Imagem: Divulgação | Redação Ambiental Mercantil

Novembro de 2024 – Embora a internet como a conhecemos hoje estivesse apenas começando a se popularizar no final dos anos 1990, há várias publicações online que abordam e digitalizaram conteúdos históricos de degradação ambiental dessa época. Entre 1980 e 2000, o Brasil enfrentou sérios problemas de desmatamento e incêndios florestais, afetando diversos biomas e estados.

Causas dos Desmatamentos

Expansão da fronteira agrícola

A principal causa do desmatamento no Brasil durante esse período foi a expansão da fronteira agrícola, impulsionada pelo crescimento do agronegócio[1][2]. Isso incluiu: conversão de florestas em áreas de pastagem para pecuária; expansão de monoculturas, especialmente soja e algodão e avanço sobre áreas de Cerrado e Amazônia.

Obras de infraestrutura

Grandes projetos de infraestrutura também contribuíram significativamente para o desmatamento[2]: construção de estradas e rodovias; implementação de hidrelétricas e expansão da malha urbana.

Atividades extrativistas

Extração ilegal de madeira e atividades de mineração, principalmente nos estados do Pará e Mato Grosso

Especulação fundiária

A grilagem de terras e a especulação imobiliária em áreas florestais foram fatores importantes no processo de desmatamento[2][3].

Queimadas

As queimadas estavam frequentemente associadas ao processo de desmatamento, sendo utilizadas como método de “limpeza” de áreas já desmatadas[5]. Causas específicas incluíam: preparo do solo para agricultura; renovação de pastagens e limpeza de áreas para expansão agrícola.

Setores Envolvidos

  1. Agropecuária: O setor mais diretamente ligado ao desmatamento, especialmente a pecuária extensiva e as monoculturas de grãos[1][4].
  2. Madeireiro: Responsável pela extração legal e ilegal de madeira, principalmente na Amazônia[3].
  3. Mineração: Causador de desmatamento direto e indireto, especialmente nos estados do Norte[2].
  4. Construção Civil: Envolvido na implementação de obras de infraestrutura que levavam ao desmatamento[2].
  5. Imobiliário: Ligado à especulação fundiária e expansão urbana[3].

Estados mais afetados

Os estados mais impactados pelo desmatamento nesse período foram: Mato Grosso, Pará, Rondônia, Amazonas e Maranhão. Esses estados, localizados na região da Amazônia Legal, sofreram com a intensificação do desmatamento devido à expansão da fronteira agrícola[3].

Impactos socioambientais

  • Perda significativa de biodiversidade
  • Aumento das emissões de gases de efeito estufa
  • Alterações nos regimes de chuvas regionais
  • Conflitos fundiários e violência no campo
  • Ameaças às comunidades indígenas e tradicionais

As razões históricas deste período de desmatamentos são baseadas em políticas passadas

Políticas de Incentivo e Colonização da Amazônia

O governo brasileiro, desde a década de 1960, via a Amazônia como uma fronteira a ser “ocupada” e “integrada” ao restante do país. Nos anos 1970 e 1980, políticas de incentivos fiscais e projetos de colonização (como o Projeto Polamazônia e o Programa de Desenvolvimento Agropecuário e Agroindustrial da Amazônia) encorajaram a ocupação e o desmatamento para atividades agropecuárias. Esse contexto se prolongou nas décadas seguintes, mantendo a pressão sobre os biomas da Amazônia e do Cerrado. Além disso, iniciativas como a construção da Rodovia Transamazônica e da BR-163 (Cuiabá-Santarém) exemplificam essa política de “integração nacional”, levando à abertura de áreas antes inacessíveis.

Embora essas obras fossem vistas como essenciais para o desenvolvimento regional, também abriram caminho para a grilagem, o desmatamento e as queimadas.

Ampliação dos efeitos do desmatamento em outros biomas

A Amazônia e o Cerrado foram os biomas mais afetados nesse período, mas é importante observar que outros biomas, como a Mata Atlântica, também sofreram com desmatamento e degradação, embora já estivessem em um estágio avançado de fragmentação desde os ciclos econômicos coloniais. No entanto, as políticas voltadas para a agricultura intensiva também atingiram áreas do Pantanal e da Caatinga, ampliando o impacto socioambiental para regiões ainda mais diversas do país.

Conexão com a crise climática e repercussão internacional

Na década de 1990, com a intensificação das discussões sobre mudanças climáticas e sustentabilidade global, o desmatamento da Amazônia ganhou atenção internacional. Em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (ECO-92) no Rio de Janeiro colocou o Brasil sob os holofotes. Apesar de pressões internacionais, políticas de preservação florestal ainda não eram plenamente efetivas ou fiscalizadas no Brasil.

