População do entorno de áreas de extração mineral é peça-chave em processo de reflorestamento

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Especialistas falam sobre desafios no reflorestamento de áreas de mineração. Crédito: Reprodução/Web
Especialistas falam sobre desafios no reflorestamento de áreas de mineração. Crédito: Reprodução/Web

Imagem: Divulgação | Tese é defendida pelo professor da Universidade Federal de Viçosa (MG) e foi debatida no webinar “Reflorestamento na mineração: atual cenário e as abordagens inovadoras”, organizado pela startup Morfo

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Junho de 2023 – A recuperação florestal em áreas de mineração reúne desafios específicos inerentes ao próprio setor, como a dimensão e a localização das áreas a serem regeneradas e a modificação estrutural do solo causada pela extração mineral.

“A restauração ecológica dentro dessa atividade é extremamente complexa e não pode ser simplificada à ideia de plantar árvores: os planos devem sempre envolver a comunidade, definir a técnica mais adequada dentro de uma infinidade de opções, fazer uma seleção cuidadosa das espécies e um monitoramento consistente do desenvolvimento da vegetação; essa não é uma receita, porque isso não existe, mas são pontos básicos que devem ser adaptados para cada realidade”, pondera Igor Assis, especialista em solos e nutrição de plantas e professor na Universidade Federal de Viçosa.

Ele participou na última quinta-feira, 15 de junho, do webinar “Reflorestamento na mineração: atual cenário e as abordagens inovadoras”, mediado pelo jornalista Danilo Fariello e que contou também com a participação de Thaiza Bissacot, gerente regional de meio ambiente da Alcoa, Diego Balestrin, doutor em Ciência Florestal e especialista em recuperação de áreas degradadas da Vale e Grégory Maitre, CEO da Morfo no Brasil, startup de reflorestamento em larga escala com uso de inteligência artificial aplicada à engenharia florestal.

Um dos desafios apontados por Assis durante o debate é que a restauração, muitas vezes, demanda não só a inclusão de vegetação, mas principalmente a retirada dela. Para isso, é necessário distinguir entre espécies nativas – que são originárias da região analisada, exóticas – que são originárias de outros ambientes mas trazem vantagens para o processo, e invasoras – que, além de serem de outro ambiente, dificultam ou não permitem que as espécies nativas se desenvolvam, e fazer um manejo cuidadoso.

“Antes, para atestar o sucesso do reflorestamento, nós contávamos somente com fotos que mostravam um grande tapete verde que, muitas vezes, podia ser de monocultura ou mesmo de plantas invasoras”, exemplifica Assis.

Grégory Maitre concorda e destaca a importância deste acompanhamento em todo o processo, desde o diagnóstico anterior ao plantio para identificar as condições do solo, passando pelo teste de sementes em laboratório para atestar a eficácia naquela área, e chegando no controle, que é feito por muitos anos após a semeadura ou fixação de mudas.

“O uso da tecnologia permite um olhar diferente para momentos distintos do processo, além de permitir observar não só a taxa de cobertura vegetal mas também a biodiversidade presente e a identificação de eventuais problemas para uma reação muito rápida”, diz Grégory.

Integração das comunidades locais ao processo de reflorestamento

Todos os participantes do encontro são unânimes em afirmar que, além de todo o estudo técnico aplicado, a participação da comunidade do entorno é essencial para o sucesso de qualquer plano de reflorestamento.

Thaíza Bissacot conta que quando a capacitação para a geração de renda através da manutenção da área ocorre em paralelo à restauração, os bons resultados emergem junto com o entendimento da importância da preservação. E a educação ambiental é desenvolvida durante a própria atividade de reflorestamento, que é também uma fonte de renda através da venda de mudas e sementes.

“As comunidades têm um conhecimento fantástico sobre onde estão as matrizes, como buscar sementes e o que de fato deve ser mantido em um banco para reabilitar a vegetação”, conta.

Sementes coletadas na região sul da Bahia. Foto: Pedro Abreu/Divulgação/Morfo

A aquisição de sementes é vista como um dos principais gargalos dentro dos projetos porque o material precisa de uma variabilidade genética dentro da mesma espécie para manter a diversidade.

