Saneamento, de bem com a vida #15: Cheias: o que fazer? O que deveria ter sido feito?

Álvaro Costa é engenheiro civil e consultor. Escreve como Colunista do editorial AMBIENTAL MERCANTIL ÁGUAS E SANEAMENTO
Álvaro Costa é engenheiro civil e consultor. Escreve como Colunista do editorial AMBIENTAL MERCANTIL ÁGUAS E SANEAMENTO

Imagem: Divulgação | Álvaro José Menezes da Costa, Engenheiro Civil, MSc em Recursos Hídricos e Saneamento, CP3P, contribui com insights valiosos sobre o setor de Águas e Saneamento em sua coluna, enriquecendo o editorial da AMBIENTAL MERCANTIL

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Maio de 2024 – Tive a oportunidade de conviver e aprender com competentes engenheiros e hidrólogos, que em Pernambuco realizavam estudos e projetos para construção de barragens para abastecimento de água e contenção de cheias. Com eles e na prática, pelo menos uma vez no início do século XXI, pude ver os efeitos de chuvas seculares sobre grandes barragens e as projeções em projetos para chuvas milenares e decamilenares em bacias hidrográficas.

Este ano o destaque está no Rio Grande do Sul que, como outros Estados, já sofreu cheias e inundações anuais recorrentes.

O grave é que desta vez os efeitos das fortes chuvas superaram o que foi vivido em anos anteriores, podendo ocorrer novamente na mesma proporção ou maior, conforme estabelecem as projeções hidrológicas.

O que fazer? Ou pior, o que deveria ter sido feito?

Foto: Cheia de 1975 em Recife/PE. Imagem do site. Referência:
https://metsul.com/o-dia-em-que-recife-inundou-e-meio-brasil-congelou/

Desde 1997, quando foi sancionada a lei nacional dos recursos hídricos houve avanços regulatórios e institucionais. Agência Nacional de Águas e Saneamento – ANA, Comitês de Bacia e Agências de Bacia passaram a fazer parte do cotidiano técnico inicialmente e, depois, da sociedade em geral. É relevante e inegável o papel da ANA ao longo desses anos e elogiável a atuação de alguns comitês de bacia.

Entretanto, apesar desses avanços, há que se refletir sobre a desconexão existente entre a o planejamento público, as políticas públicas e as ações efetivas que deveriam integrar objetivamente as áreas ambiental, de recursos hídricos e saneamento. Basta ver que há recursos financeiros para obras de infraestrutura, abastecimento de água, esgotamento sanitário, resíduos sólidos, mas quase nada para drenagem urbana e nada para manejo e proteção de bacias hidrográficas, em resumo obras de drenagem, regularização de rios e contenção de cheias.

Nas áreas urbanas, como agora em Porto Alegre ou em Maceió onde iniciou-se a quadra chuvosa, a modernização da malha de drenagem urbana e adequação dos canais de drenagem natural ao novo perfil urbanístico, deixam a desejar porque não há um plano prioritário para eliminação de áreas críticas ou prevenção efetiva contra as inundações e cheias recorrentes.

Faltam planos, projetos, estrutura institucional e baixo nível de prioridade para tais obras, afinal para que investir num dique de contenção de cheias ou na implantação de galerias de drenagem?

Pode ser que outra chuva como esta só ocorra novamente no Rio Grande do Sul daqui a 100 anos. Para as áreas rurais, onde muito das cheias começa, é muito raro ouvir alguém falar numa barragem de contenção de cheias ou regularização e desassoreamento de leitos de rio ou gestão integrada de bacias hidrográficas com plantio/replantio de matas, proteção do solo e proibição de construções na área da bacia, além da busca de garantia da qualidade da água doce.

Agora serão investidos bilhões de reais, às vezes remanejados de áreas prioritárias, os quais serão aplicados não necessariamente para corrigir causas contornáveis deste grave evento, mas para recuperar e recolocar de pé o que foi destruído, alimentando um ciclo sem fim.

Eventos como o do Rio Grande do Sul já ocorreram em outras partes do Brasil e de outros países, infelizmente, tendendo a se repetir se não houver um plano e projetos direcionados para “gestão das águas”, de modo que nos momentos de chuvas seculares, milenares ou decamilenares os danos de todo tipo sejam evitados e mitigados.

O espaço urbano mudou fortemente desde a década de 90, no século XX, o que exige a revisão de estruturas existentes e sua adequação às novas condições ambientais e urbanas. É preciso resgatar a engenharia como um dos vetores de melhoria da qualidade de vida.

Sobre o colunista

Álvaro José Menezes da Costa é Engenheiro Civil, MSc em Recursos Hídricos e Saneamento, CP3P. Especialista em Aproveitamento de Recursos Hídricos e Avaliação e Perícias de Engenharia; é autor de livro e capítulos de livros publicados sobre Gestão de Serviços e Reúso de Águas.

Álvaro José Menezes da Costa, Engenheiro Civil, MSc em Recursos Hídricos e Saneamento, CP3P
Álvaro José Menezes da Costa, Engenheiro Civil, MSc em Recursos Hídricos e Saneamento, CP3P

Desde 1985 é membro da ABES- Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, e desde 2008 atua como diretor nacional. Em 2015 fundou a AMEC – Álvaro Menezes Engenharia e Consultoria, desenvolvendo estudos de modelagem para contratos de PPP, concessão, performance para redução de perdas, engenheiro independente, coordenador e instrutor em cursos de capacitação em regulação e PPP. Contato via LinkedIn.

Site oficial: 
https://www.amecengenhariaeconsultoria.com.br

Álvaro Costa é colunista e colaborador do editorial AMBIENTAL MERCANTIL ÁGUAS E SANEAMENTO. Através da sua observação pessoal, escreve periodicamente sobre o que acontece nos setores de gestão de águas e efluentes, recursos hídricos e saneamento básico. Todas as publicações de sua coluna podem ser acessadas neste link exclusivo:

Informamos que os conteúdos publicados pelos nossos colunistas são observações e opiniões independentes que expressam suas reflexões e experiências, sendo de responsabilidade deles; não refletindo, necessariamente, a opinião da redação do nosso editorial.

Crédito:
AMBIENTAL MERCANTIL ÁGUAS E SANEAMENTO | Por Álvaro Costa, colunista e colaborador

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