Informalidade e exploração ilegal madeireira e de minérios

Outro ponto relevante é a informalidade das atividades econômicas em torno da extração de madeira e da ocupação de terras. Em muitas regiões da Amazônia e do Cerrado, práticas ilegais de exploração madeireira e extração de minérios (como ouro) ganharam força devido à escassa presença do Estado, tornando a fiscalização ainda mais difícil. Esse contexto contribuiu para o fortalecimento de atividades ilegais e até mesmo de redes criminosas associadas ao desmatamento, muitas vezes sustentadas por práticas de corrupção.

Serra Pelada: corrida pelo ouro na Amazônia

Em 1980, a descoberta de uma enorme jazida de ouro atraiu milhares de pessoas para Serra Pelada, incluindo trabalhadores informais, aventureiros, desempregados e profissionais de diversas áreas. Em pouco tempo, o local transformou-se em um garimpo caótico e insalubre, onde cerca de 100 mil garimpeiros trabalhavam em condições perigosas, sem regulamentação ou apoio do Estado. Embora o governo tenha tentado regularizar a atividade, o garimpo foi dominado pela informalidade e pela exploração predatória.

Serra Pelada exemplifica o tipo de exploração informal e ilegal que se espalhou pela Amazônia, com garimpos ilegais surgindo após seu fechamento nos anos 1990, inclusive dentro de reservas indígenas e áreas protegidas. A mineração ilegal, assim como a extração de madeira, avança sobre áreas de floresta, desmatando e violando os direitos das comunidades locais.

A Serra Pelada é um exemplo emblemático de exploração mineral ilegal e informal que marcou o Brasil nas décadas de 1980 e 1990. Localizada no sudeste do Pará, essa mina de ouro a céu aberto foi palco de um dos maiores garimpos do mundo, onde a precariedade, a violência e o impacto ambiental deixaram marcas profundas.

A informalidade e a dificuldade de fiscalização tornaram Serra Pelada um terreno fértil para atividades criminosas. Envolvendo grandes somas de dinheiro e transações de ouro não regulamentadas, o garimpo impulsionou redes de contrabando, tráfico e corrupção, envolvendo inclusive autoridades locais. Esse contexto ampliou a criminalidade e o desmatamento, criando uma “economia paralela” que incluía não só a mineração ilegal, mas também a grilagem de terras e a exploração de madeira na Amazônia e no Cerrado.

Serra Pelada foi fechada oficialmente nos anos 1990, mas deixou um legado de pobreza, degradação ambiental e problemas de saúde para os trabalhadores que lá estiveram. A região de Carajás, que inclui Serra Pelada, permanece uma área de intensa exploração mineral, agora sob empresas legalizadas. Entretanto, o garimpo ilegal persiste em outras regiões da Amazônia, revelando a complexidade e a persistência dos desafios na exploração informal e ilegal dos recursos naturais do Brasil.

A exploração mineral em Serra Pelada causou devastação ambiental na área ao redor do garimpo. Para extrair o ouro, a vegetação foi removida, o solo intensamente escavado e contaminado por mercúrio (usado para separar o ouro de outros minerais). Além disso, a mineração causou a degradação dos corpos d’água próximos, comprometendo os ecossistemas locais e impactando a fauna e a flora da região.

Impactos ambientais: degradação hídrica e ciclo hidrológico

Os desmatamentos em larga escala neste período entre 1980 e 1999 afetou diretamente o ciclo hidrológico regional e nacional. Os principais impactos ambientais relacionados aos recursos hídricos e ao ciclo hidrológico decorrentes do desmatamento no Brasil foram:

  • Os desmatamentos em larga escala nesse período realmente afetou o ciclo hidrológico regional e nacional. A remoção da cobertura vegetal diminuiu a umidade do solo e alterou os “rios voadores”, correntes de ar carregadas de umidade da Amazônia que contribuem para chuvas em outras regiões do Brasil. Essas alterações contribuíram para mudanças nos regimes de chuvas e intensificação de secas, especialmente nos estados do Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
  • Os impactos incluíram degradação hídrica, com efeitos na disponibilidade e qualidade da água em diversas regiões do país.

Avanço nas políticas de proteção: início de mudanças

No final da década de 1990, algumas mudanças começaram a surgir no Brasil. Em 1998, a Lei de Crimes Ambientais trouxe novas regulamentações, introduzindo punições para crimes de desmatamento e queimadas ilegais. Apesar de ainda falhas em termos de fiscalização, essa legislação foi um passo importante para construir uma base jurídica para a proteção ambiental, criando um alicerce para o PPCDAm nos anos 2000.