“Se eu recuperar uma grande área com sementes oriundas de apenas duas árvores, por exemplo, eu vou reduzir essa variabilidade e posso ter problemas com essa espécie a longo prazo”, explica Igor Assis.

Diego Balestrin também aponta que a viabilidade das sementes, seu potencial de germinação e fixação no solo, deve ser avaliada. “São sempre várias espécies com características muito diferentes e nossa preocupação é para que uma dificuldade no estabelecimento das espécies não seja causada por um problema que está na base do projeto”, diz.

Fazer com que o reconhecimento dos saberes da comunidade na busca por matrizes distintas e sementes viáveis seja transformado em fonte de renda é uma forma de suprir esse gargalo e pode ser feito com uma proximidade maior entre compradores e comunidade.

Para Grégory Maitre, o desafio é fazer com que essa geração de renda tenha regularidade para que nem os projetos fiquem sem fornecimento, nem os coletores de sementes abandonem a atividade. “O Crispin Barbosa de Jesus, coletor que conheci em um dos nossos projetos da Bahia, tem uma fala muito significativa: se ele vê uma semente na natureza e não tem para quem vender, ele deixa lá para ou virar uma nova árvore, ou virar alimento”, conta.

Para Maitre, promover o impacto social dando ferramentas para que a coleta seja combinada com as atividades cotidianas e estabelecendo uma continuidade de recursos são as chaves para a formação de uma rede de coletores.

Tecnologia e planejamento para reduzir custos e reforçar a segurança

Se o projeto de reflorestamento não está restrito à plantação de árvores, há muito mais a ser avaliado além da aquisição de sementes para a produção de mudas ou semeadura direta.

Para Igor Assis, o planejamento começa no reconhecimento do Technossolo, como é chamado esse novo substrato que surge após a extração. “A própria atividade mineradora é gigante e uma exploração de bauxita é completamente diferente de uma de ferro, que é completamente diferente de uma de ouro; de qualquer maneira, o solo que existia antes não será o mesmo e esse reconhecimento é que vai ditar quais serão os preparos necessários e quais as espécies que serão suportadas nesse ambiente, que não serão necessariamente as mesmas que estavam lá antes, embora ainda possam ser do mesmo bioma”, explica.

De acordo com Thaíza Bissacot, essa modificação da paisagem levando em consideração a qualidade do substrato e o bioma em que está inserido também pode representar um resgate significativo da flora nativa. Isso porque é comum a área a ser explorada já estar coberta de uma vegetação antropizada, ou seja, modificada em função de outras atividades como a agricultura ou pecuária.

Drone dispersa sementes encapsuladas na região sul da Bahia. Foto: Pedro Abreu/Divulgação/Morfo

A partir da seleção das espécies fundamentada na análise da base, outra importante etapa do planejamento é a identificação da maneira mais eficiente da cobertura vegetal. A tecnologia da Morfo, por exemplo, usa sementes já germinadas dentro de uma cápsula nutritiva que substitui a adubação do solo dispersada por drones. Além da variedade das sementes, o processo calcula a proporção de cada espécie dentro dos projetos.

“A ideia é acelerar o processo em dois níveis: na cobertura de grandes áreas, já que um único drone pode cobrir 50 hectares por dia, e no tempo de preparação, já as mudas teriam que ser cultivadas pelo menos seis meses antes da fixação”, conta.

A combinação de redução de tempo no processo e o aumento de área abrangida permite a restauração em larga escala a um custo menor. Outro ponto que o uso de tecnologia permite é o alcance a áreas de difícil acesso. Diego Balestrin destaca que o setor de mineração trabalha em áreas em que o ideal é não contar com o fator humano, como regiões remotas ou com taludes, e está sempre desenvolvendo parcerias para reduzir o risco.

“Nosso objetivo é sempre buscar alternativas para lidar melhor com as restrições do ambiente, automatizando processos para uma restauração segura”, diz. 

Site oficial: https://pt-br.morfo.rest

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