz energética, pode reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa (GEE). Ao aumentar a eletrificação, o setor ferroviário se torna mais sustentável e menos dependente de combustíveis fósseis.

A construção de novas linhas e a modernização das existentes podem ampliar a capacidade e melhorar a eficiência do transporte ferroviário, tornando-o uma alternativa mais competitiva em relação ao transporte rodoviário. A integração do transporte ferroviário com outros modais, como o marítimo e o fluvial, pode resultar em cadeias logísticas mais eficientes e sustentáveis. Essa abordagem integrada permite otimizar a movimentação de cargas e reduzir o impacto ambiental.

Investimentos em infraestrutura, integração com outros modais de transporte e políticas públicas são essenciais para tornar o transporte ferroviário mais competitivo e atraente. Políticas que incentivem o uso do trem, como subsídios para eletrificação e construção de novas linhas, são fundamentais para acelerar a transição para um sistema de transporte mais limpo. Esses incentivos governamentais podem promover mudanças significativas no setor, apoiando a redução das emissões e contribuindo para um futuro mais sustentável.

>>>Transporte Aéreo e as Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE)

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