Essas adições reforçam a visão de que o problema do desmatamento entre 1980 e 2000 não foi isolado ou acidental, mas resultado de políticas econômicas e sociais de longo prazo, com impactos que se refletiram não apenas no ambiente, mas também em questões climáticas e de sustentabilidade do Brasil e do planeta.

A virada do milênio trouxeram preocupações com as questões ambientais e começaram surgir iniciativas de combate aos desmatamentos

É importante notar que o período de 1980 a 2000 foi marcado por oscilações nas taxas de desmatamento. A década de 1990, em particular, viu picos de desmatamento, com o ano de 1995 registrando uma área desmatada de 29.059 km² na Amazônia[2]. Esse período coincidiu com transformações econômicas no Brasil e uma crescente preocupação internacional com as questões ambientais.

Ao final desse período, começaram a surgir iniciativas mais robustas de combate ao desmatamento, embora os resultados mais significativos só tenham sido observados após 2004, com a implementação do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm)[2].

Embora a internet como a conhecemos hoje estivesse apenas começando a se popularizar no final dos anos 1990, há várias publicações online que abordam e digitalizaram conteúdos históricos de degradação ambiental dessa época. Muitos órgãos de mídia, ONGs e institutos de pesquisa têm artigos, reportagens e estudos baseados nos acontecimentos dos anos 1980 e 1990 sobre o desmatamento, as queimadas e a exploração de recursos no Brasil. Vou listar algumas fontes e links com esse conteúdo histórico relevante:

Referências:
[1] Desmatamento no Brasil CNN https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/desmatamento-no-brasil/
[2] Desmatamento da Amazônia – Esse artigo discute o contexto histórico do desmatamento, especialmente nas décadas de 1980 e 1990, abordando as causas e os impactos ambientais e sociais. https://brasilescola.uol.com.br/brasil/desmatamento-da-amazonia.htm
[3] Desmatamento no Brasil Wikipedia https://pt.wikipedia.org/wiki/Desmatamento_no_Brasil
[4] https://fia.com.br/blog/desmatamento-da-amazonia/
[5] Queimadas na Amazônia – Esse link explora como as queimadas na Amazônia, principalmente a partir dos anos 1980, impactaram o meio ambiente, além de contextualizar suas causas e consequências. https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/queimadas-na-amazonia.htm
[6] Os interesses econômicos por trás da destruição da Amazônia – Reporter Brasil https://reporterbrasil.org.br/2019/08/os-interesses-economicos-por-tras-da-destruicao-da-amazonia/
[7] Desmatamento – eCycle https://www.ecycle.com.br/desmatamento/
[8] Linha do Tempo do Desmatamento no Brasil – Uma linha do tempo que cobre momentos críticos do desmatamento no Brasil, com foco nas mudanças políticas e nos impactos ambientais ao longo das décadas. https://pt.wikipedia.org/wiki/Impacto_ambiental_na_Amaz%C3%B4nia
[9] Impacto ambiental na Amazônia – Essa página da Wikipedia cobre aspectos históricos e atuais do impacto ambiental na Amazônia, incluindo dados sobre desmatamento e queimadas desde os anos 1980. https://pt.wikipedia.org/wiki/Impacto_ambiental_na_Amaz%C3%B4nia
[10] Desmatamento no Brasil: Décadas de Destruição (O Eco) – Décadas de Desmatamento na Amazônia O site O Eco traz reportagens investigativas e arquivos sobre a degradação ambiental, com vários artigos sobre as décadas de 1980 e 1990. https://oeco.org.br/noticias/27276-quatro-decadas-de-desmatamento/
[11] Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia https://pt.wikipedia.org/wiki/Programa_de_Polos_Agropecu%C3%A1rios_e_Agrominerais_da_Amaz%C3%B4nia
[12] História da Degradação da Mata Atlântica – A SOS Mata Atlântica oferece dados e análises sobre a devastação da Mata Atlântica ao longo das últimas décadas, incluindo os anos 1980 e 1990. https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2024/01/bioma-mais-devastado-mata-atlantica-luta-para-manter-biodiversidade
[13] Rodovia Transamazônica https://pt.wikipedia.org/wiki/Rodovia_Transamaz%C3%B4nica
[14] BR-163 https://pt.wikipedia.org/wiki/BR-163
[15] Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO92) https://pt.wikipedia.org/wiki/Confer%C3%AAncia_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidas_sobre_Meio_Ambiente_e_Desenvolvimento
[16] Impactos ambientais em torno dos recursos hídricos no assentamento P.A. Vila Boa https://monografias.brasilescola.uol.com.br/geografia/impactos-ambientais-em-torno-dos-recursos-hidricos-no-assentamento-p-a-vila-boa.htm
[17] A água no Brasil: da abundância à escassez – Agência Brasil https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-10/agua-no-brasil-da-abundancia-escassez

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