Reciclagem por quem faz #3: No mês das Mulheres, conheça a História de Mara, uma mulher líder das catadoras e catadores

Luciana Figueras é Advogada, Cientista Política e Colunista do editorial AMBIENTAL MERCANTIL RESÍDUOS E RECICLAGEM
Luciana Figueras é Advogada, Cientista Política e Colunista do editorial AMBIENTAL MERCANTIL RESÍDUOS E RECICLAGEM

Imagem: Divulgação #3 |  Por Luciana Figueras, que é Advogada e Cientista Política, colunista do editorial AMBIENTAL MERCANTIL RESÍDUOS E RECICLAGEM

  • O mês de março é conhecido por celebrar o Dia Internacional da Mulher. Por este motivo, Luciana Figueras entrevistou Mara Lucia Sobral Santos, liderança feminina das catadoras e catadores no universo da reciclagem.

Março de 2023 – Nesse mês das mulheres quis trazer um artigo diferente, pois acredito que a acima das celebrações estão os exemplos e histórias de vida que nos servem de inspiração. Quero compartilhar com vocês a um pouco da luta de Mara Lucia Sobral Santos, 50 anos, mãe de 26 filhos, todos gerados por seu amor e biologicamente de outras mães e de pais.

Mara é uma grande liderança no Universo das catadoras e catadores, mãe solo, mulher preta e filha de Baianos.

Sua mãe veio da Bahia para trabalhar em casa de família em São Paulo, onde sofreu violência doméstica e abusos dos seus patrões, após já ter sido violentada por seus próprios maridos. Após muito sofrimento e abusos, a sua mãe se suicidou quando a menina Mara tinha somente 9 anos e, por ter ficado sozinha com suas irmãs, foi levada por uma assistente social que as separou.

A História de Mara não foi diferente da história de sua mãe, pois também foi violentada por tios, avô e por seu padrasto. Após ter sido levada para o Abrigo, Mara acabou fugindo e foi viver nas ruas.

Nas ruas ela catava, pois foi o que a mãe ensinou, pois sua mãe catava na rua e na feira.

Neste momento Mara fez um registro sobre a característica dos resíduos no passado, quando não havia desperdício: não se catava para comer como nos dias de hoje, era do desperdício na qual vivemos. Não existia plástico. Se catava mais vidro e ferro.

Mara lembra que sempre viveu da catação e que a periferia sempre “sangrou nesta direção”, sendo um lugar de pobres e pretos.

Entre os 16 e 18 anos, Mara saiu das Ruas e foi para morar na favela no Grajaú, Zona Sul de São Paulo. Relembra que nunca suportou a favela suja e acordava cedo para organizar, limpar e manter a “quebrada limpa”. Desta forma Mara foi se tornando uma liderança para os outros moradores.

Um dia Mara foi chamada para socorrer uma mulher que estava tendo um surto psicótico em um dos barracos, e a mesma acabou matando o marido. Nesta tragédia, encontrou a pequena Sheila, que ficou sozinha após sua mãe doente ter sido levada presa (por ter matado o marido e pai de Sheila).

A menina Sheila acabou por despertar a maternidade em Mara, que correu atrás para construir um barraco, pois a criança não podia dormir ao relento, e também foi buscar um emprego para dar o que comer para Sheila.

Um dia, “Maxadão“, uma amiga sua, comentou que estava tendo um movimento de pessoas se reunindo em cooperativas. Ela foi até lá e na primeira reunião, ela se apaixonou pelo movimento. Ela viu que dentro da cooperativa teria a possibilidade de ser mãe, ter liderança e criar sua filha Sheila.

A partir de então, passou a ser parte do movimento da Tereza da Viva Bem, umas das primeiras cooperativas do Brasil.

Mara relata sobre a remuneração entre “a mão de obra das mulheres pretas”, que estão dentro das cooperativas, com “a mão de obra prestada aos municípios”, que não fazem a contratação devida.

Para Mara dia 08 de março é dia de luta e não de celebração. Mara reafirma que a mulheres catadoras não querem rosas no 08, querem ser remuneradas pelos serviços prestados.

Ela diz que a sociedade continua “queimando a renda” das catadoras e catadores, da mesma forma que os catadores morreram queimados no passado. Mara completa:

“Até quando as mulheres da catação irão seguir prestando serviço análogo a escravidão?”

Mara faz um alerta para necessidade e obrigação dos Municípios, de ter de pagar pelos serviços prestados pelas cooperativas de catadores de reciclagem, pois somente desta forma, catadoras e catadores não serão privados de seus direitos e terão acesso a educação e a saúde. Mara diz ainda que as mulheres continuam sendo vítimas de violências domésticas, pois na realidade, tem seus Direitos negados.

“Apesar das dificuldades, a vida das mulheres catadoras também é cheia de glórias, pois elas buscam e acham beleza na essência da vida, mesmo que na prática ainda não sejam valorizadas e tenham seus direitos negados”, completa Mara.

No mês da Consciência Negra em 2022, Mara Lucia Sobral Santos, presidente da Cooperativa Tereza da Viva Bem recebeu a medalha Anchieta pela atuação a favor dos direitos humanos e seus feitos. O evento aconteceu na câmara de São Paulo contando com grandes referências das artes e da luta pelo meio ambiente.

Foto: Bem do Planeta – Instagram
Foto: Bem do Planeta – Instagram

Sobre a colunista

Luciana Figueras é Advogada especialista em Gestão Executiva em Meio Ambiente pela COPPE/UFRJ e Cientista Política. Atuante em questões de Direito Ambiental nas esferas administrativa e judicial, especialmente de forma preventiva, visando mitigar passivos e contingências de natureza ambiental. Consultora especializada em suporte de mandato parlamentar e atuação em pautas legislativas relacionadas com a Agenda Urbana Nacional. Atualmente é Diretora de Relações Institucionais Governamentais da CONATREC e Presidente do Instituto Agenda Urbana BrasilPerfil no Linkedin  Sites:
https://www.conatrec.coop.br |  https://www.iaub.org

Luciana Figueras é colunista e colaboradora do editorial AMBIENTAL MERCANTIL RESÍDUOS E RECICLAGEM. Através da sua observação pessoal, escreve periodicamente sobre o que acontece nos setores de gestão de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) e Reciclagem. Todas as publicações futuras de Luciana Figueras podem ser acessadas neste link exclusivo:

Informamos que os conteúdos publicados pelos nossos colunistas são observações e reflexões pessoais e independentes, através das suas opiniões e experiências, e por isso, são de responsabilidade dos mesmos; não refletindo, necessariamente, a opinião da redação da Ambiental Mercantil.

Crédito:
AMBIENTAL MERCANTIL RESÍDUOS E RECICLAGEM | Por Luciana Figueras, colunista e colaboradora

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